O único dia em que Carvalhal jogou pelo FC Porto: «Tinha raça, nunca torcia» | OneFootball

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·7 mars 2025

O único dia em que Carvalhal jogou pelo FC Porto: «Tinha raça, nunca torcia»

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SC Braga e FC Porto. Carlos Carvalhal e Martín Anselmi. Duas equipas que ainda procuram estabilizar-se na Liga Portugal Betclic versão 2024/2025 (quarto e terceiro classificados, respetivamente), uma vez que os resultados têm oscilado durante as últimas semanas de competição.

Aos poucos, vamos conhecendo o trabalho do treinador argentino, as suas origens e as ideias implementadas pelos clubes por onde passou na carreira. Não podemos dizer o mesmo relativamente a Carvalhal, que conta com um longo passado nos bancos de suplentes portugueses e até como jogador: retirou-se em 1997/1998, após 12 jogos com a camisola do SC Espinho, na altura na II Liga.


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Antes disso, o antigo defesa central somou passagens por SC Braga, GD Chaves, Beira-Mar, Tirsense e... FC Porto!

É verdade caro leitor, o atual treinador dos bracarenses tem uma ligação aos azuis e brancos no curriculum vitae, pese embora a passagem fugaz no clube da Invicta, em 1988/1989. Já lá vão uns anos.

Aproveitámos este embate entre SC Braga e FC Porto, disputado na noite deste sábado, para puxar a fita atrás na história e relembrar esse curto capítulo na carreira de Carlos Carvalhal. Fomos ao encontro de dois antigos companheiros de equipa, Rui Manuel e Eduardo Luís, que dividiram o balneário portista com o defesa natural de Braga.

Embarque connosco nesta viagem ao passado.

Sempre a subir

Antes de passarmos diretamente para essa experiência na sua trajetória, é necessário relembrar as aventuras até 'pendurar as botas'. Após completar a formação no SC Braga, o ex-defesa central realizou a estreia pela equipa principal em 1983/1984, na altura com 18 anos - efetuou apenas três jogos ao serviço da equipa orientada por Quinito.

No ano seguinte, voltou a ser pouco utilizado (participou em cinco partidas) e decidiu dar um novo rumo à carreira ao assinar pelo GD Chaves, também na I Divisão. A experiência nos flavienses correu de feição - um dos mais utilizados -, fazendo com que os Guerreiros do Minho olhassem para o seu produto da formação com outro tipo de abordagem.

O regresso à sua cidade, esse, contou com capítulos bastante positivos, pois estreou-se a marcar a nível sénior e somou vários encontros com nota mais. Além disso, tornou-se numa das peças fundamentais para o SC Braga, suscitando o interesse de vários clubes.

O FC Porto, que tinha conquistado quatro troféus na temporada anterior (faltou apenas a Taça dos Campeões Europeus), foi quem 'ganhou a corrida' para obter os seus serviços e adquirir o passe para acrescentar mais uma opção a este conjunto.

Foi a segunda experiência fora de casa, depois de ter estado no GD Chaves. Um clube que lutava para ser campeão e que contava com grandes nomes do futebol português: Vítor Baia, Branco, Rabah Madjer, Fernando Gomes ou Domingos Paciência. Podíamos estar aqui durante mais alguns minutos para falarmos deste plantel com qualidade de nível mundial.

Além de Carlos Carvalhal, também Rui Manuel (antigo jogador do Portimonense) chegou à Invicta nessa mesma temporada para reforçar o conjunto azul e branco. «Lembro-me de entrar no balneário, olhar para aquela gente que tinha sido campeã do mundo e ficar um pouco assustado [risos]», começou por referir ao zerozero o médio que chegou a representar Portugal nas seleções jovens.

«Saí de Portimão para o Porto ainda menino. O Carvalhal, por seu turno, abandonou o SC Braga. Acaba por ser um pouco diferente, já tinha outro tipo de andamento. Eu fui de olhos tapados, digamos assim. Quando chegámos lá, estivemos com jogadores que tinham sido campeões do mundo e que possuíam outro tipo de estatuto. Domingos Paciência, Vítor Baia... Eram acarinhados de forma distinta», acrescentou o antigo jogador que também só esteve um ano no clube devido a lesões nos «adutores».

«Não era fácil jogar nas reservas quanto mais na equipa principal»

Ora, estes atletas também encontraram uma peça fundamental na equipa que chegou ao topo do futebol europeu: Eduardo Luís, titular na mítica final diante do Bayern Munchen, a 27 de maio de 1987. Um dos grandes nomes da história portista e que ajudou os dragões a escreverem uma página dourada na sua história. Nesse ano, porém, tudo mudou.

