
Central do Timão
·29. April 2025
CORI recomenda reprovação das contas de 2024 do Corinthians e aponta gestão temerária

Central do Timão
·29. April 2025
Nesta segunda-feira, 28, o Conselho de Orientação (CORI) e o Conselho Deliberativo (CD) do Corinthians se reuniram para deliberar sobre o balanço financeiro do exercício de 2024, o primeiro da gestão de Augusto Melo. Seguindo o entendimento do Conselho Fiscal, o CORI também recomendou, por ampla maioria, a reprovação das contas.
O parecer, aprovado com 16 votos favoráveis à rejeição e apenas um contrário, aponta uma série de irregularidades, omissões e problemas considerados graves, a ponto de caracterizar gestão temerária, com risco de responsabilização civil e penal dos dirigentes conforme a nova Lei Geral do Esporte.
Foto: Reprodução/Corinthians
Em sua decisão, o CORI afirmou que a reprovação das contas é necessária para preservar a integridade do Corinthians perante órgãos de controle, como o Profut, além de resguardar os próprios membros do Conselho Deliberativo de eventuais responsabilizações futuras. A votação do CD, iniciada às 19h, ainda está em andamento. No relatório encaminhado aos conselheiros, o órgão detalha os principais pontos que embasam a recomendação pela reprovação, entre eles:
Atrasos e falhas na entrega de documentos
O CORI criticou o atraso na entrega das demonstrações financeiras e do relatório dos auditores independentes, que só ocorreram dias antes da análise final, dificultando o trabalho de fiscalização. O órgão também destacou que as mudanças no formato das apresentações, como a ausência de comparativos entre valores orçados e realizados, dificultaram a análise do balanço.
Ausência de balancetes e falta de respostas
O Conselho também apontou a ausência de divulgação dos balancetes mensais, violando o estatuto social do clube, e a falta de resposta a diversos ofícios com pedidos de explicações e documentos. Um exemplo é a ausência de faturas de cartão de crédito corporativo, já solicitadas pelo órgão na análise semestral do ano passado.
“Como exemplo, citamos falta de apresentação das faturas de cartão de crédito que somaram inicialmente mais de R$ 2,8 milhões até junho de 2024 e posteriormente R$ 4,8 milhões, com divergências não discriminadas até os dias atuais”, diz trecho do documento.
Ausência de revisão orçamentária
De acordo com o colegiado, a ausência de revisão orçamentária não apenas compromete as análises de direcionamento do clube, como também configura infração ao artigo 120, parágrafo único, do estatuto do Corinthians.
Aumento do passivo total do clube em R$ 829 milhões
Segundo o Cori, o passivo total do clube cresceu R$ 829 milhões em relação a 2023, número considerado alarmante. “Constatamos o aumento do total do passivo em R$ 829 milhões, comparado ao exercício de 2023 número de grande relevância em quaisquer comparações percentuais e mesmo comparado com aumento total do Ativo, o Passivo cresceu mais de R$ 300 milhões”, pontuou o órgão.
Divergências contábeis e contratações irregulares
Também foram relatadas divergências entre saldos de controle gerencial e os registros contábeis, contratações sem contratos formais — como o caso da empresa Workserv, que recebe mais de R$ 346 mil mensais — e o descumprimento de recomendações do compliance interno, ignorando alertas de risco.
Neo Química Arena e campanha Doe Arena Corinthians
A ausência de consolidação contábil entre o clube e a Neo Química Arena foi duramente criticada pelo CORI. Segundo o documento, a não divulgação das demonstrações de forma consolidada está em desconformidade com o CPC 36 e impede a adequada visualização dos efeitos numéricos resultantes dessa consolidação, que podem envolver aspectos de grande relevância.
Além disso, os valores arrecadados por torcedores para a quitação da Arena foram contabilizados como receitas do clube, prática considerada inadequada e já alertada pelo CORI em dezembro, antes da aprovação da previsão orçamentária pelo Conselho Deliberativo. Na época, o então diretor Pedro Silveira havia concordado em excluir a campanha de arrecadação do orçamento. No entanto, os números voltaram a aparecer no balanço financeiro posteriormente entregue aos órgãos de fiscalização.
Contrato de Memphis Depay e patrocínios questionáveis
O CORI também destacou a falta de apresentação do contrato do jogador Memphis Depay e a ausência de providências legais em casos envolvendo patrocinadores como PixBet e VaideBet. A saída da PixBet, por exemplo, gerou uma multa de R$ 40 milhões, além de R$ 4 milhões em honorários advocatícios, sem contestação judicial.
“Ainda no sentido deste tipo de patrocínio, no caso da VaideBet não nos foi devidamente explicado o motivo de nenhuma medida judicial ter sido tomada até a presente data”, afirmou o órgão. Vale ressaltar que o presidente Augusto Melo é alvo de investigação no inquérito que apura o caso.
Uso não esclarecido de recursos
Outro ponto salientado foi a ausência de prestação de contas sobre os R$ 150 milhões captados junto à XP Investimentos, com garantia de receitas futuras da Liga Forte União (LFU). O não esclarecimento sobre o uso desses recursos, segundo o órgão, comprometeu ainda mais a transparência da gestão.
Descumprimento do PROFUT e riscos à regularidade fiscal
O déficit financeiro de 19,4% do clube em 2024, muito próximo do limite de 20% estabelecido pela Lei 13.155/15 (Profut), acendeu alerta máximo no CORI.
“Ainda em relação ao PROFUT alertamos que nos termos do art. 4º, inciso V, alínea “b” da lei 13.155/15 para que a entidade se mantenha no PROFUT é exigida a redução do déficit para 5% da sua receita bruta apurada no ano anterior, no entanto, tal regra legal foi descumprida no exercício de 2024 tendo em vista a prestação de déficit face a superávit dos exercícios anteriores”, destacou o órgão.
“Esses números demonstram que o controle de despesas ou de endividamento não foi uma preocupação prioritária da Diretoria do clube, despesas financeiras elevadas com aumento de mais de R$ 120 milhões bem como despesas operacionais com futebol com aumento de mais de R$ 80 milhões”, completou.
Ajustes Gerenciais
Em relação às alegações da diretoria sobre possíveis contingências herdadas de gestões anteriores, que somam R$ 191,2 milhões, o CORI destacou que não foram apresentados documentos comprobatórios, como composições de saldo, extratos de órgãos reguladores, cartas de circularização de advogados ou controles de auditoria, apesar de tais informações terem sido solicitadas em reuniões e por ofício até o dia 24 de abril.
“A não entrega das cartas de advogados contendo a classificação dos processos com probabilidade de perda como provável, possível ou remota dos exercícios de 2023 e 2024 nos impede de realizar comparativos, orientações ou até mesmo conferência da alegada possibilidade de erro de classificação no exercício anterior.”
Conclusão: gestão temerária e recomendação ao Ministério Público
Com base nesses apontamentos, o CORI recomendou que o relatório seja enviado ao Ministério Público para apuração de responsabilidades, citando artigos da nova Lei Geral do Esporte que tratam de gestão irregular e temerária, e recomendou a reprovação das contas ao Conselho Deliberativo do clube.
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