
Central do Timão
·17 mai 2025
Augusto Melo descarta renúncia; advogado detalha defesa e critica votação do impeachment por VaideBet

Central do Timão
·17 mai 2025
Na tarde desta sexta-feira, 16, o Corinthians organizou uma entrevista coletiva para apresentar quatro diretores estatutários da gestão Augusto Melo. O presidente alvinegro também esteve no evento, realizado na Neo Química Arena, onde aproveitou para fazer uma defesa de seu mandato e responder perguntas sobre o caso VaideBet, acompanhado de seu advogado Ricardo Cury.
Cury e Melo falaram sobre diversos assuntos, desde a participação do mandatário corinthiano na negociação com a casa de apostas e sua relação com a Rede Social Media Design, apontada pela gestão como intermediária do acordo, até detalhes do inquérito policial e da postura que será adotada diante da iminente votação do impeachment do presidente, marcada para dia 26 no Conselho Deliberativo.
Ricardo Cury e Augusto Melo (Foto: Reprodução/YouTube)
Elogio à polícia
O advogado do presidente elogiou o trabalho feito pela polícia ao rastrear o caminho do dinheiro desviado do Corinthians, após o pagamento de R$ 1,4 milhão à Rede Social Media na forma de comissão pelo negócio, passando por diversas empresas fantasma até chegar à UJ Football Talent, suspeita de envolvimento com o PCC – conforme noticiado pela Central do Timão há dois dias.
“Um trabalho muito bem feito pela polícia. Muito comum nesse tipo de situação. Eles seguiram o dinheiro e chegaram no dinheiro, aparentemente. Achamos positivo que apareceram novas pessoas, novos nomes, que ainda não foram ouvidos no inquérito. Temos a dúvida se a investigação vai seguir, ou se o delegado vai encerrar agora o inquérito. No nosso modo de ver, é uma oportunidade, não só para a gente investigar o Corinthians como ponto de partida, mas eventualmente investigar todo o futebol brasileiro e eventual relação do crime organizado com o futebol brasileiro.”
Ricardo Cury esclareceu que nenhum destes “novos nomes” tem relação direta com a gestão alvinegra, defendendo que as autoridades ouçam os representantes da UJ Football Talent para que se “entenda o fluxo” e o motivo pelo qual cerca de R$ 1,074 milhão do total pago pelo Corinthians na forma de comissão foi desviado até a empresa.
Defesas e “traições”
Augusto Melo defendeu os ex-companheiros de gestão Sérgio Moura e Marcelo Mariano, afirmando que não os enxerga como traidores. “Não me sinto traído ainda, porque não tenho nada comprovado. Pelo menos das pessoas que eu coloquei. (…) O Sérgio foi um grande amigo que eu tenho uma consideração enorme, foi um cara que me ajudou numa campanha vencedora e revolucionou o marketing do Corinthians. E o Marcelo Mariano é sócio do clube, conselheiro e sempre estamos juntos, normal. Até aqui na Arena”, disse.
No entanto, o presidente tem outra visão sobre outras pessoas que já foram ligados à gestão. Ele citou especificamente dois nomes como de pessoas que o teriam traído, na sua visão, ao votarem pela rejeição das contas de 2024 do Corinthians: o ex-diretor financeiro Rozallah Santoro e a ex-diretora social Suzy Miranda.
“Nosso ex-diretor financeiro é o cara que mais gastou no primeiro semestre (de 2024) e reprovou sua própria conta. Você acha que eu vou comprar o jogador, vou gastar dinheiro num atleta, se o meu diretor financeiro fala que não pois não temos dinheiro? (Também) É inadmissível você ter uma diretora social, onde tem que trazer receita para o clube, que eu confiei, e reprova suas próprias contas. É complicado.”
