Fala Galo
·25 Maret 2025
117 anos de um sonho que nunca acaba e um grito que nunca cessa!

Fala Galo
·25 Maret 2025
Por: Thiago Florêncio
Todo gigante tem um começo, não é mesmo? O do Atlético nasceu no coração de Belo Horizonte, em 25 de março de 1908. Naquele coreto do Parque Municipal, um grupo de jovens sonhadores, entre ideias e expectativas, decidiram fundar algo maior que um clube de futebol — criaram uma identidade, um sentimento, uma religião.
Mas todo sonho precisa de um lar. E o Atlético encontrou o seu! Na pensão de Dona Alice Neves, mãe de Mário Neves, um dos fundadores. Foi lá, entre o cheiro de café e o calor das conversas, que o Glorioso ganhou corpo e alma.
A “mãe do Galo” não foi só uma anfitriã. Ela bordou à mão os primeiros escudos nas camisas, costurou o primeiro manto e hasteou a primeira bandeira. Mais do que isso, liderou a primeira torcida feminina do Brasil, mostrando que o amor pelo Atlético nunca teve gênero — teve coragem.
Um ano depois, em 1909, coube a Aníbal Machado, escritor e cronista que mais tarde ganharia reconhecimento na literatura brasileira, marcar o primeiro gol da história do clube. Era só o começo de uma saga que misturaria talento, suor e emoção.
Nos anos 1920 e 1930, o Atlético já não era só um clube; era uma força. O temido Trio Maldito — Mário de Castro, Said e Jairo — transformou gols em poesia e estádios em espetáculo. Cada finalização era um grito, cada vitória, um sorriso. E assim, o Galo seguiu, empilhando ídolos e lendas que jamais sairiam do coração do seu povo.
Vieram os anos dourados, e com eles, artilheiros que viraram mitos. Dadá Maravilha, com seu jeito irreverente, cravou 211 gols com a camisa alvinegra. “Não existe gol feio; feio é não fazer gol”, dizia. E ele fazia.
Reinaldo, o Rei, nosso maior artilheiro, foi arte em movimento. Mesmo perseguido e machucado, nunca perdeu o brilho — foi a cara do Atlético: resistente, teimoso e apaixonado.
Depois, Guilherme, com seu faro de gol; Marques, com sua leveza e alegria; e Diego Tardelli, que nasceu para o Galo e renasceu em 2013, na maior glória do clube até então. Falando nisso, como se esquecer do ano em que o Galo conquistou a Glória Eterna pela primeira vez? O ano do “Eu acredito” está eternizado em nossas memórias.
Contra o Tijuana, empate suado no primeiro jogo. Na segunda partida, um Independência lotado de mascarados, ecoando o “Caiu no Horto, tá morto!”. Novamente, um jogo pegado, duro. Nos acréscimos, o juiz apontou na marca do pênalti. O estádio inteiro se calou!
As câmeras da transmissão focaram em Victor, que debaixo das traves, encarava o destino. No olhar, serenidade; no coração, desatino. Riascos bateu rasteiro, e com o pé esquerdo, Victor se tornou o nosso São Victor, operando o primeiro de seus milagres.
Contra o Newell’s Old Boys, o Galo perdeu por 2 a 0 na Argentina. Na volta, o Independência pulsava. Os 2 a 0 vieram no tempo normal e no apagar das luzes, e nos pênaltis, veio o segundo milagre, desta vez com as mãos, São Victor do Horto nos colocou na final.
Na final contra o Olímpia, a história se repetiu. Derrota no jogo de ida, tensão na volta. Naquele dia, o Galo era mais do que 11 em campo — era uma nação de milhões. Nos pênaltis, Victor completou o “hat-trick dos milagres”, e a trave fez sua parte.
O Atlético era, enfim, Campeão da América. Mas não foi só um título. Foi a prova de que o impossível só existe até o apito final.
E sabe aquela história de que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar? Pois é, com o Galo, a história é diferente. Um ano após a Glória Eterna, surgiram viradas incríveis na Copa do Brasil de 2014, que ainda reverberam na memória do torcedor. Os gols de Edcarlos e Luan fizeram do Mineirão, um templo sagrado para o atleticano mais fervoroso.
Mas se o Galo é feito de raça e superação, seu presente tem nome e sobrenome: Hulk, vingador alvinegro. Ele chegou para ser mais um, desacreditado, mas virou protagonista. Gols, assistências e liderança. Um artilheiro que não apenas fez história — ele a reescreveu.
Depois de 50 anos de espera, o título brasileiro parecia uma promessa distante. Os mais velhos diziam que um dia ele voltaria, mas o tempo parecia brincar com o atleticano.
Até que chegou Hulk, desacreditado por muitos, mas determinado a provar seu valor. Em 2021, com gols, assistências e liderança, ele foi mais que um artilheiro — foi um protagonista.
Ao lado de um elenco que misturava raça, técnica e talento, Hulk liderou o Galo rumo ao bicampeonato brasileiro. Meio século depois, o grito preso na garganta finalmente ecoou por Belo Horizonte. As ruas se tingiram de preto e branco. Pais e filhos se abraçaram, lágrimas rolaram. Não era só futebol; era a redenção de uma fé que nunca se apagou.
E por fim, não podemos esquecer que grandes times se constroem dentro de campo, mas também no banco de reservas. E o Atlético teve gênios à beira do gramado. Técnicos que inspiraram uma nação.
Antes dele, nos anos 1960, Yustrich, era sinônimo de disciplina. Temido e respeitado, fez o Atlético ser um time que não só jogava — impunha respeito.
Telê Santana, mestre do futebol-arte, deixou sua marca com times ofensivos e disciplinados. Foi no Galo que ele afiou o estilo que encantaria o mundo anos depois.
Já nos anos 1990 e 2000, Levir Culpi trouxe carisma e ousadia, comandando elencos que marcaram época. Em 2014, conquistou a Copa do Brasil, em uma campanha histórica de viradas épicas.
Mas nenhum nome está tão ligado ao “Eu Acredito” quanto Cuca. Foi ele quem liderou o time rumo à Glória Eterna em 2013. Com uma fé inabalável e táticas ousadas, ele escreveu e continua escrevendo seu nome na história como o comandante dos maiores títulos do clube.
Mais que futebol, uma religião, o Atlético não é só um clube, é uma oração. De milhões de vozes em comunhão. É a lágrima, o terço, o abraço apertado, o grito que sai no último segundo suado. É entender que, mesmo perdendo, o amor jamais está morrendo. É saber que, no próximo pênalti, no próximo gol, o Galo será sempre mais que futebol.
Nas vitórias, o atleticano agradece; nas derrotas, xinga, mas promete voltar. Porque o Galo é isso: fé, raça e paixão. É entender que, mesmo perdendo, nunca se perde o amor.
Hoje, aos 117 anos, o Atlético segue sendo o mesmo daquele coreto no Parque Municipal. Um time que não nasceu para ser só mais um — nasceu para ser eterno. E enquanto houver um torcedor de mãos erguidas e coração acelerado, o Galo nunca vai se calar.