Mundo Rubro Negro
·1 de noviembre de 2024
Mundo Rubro Negro
·1 de noviembre de 2024
É muito difícil escrever sobre algo, quando não temos lugar de fala. A gente imagina, a gente tenta entender, sentir, ter empatia. Mas não é o mesmo daquele que sofre na pele constantemente.
Tentar compreender o que significa nascer preto em São Gonçalo, só mesmo aqueles que nasceram pretos em São Gonçalo que tem a dimensão dessa realidade.
Mas eu posso falar sobre os franceses, já que o Ballon d’or foi em Paris. Minha cidade natal. Posso falar sobre europeus. Tudo isso conheço muito bem. Vivenciei muito bem. Estudei muito bem.
E concordo com o Vini: eles não estão preparados. Pois eles não entendem. Na verdade, eles não tem a menor noção. E vai demorar para mudar o cenário.
Por coincidência, eu estava em Paris. Meus pais moram bem perto do local da cerimonia , preparada com dias de antecedência, desviando rotas de ônibus e reforçando a segurança dos arredores.
Li praticamente todos os jornais e veículos q tratavam do assunto.
Pude constatar com pesar, porém sem surpresa, que até um jornal bem antenado com as questões de inclusão e diversidade, como Libération, não entendeu absolutamente nada do que aconteceu com o Vini.
Mas tipo zero. Rien de rien.
Nossa cria é um “Mauvais perdant”, mau perdedor. Sério Libé?
Nenhuma análise aprofundada, nenhuma tentativa de pensar sobre o assunto. De ir além.
É muito estranho.
Zero reflexão sobre o racismo subjacente.
Zero reflexão sobre o garoto que ousou desafiar o preconceito e as injúrias, consideradas por muitos como normais e fazendo parte do mundo futebolístico.
Zero reflexão sobre o que é bom e mau comportamento em campo.
Zero reflexão sobre o que é ser um exemplo para o mundo.
Rodri é exemplo do que? Não se irrita? Não contesta o árbitro? É bonzinho, quietinho? Não tem redes sociais? Não se manifesta?
|Foto: Omar Vega/Getty Images
Vini baila, se irrita, questiona, contesta. Mas acima de tudo, Vini luta contra o racismo, o preconceito.
Existe algo mais valioso?
Vini tem que se comportar melhor, se quiser receber o Ballon d’or?
Ou seja, abaixar a cabeça, apenas jogar futebol, e fingir que não ouviu injúrias racistas.
E acima de tudo, nunca contestar os poderosos do futebol.
Portanto Vini, esquece. Esse prêmio não significa nada, se tiver que aceitar o mundo como ele é, para consegui-lo.
Esquece esse balão de ouro, você é nossa cria, nosso menino de ouro. É isso que importa. A torcida do Flamengo te reverencia, te ama, te respeita, te entende.
Continue sendo você.
Esquece eles.
Esquece o pseudo ganhador que riu e cantou “tchau” para você.
E, parafraseando Brandi Carlile (The Joke ), não deixe que eles roubem sua alegria.
Não deixa eles te chutarem na cara para te chamar de fraco, pois a verdade é que eles odeiam o jeito que você brilha.
Deixe-os rir enquanto podem.
Fui ao cinema, vi como termina.
Um dia, lá na frente, a piada serão eles…
Marion Konczyk Kaplan é conselheira do Clube de Regatas do Flamengo e presidente da Bancada Feminina do Conselho Deliberativo. Mestre em História pela Sorbonne Paris. Siga: @marionk72
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