“Martín Anselmi é um treinador jovem, tem ideias interessantes” | OneFootball

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·20 May 2025

“Martín Anselmi é um treinador jovem, tem ideias interessantes”

Article image:“Martín Anselmi é um treinador jovem, tem ideias interessantes”

Ricardo Pereira, treinador de guarda-redes, abandonou uma carreira segura como educador e coordenador pedagógico para se lançar na incerteza do futebol internacional, numa trajetória repleta de coragem, determinação e amor pela modalidade.

Atualmente a trabalhar no Al-Ain, nos Emirados Árabes Unidos, este português de 51 anos teve um percurso único e desafiador, com experiências em sete países, após decidir, em idade adulta, alterar radicalmente a sua vida.


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“Despedi-me dois dias após o nascimento da minha filha. Tinha uma vida estável, mas percebi que não conseguia viver longe do futebol”, recorda em entrevista à agência Lusa, o ex-educador de infância.

O seu amor pela baliza despertou a sua paixão, mas a transição para o futebol profissional trouxe desafios significativos. Aos 37 anos, e com duas filhas, abandonou a segurança do meio académico para um estágio não remunerado no Benfica.

Desde então, traçou um percurso ascendente que o levou à Arábia Saudita, Polónia, Inglaterra, Bélgica, Equador, Espanha e, mais recentemente, aos Emirados Árabes Unidos.

“Durante os cursos no Algarve, cheguei a dormir em tendas. Em outras ocasiões, pegava na mochila e ia estagiar no estrangeiro”, relata com naturalidade. A sua resiliência, como admite, é um legado dos pais, que eram pescadores e que lhe incutiram desde cedo os valores do esforço, da humildade e da dedicação.

Hoje, com um reconhecimento internacional consolidado, após passagens por clubes como Légia Varsóvia, Nottingham Forest, Standard Liège e Valladolid, Ricardo Pereira acredita que o seu sucesso se deve à capacidade de equilibrar a adaptação cultural com a manutenção da sua identidade técnica.

“Cada país tem os seus códigos, mas o foco é sempre no ser humano. Procurei respeitar as raízes culturais de cada local, adaptar os treinos e estabelecer relações de confiança”, enfatiza.

Essa filosofia levou-o a trabalhar com treinadores como Ricardo Sá Pinto, Renato Paiva e Martín Anselmi. Do primeiro, guarda recordações por ter aberto as portas do futebol profissional.

“Com ele, aprendi a viver o jogo com intensidade, a máxima exigência e um compromisso absoluto com a organização, a estratégia e a paixão. Foi o primeiro a ter fé em mim”, conta.

Em relação ao treinador do Botafogo, com quem colaborou no Independiente del Valle, destaca as “perspetivas interessantes em termos de organização defensiva, atenção ao detalhe e metodologia”.

Com o atual treinador do FC Porto, com quem conquistou uma Taça Sul-Americana e uma Supertaça Sul-Americana no Independiente del Valle, Ricardo Pereira recorda momentos que o marcaram.

“O Martín Anselmi é um treinador jovem e ambicioso, com quem vivi momentos felizes e conquistas significativas. Em tom de brincadeira, costumo dizer que todas as taças que ele conquistou como treinador principal… foram ao lado de um treinador de guarda-redes bem português. Tem ideias inovadoras e está a trabalhar para as implementar no seu novo desafio no futebol português, que tem treinadores bem preparados em termos de organização”, explicou.

O foco do seu trabalho está numa abordagem moderna ao papel do guarda-redes.

“Hoje, defender não é suficiente. É necessário decidir, interpretar e antecipar. O guarda-redes moderno é mais inteligente e mais corajoso. Passámos de treinos de voos e quedas para a criação de contextos que exigem leitura e tomada de decisão”, esclarece, sublinhando a importância dos treinadores na evolução desta posição. “Já não treinamos apenas o corpo. Treinamos a mente para lidar com o caos do jogo.”

Em relação à realidade em Portugal, Ricardo Pereira considera que a seleção está bem servida na posição de guarda-redes, com nomes como Diogo Costa, Rui Silva e José Sá, mas alerta para um problema estrutural.

“Há qualidade nas camadas jovens, mas é necessário dar mais minutos. É urgente que jogadores como Francisco Silva, Diego Callai ou Samuel Soares tenham experiências competitivas reais. Precisamos de criar contextos que os preparem e exponham. Isso é uma responsabilidade dos treinadores, mas também de quem toma as decisões”, frisou.

Apesar de estar fora do país há vários anos, expressa o desejo de voltar, desde que com um projeto bem definido. “Voltar? Sim, com um projeto que me permita desenvolver os guarda-redes da equipa principal e preparar os que estão a chegar. Gostava de ajudar os treinadores da formação a traçar percursos de evolução. Em suma, trazer para Portugal o que tenho aprendido no estrangeiro”, confessou.

A vida no estrangeiro, com todos os seus desafios, trouxe também sacrifícios, especialmente em termos familiares.

“Nunca estivemos realmente afastados. A minha família está presente em todas as conquistas. Se ganhei títulos, o meu maior troféu é o amor que resiste à distância. Isso vale mais do que qualquer vitória”, garantiu.

Entre os momentos mais significativos da sua carreira, destaca a sua passagem pelo Valladolid, onde teve um papel importante na contratação do guarda-redes brasileiro John Victor, que na altura enfrentava críticas.

“Hoje, ele é campeão da Libertadores e do Brasileirão. Sempre acreditei nele. Nem sempre as decisões são populares, mas o tempo tende a dar razão àqueles que agem com critério. Fizemos boas exibições e o John foi um profissional exemplar”, referiu.

Sobre os jogadores que mais admira na sua posição, Ricardo não se limita a um único nome.

“Neuer, Ederson, Alisson, Ter Stegen, Sommer… Todos eles interpretam o jogo de uma forma holística. Jogam para a equipa. São o que eu chamo de ‘jogadores de equipa que, por acaso, jogam com as mãos’”, brincou.

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