«Em 1988/1989, tivemos uma péssima época. Recordo-me que o Carvalhal veio nesse ano. Em outubro, fomos fazer um jogo à Maia para darmos o nome do estádio ao Dr. José Vieira de Carvalho. Efetuámos um encontro contra o Boavista e lesionei-me no joelho. A minha época e a passagem pelo FC Porto terminaram aí. Foi uma infelicidade. O Carvalhal também participou nesse jogo, entrou a meio.»

«Estive quatro meses a recuperar. Voltei e depois lesionei-me no mesmo joelho. Foi uma rotura do menisco. A temporada também acabou cedo porque aconteceu o Mundial Sub-20 em Riade, na Arábia Saudita. Depois, existiu a chamada 'limpeza de balneário', altura em que saíram muitos jogadores importantes», relembrou o central, que era uma das muitas opções que os três treinadores (Quinito, o interino Alfredo Murça e depois o regressado Artur Jorge) tinham para a defesa azul e branca.

«O FC Porto, na altura, tinha ido buscar o Kalombo N'Kongolo, o Dito e o Carlos Carvalhal. Ainda me tinha a mim, o Lima Pereira e o Geraldão, por exemplo. Era um lote de jogadores muito grande, principalmente a nível defensivo», acrescentou o antigo central, que pouco jogou nessa temporada devido a lesão, tal como explicado pelo próprio.

No entanto, isso não significou mais tempo de jogo para o jovem Carlos Carvalhal, na altura com 23 anos. «Ele não foi muito utilizado, daí a sua saída um ano depois. Veio para o FC Porto porque o Quinito, que começou a temporada, gostava muito dele. Tinham coincidido anteriormente», explicou Eduardo Luís, antes de dar a palavra a Rui Manuel, que também apontou a profundidade do plantel como o motivo principal para esse cenário.

«Se formos ver os centrais que o clube tinha nessa altura... Não era fácil jogar nas reservas quanto mais na equipa principal. Existiam encontros de reservas e era complicado termos tempo de jogo aí. No entanto, ele ainda fez uma carreira muito boa. Realizou várias partidas na I Divisão, há que enaltecer isso, uma vez que era difícil ter essa regularidade.»

Já utilizamos a expressão 'pouco tempo de utilização', mas, afinal, quantos jogos oficiais fez Carlos Carvalhal com a camisola do FC Porto?

Apenas um, a 31 de dezembro de 1988, num embate em casa do Sporting. Foi lançado aos 88 minutos juntamente com... Rui Manuel, para os lugares que pertenceram a Semedo e Rabah Madjer.

«Vi que ia ser treinador...»

«Era um central que estava ali sempre na raça, não torcia [risos]. Destacava-se por ser intenso, porém, sabia sair a jogar. Gostava de entregar a bola, não era só 'partir pedra' e trabalhar para o lado. Além disso, comandava e era líder, uma das suas principais caraterísticas. Agora nota-se. Como colega de balneário, era espetacular, mesmo para os mais novos», acrescentou Rui Manuel, convidado a descrever o central Carvalhal.

«O Carvalhal era empenhado e muito profissional, alguém que ajudava o próximo. Jogava maioritariamente a central, mas acho que também passou pela lateral direita. Não era exímio do ponto de vista técnico, porém, sabia ler bem o jogo, era impetuoso e viril. São as palavras que o encontro para descrever», sublinhou Eduardo Luís.

Apesar de terem coincidido apenas durante um ano, o gosto pelo treino já era evidente, algo que se concretizaria algum tempo findado. «Nutria muito interesse pelo fenómeno futebolístico e por isso é que tem tido um percurso ótimo no banco de suplentes. Tem nome, trabalhou muito e é muito estimulado pela atualidade. Neste momento, o SC Braga está consolidado numa posição firme entre os três grandes.»

«Quando nos cruzámos no FC Porto, vi que ia ser treinador. Sabia da ambição e conhecimento que já tinha adquirido. Notava-se pela forma de falar, de comunicar. Era aquilo que quereria um dia mais tarde na carreira. Dá-nos muito gozo perceber que conseguiu concretizar o seu sonho. Se calhar, ainda vai arrecadar muito mais, é o que desejamos», disse Rui Manuel.

«Sempre foi uma pessoa com a qual me identifiquei. Somos amigos e temos amigos em comum. Fico contente que esteja a fazer um bom trabalho no SC Braga. Gostava - dentro de dois ou três anos - de ver o clube a lutar para ser campeão e com o Carvalhal no banco de suplentes. Seria na cidade dele, no clube dele e na sua casa», referiu ainda.

Não sabemos o desfecho da partida deste sábado, porém, temos a certeza de um aspeto: os encontros de Carlos Carvalhal com o FC Porto são sempre especiais, tendo em conta que o técnico, atualmente com 59 anos, realizou uma partida com a camisola azul e branca vestida.

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