Nota da redação: Vale lembrar que, em entrevista recente ao Deu Zebra Cast, disponível no YouTube do canal, Rozallah afirmou que, quando estava no cargo, tinha abertura limitada para alertar a diretoria sobre gastos excessivos no futebol, e revelou qual foi o plano acordado para financiar as contratações do primeiro semestre, avalizado pela presidência:
“Existia uma consulta do futebol sobre quanto podia ser gasto, e a resposta era ‘nada’. Eu pedia, ‘me fala o que você quer gastar, e eu te falo como eu resolvo o problema’. E a resposta que vinha era ‘vou dar o meu jeito’. Eu dizia ‘não dê seu jeito, porque no seu jeito, o boleto chega aqui (financeiro)’. Financeiro sempre ‘bate cabeça’ com o futebol, é o cara que não te deixa gastar. Depois de muita discussão, combinamos que a primeira janela seria financiada com o próprio elenco: a venda do Moscardo e os valores a receber do Felipe Augusto e do Murillo.”
O último a assinar
Outro tema tratado foi o papel assumido pelo presidente alvinegro na negociação com a VaideBet. Augusto Melo se disse “surpreso” com as descobertas da polícia sobre o caminho do dinheiro, sustentando que “fez sua parte” e que foi o último a assinar o contrato, responsabilizando os outros departamentos do Corinthians pela análise dos termos do acordo com a VaideBet, incluindo a intermediária.
“Eu segui o meu trâmite. Eu sempre sou o primeiro a fazer uma proposta e sou o último a assinar, depois que passa rigorosamente por todos os setores competentes. Não cabe a mim investigar o intermediário, a empresa que está patrocinando. Se teve uma empresa que veio querendo nos patrocinar e de repente o compliance colocou uma ressalva, eu não corro esse risco. Nunca assumi nada sem o meu jurídico e meu compliance darem OK.”
O mandatário ainda alega que defendeu desde o início a investigação policial sobre o caso. “Eu fui o primeiro a falar (que) se alguém deve, que pague. Tem alguma coisa? Procure a polícia. Se vai explodir, exploda. Por isso que eu estou muito tranquilo com isso, da minha parte está tudo OK. Se alguém fez alguma coisa errada, que pague”, disse.
Nota da redação: Com relação ao compliance, vale lembrar que nos autos do processo ético-disciplinar que culminou no impeachment a que Augusto Melo responde no Conselho Deliberativo, há trocas de e-mails que demonstram que o contrato de patrocínio máster da VaideBet não passou pelo compliance do Corinthians, pois toda a análise documental e de background check foi feita pelo jurídico do clube, na pessoa do então diretor Yun Ki Lee.
Intermediação foi provada?
Perguntado sobre se a defesa conseguiu, no inquérito, comprovar documentalmente que a intermediação do acordo Corinthians-VaideBet foi de fato feita pela Rede Social Media, como defende o presidente, Ricardo Cury não respondeu diretamente, argumentando que o presidente alvinegro “não tem como saber de tudo” e “confiou na sua diretoria”.
“O presidente Augusto, antes da posse, tem uma reunião no hotel Tívoli para conhecer essa empresa que não conhecia, e não fica até o fim. Existiam outras empresas interessadas em celebrar esse negócio com Corinthians. O negócio foi fechado naquele dia, de maneira inacreditável. Depois tem a posse em janeiro e é óbvio que o presidente já queria começar a gestão com notícias boas, ainda mais essa (VaideBet). E o presidente determina que aquele negócio seguisse o fluxo e fosse elaborado o contrato. Saiu da alçada dele.”
Cury prosseguiu. “Administrar o Corinthians é como governar o Estado de São Paulo. O governador não sabe de tudo. O presidente do Corinthians não sabe de tudo. Não tem como. A mesa do presidente é abarrotada de documento para despachar, é impossível ler tudo. É para isso que você tem dirigente. (O contrato) Segue o fluxo e volta para ele assinar. Ele vai questionar o jurídico, o complaince, o marketing? O que ele questionou foi o valor da intermediação, porque chegou para ele que era 20%, ele reduziu para 7%”, afirmou.
Ele ainda citou o ex-diretor Marcelo Mariano em outro trecho da resposta, como o responsável pela notícia de que o acordo teria uma empresa intermediária: “O diretor administrativo falou que teve intermediação. Ele (Augusto) vai questionar que empresa que é essa? Ele não vai checar tudo. Ele confiou na direção toda, e confia até hoje. Ele nem conhecia o intermediário de relação pretérita.”
Nota da redação: Nos últimos meses, Augusto Melo apresentou pelo menos três versões sobre sua relação com Alex Cassundé, dono da intermediária Rede Social Media. Em maio de 2024, o presidente disse em entrevista com Benjamin Back, que viu o empresário “duas vezes na vida” e negociou com ele o percentual de comissão. Já em janeiro deste ano, ao Fantástico, Augusto disse que “nunca teve contato” com ele. Por sua vez, em depoimento à polícia no mês passado, o presidente sustentou que conheceu Cassundé em dezembro de 2023, sendo apresentado a ele no Parque São Jorge por Marcelo Mariano e Sérgio Moura.
“Não haverá indiciamento”
O advogado de Augusto Melo afirmou, com convicção, que o presidente alvinegro não será indiciado pela polícia no inquérito do caso VaideBet, sustentando que a postura do dirigente durante o escândalo comprova que não houve ação ou omissão que o responsabilize criminalmente de qualquer maneira. Ricardo Ciry explicou:
“Não há nenhuma ação ilegal do presidente Augusto e muito menos omissão indevida. Nós juntamos no inquérito uma série de documentos, que foram providências tomadas assim que saiu a matéria do Juca Kfouri. Várias coisas acontecem até a instauração do inquérito. Inúmeras providências do Corinthians foram tomadas com relação à Rede Social, à VaideBet, com relação a um aditivo da EY para investigar internamente o contrato – investigação interrompida por orientação do jurídico à época.”
Segundo o advogado, tais providências, que teriam sido citadas às autoridades, afastariam de Augusto a acusação de ter sido omisso. “E ação ilegal do presidente? Nenhuma. Esse contrato seguiu o fluxo que é normal dentro do Corinthians. Passou por todos os departamentos do Corinthians e da VaideBet. O último a assinar foi ele (Augusto), chegou já assinado por todo mundo. Inclusive pelo intermediário, que chegou a informação pra ele a época que tinha intermediação no negócio. Como é que vai responsabilizar criminalmente uma pessoa?”, questionou.
Cury ainda comentou a afirmação da VaideBet, feita à polícia durante o inquérito, de que o real intermediário da negociação foi outra empresa. Para ele, trata-se de estratégia jurídica para se proteger de um futuro processo do clube. “Já tem um litígio colocado. E esse conflito vai ganhar potência assim que terminar o inquérito policial. E a ação vai ser proposta contra a VaideBet. É por essa razão que ela menciona, um ano depois, que o intermediário desse negócio teria sido outro”, sugeriu.
Renúncia, jamais
Augusto Melo afirmou que “jamais” irá renunciar ao cargo de presidente. Na sua visão, sua postura ao negociar com a VaideBet foi a mesma de outros contratos, além de sempre ter defendido as investigações: “Primeiro, porque não tenho nada a ver com isso. Segundo, eu estou aqui em prol do Corinthians. Eu não preciso do Corinthians. Eu não vivo do Corinthians. Eu vivo para o Corinthians. Eu tenho os meus afazeres. Quantos patrocínios eu trouxe? Por que os outros não teve problema? E teve intermediário em um ou outro também, é um direito de mercado. Isso faz parte. Hoje é assim. É normal.”
O presidente corinthiano protestou contra o que chamou de “poder político” e “ganância” de grupos que querem “derrubá-lo” das funções, acusando estes grupos, os quais não nomeou, de influenciar os torcedores para se posicionarem contra a gestão. “Essa cúpula, que quer me derrubar, passa isso para o torcedor. E a gente está aqui para provar o contrário. Eu não tenho como fazer a cabeça dele (torcedor) lá fora, a não ser dessa forma aqui. Eles querem tomar o poder, falando mal do Corinthians, falando mal do presidente, manchando a minha família. Mas a gente está aqui, resistindo”, disse.
O dirigente desafiou, ainda, os opositores a disputarem as próximas eleições do Corinthians, por ora previstas para o final de 2026: “Faz o que eu fiz. O ‘patinho feio’ que ficava no fundão do Canindé, quase 800 pessoas que frequentam aquilo lá. Eu tenho um carisma muito grande, eles que me ajudaram muito a me eleger. Em geral eu estou com 90% de aprovação. Deus me colocou aqui, só Deus me tira. Se eu estou aqui é por um propósito. E eu tive a coragem de fazer essa reformulação. O Corinthians hoje é administrado profissionalmente.”
Augusto ainda observou, ainda, que torcedores rivais o cumprimentam, parabenizando-o pela gestão à frente do Corinthians. “Outro dia eu peguei o avião do lado de um santista, ele veio de lá aqui me elogiando”, afirmou, finalizando com um pedido de “voto de confiança” dos torcedores a quem chamou de “verdadeiros corinthianos”, que seriam, segundo ele, os que “viajam milhares de quilômetros e vibram e cantam torcendo pelo Corinthians”.
Votação do impeachment
Também foram feitas críticas, por parte de Ricardo Cury, à marcação da continuidade da sessão do Conselho Deliberativo que analisa o afastamento de Augusto Melo. Suspensa desde janeiro, a reunião foi agendada para o próximo dia 26, com a admissibilidade do pedido de impeachment já aprovada previamente pelos conselheiros.
“O inquérito está no fim. Pode acabar hoje. Por que chamar para o dia 26? Parece que tem um cálculo político aí, porque as contas acabaram de ser apreciadas. Por que esse atropelo? Politicamente, é óbvio que tem um cálculo político do outro lado. Está sendo feita a conta política (de que) esse é o momento, aparentemente, de maior fragilidade política da gestão, (e) ou a gente derruba o presidente Augusto agora ou não derruba nunca mais. Porque não vai vir o indiciamento, ele vai ficar muito forte. Precisamos derrubar agora.”
O defensor afirmou que questionamentos sobre o processo, impetrados na Justiça, seguem tramitando, após serem rejeitados na primeira instância e no Tribunal de Justiça, com um recurso extraordinário tendo sido encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF). Não foi negada a hipótese de se buscar, novamente, uma suspensão da reunião, assim como ocorreu nas anteriores, com sucesso em dezembro de 2024 e sem sucesso no mês seguinte.
“Todos os cenários estão no radar. Se vai acontecer alguma coisa, a última palavra é do cliente, é do presidente. (Eu defendo que) Alguém eleito democraticamente, e aqui foi eleito com 70% dos votos, só pode ser retirado do poder em situações muito extremas. Até agora não tem nada, nada.”
Por fim, Cury adiantou parte da estratégia de defesa a ser adotada diante dos conselheiros caso a reunião venha a acontecer dia 26. “O contrato rodou maravilhosamente bem, até a confusão que se inicia com a matéria do Juca Kfouri. Aí se deixa a polícia investigar. Mas parece que é só quando interessa. Quando não interessa, não, vamos tocar o processo de impeachment antes de concluir o inquérito. Isso é cálculo político. Se a reunião acontecer, essa vai ser a sustentação oral da defesa do presidente.”
Nota da redação: Importante recordar que o estatuto do Corinthians, no artigo 107, que define o rito do processo de impeachment, não vincula o andamento do mesmo a infrações penais ou investigações policiais, guiando-se, obrigatoriamente, apenas por possíveis infrações estatutárias dentre as elencadas no artigo 106 como passíveis de provocar a destituição do presidente e/ou seus vices.
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