Central do Timão
·1 Februari 2025
Central do Timão
·1 Februari 2025
Em meio a debates nas redes sociais sobre o processo de impeachment contra Augusto Melo, presidente do Corinthians, e pedidos de punição a dirigentes de gestões passadas no clube, um tema vem sendo recorrente entre os torcedores: a mal-sucedida parceria firmada com a Taunsa, em 2021, durante a gestão Duilio Monteiro Alves.
O patrocínio se transformou em um calote contra o Alvinegro, indo parar na Justiça e suscitando comparações com o caso VaideBet, que é investigado na Polícia e ameaça o mandato de Augusto. Mas será que todas as denúncias e alegações sobre o vínculo entre Corinthians e Taunsa são verdadeiras? A Central do Timão obteve o contrato na íntegra e responde a partir de agora:
Foto: Reprodução/Instagram
O contrato com a Taunsa foi um acordo para contratar Paulinho? NÃO
O objeto do contrato não é a contratação de Paulinho, mas o seu anúncio e toda a logística envolvida em sua apresentação. Em seu capítulo 1, o documento reconhece que Paulinho já estava contratado pelo Corinthians, mas o clube cedia à empresa a prerrogativa de se responsabilizar publicamente pela vinda do jogador.
O contrato entre Corinthians e Taunsa tinha como valor total R$ 28,8 milhões? SIM
O acordo firmado com a empresa em dezembro de 2021 realmente tem como valor um montante de R$ 28,8 milhões, sendo R$ 20 milhões designados como “patrocínio da campanha de apresentação do Atleta (Paulinho)” e outros R$ 8,8 milhões designados como “entregas previstas na cláusula 1.3 acima”. As entregas em questão eram: uma campanha institucional mensal, um programa de TV semanal e duas transmissões de jogos ou pré-jogos de modalidades diversas do Corinthians.
O irmão do ex-presidente Duilio Monteiro Alves foi intermediário do negócio entre Corinthians e Taunsa? NÃO
Diferentemente do que vem sendo publicado em algumas páginas e perfis na internet, Adriano Monteiro Alves, irmão do ex-presidente Duilio Monteiro Alves e então secretário-geral do Corinthians, não aparece como intermediário no contrato firmado entre Corinthians e Taunsa. Na realidade, o contrato, com 11 páginas e 11 cláusulas ao todo, não possui qualquer empresa intermediária, contendo apenas duas partes: o clube e a empresa.
O contrato com a Taunsa passou por análise jurídica no Corinthians? SIM
O contrato foi analisado pelo departamento jurídico e pelo setor de compliance do Corinthians. Durante as análises, foram feitos alertas sobre riscos potenciais e, segundo apuração da Central do Timão, a diretoria foi orientada a incluir no documento uma cláusula de pré-pagamento, visando maior segurança jurídica ao clube. A diretoria acatou a orientação, e o contrato prevê um pagamento de R$ 18 milhões do valor total até 15 de dezembro de 2021. No entanto, a Taunsa não honrou esse compromisso.
Cobranças na Justiça
Sem receber da Taunsa desde o primeiro dia de parceria, o Corinthians buscou resoluções amigáveis com a empresa. Mesmo sem realizar o pagamento preliminar, em 15 de dezembro de 2021, ela assumiu os créditos pela contratação de Paulinho e chegou até a estampar as costas da camisa alvinegra no início de 2022.
Apenas em abril, após tentativas frustradas de regularizar os pagamentos, o Alvinegro removeu a então parceira de sua publicidade, deixando de cumprir com suas contrapartidas previstas em contrato. Oito meses depois, o Corinthians acionou a Justiça para cobrar os valores devidos e, atualmente, é credor da empresa.
O fato de o Corinthians ter acionado a Justiça contra a Taunsa para buscar seus direitos é um dos principais argumentos dos conselheiros para diferenciar esse caso do ocorrido com a VaideBet. Neste último, mesmo após as primeiras denúncias sobre o desvio de pagamentos para empresas laranjas, o clube não levou a questão à Polícia, que abriu o inquérito por conta própria, nem contestou judicialmente o rompimento unilateral do contrato pela casa de apostas, que recorreu a uma cláusula anticorrupção.
Foto: Reprodução
A comissão de Giuliano Bertolucci
Outra questão levantada nas redes sociais tem relação com um valor cobrado do Corinthians pelo empresário Giuliano Bertolucci na Justiça. Ele reivindica o direito de receber R$ 2,88 milhões pela intermediação da contratação de Paulinho, valor que hoje, com juros, chega a mais de R$ 3,7 milhões. Segundo teorias espalhadas na internet, isso seria uma “prova” de que o contrato entre o Alvinegro e a Taunsa possuía intermediário, porém não é o caso, segundo apuração da Central do Timão.
É fato que Bertolucci intermediou a contratação do volante junto ao Corinthians, porém essa negociação já havia sido concluída antes de a Taunsa surgir no horizonte. A similaridade de valores também não é coincidência: a operação financeira que reconduziu Paulinho ao Parque São Jorge chegou a R$ 28,8 milhões, dos quais 10% seriam destinados a remunerar o empresário.
Inicialmente, ainda conforme apuração, a parceria entre Corinthians e Taunsa seria fechada por R$ 18 milhões. No entanto, o clube ofereceu contraproposta, aumentando o valor para o exato custo da contratação de Paulinho, visando tornar o patrocínio 100% responsável pela chegada do jogador. Por isso, na versão final do contrato, o valor firmado foi de R$ 28,8 milhões.
As cobranças do Conselho Deliberativo
Outra questão levantada nas redes sociais sobre o caso Taunsa diz respeito à atuação do Conselho Deliberativo no caso, à época presidido por Alexandre Husni, aliado do movimento Renovação & Transparência e próximo da gestão Duilio. O então presidente foi convocado a explicar aos conselheiros a atuação da diretoria para receber os valores devidos pela empresa, conforme afirmou Romeu Tuma Júnior, atual presidente do CD, em entrevista ao portal Meu Timão:
“Eu ia pedir até impeachment do Duilio, e só não pedimos porque fomos analisar o contrato, fizemos muitos questionamentos até entender o que aconteceu. Nós fizemos ofícios pedindo explicação à presidência, assim como vários conselheiros foram lá. Me mostraram o contrato, documento, responderam cada indagação.”
Ele continuou. “Quero defender o Conselho quanto às acusações de que não fizemos nada. O Duilio deu explicações ao Conselho, o contrato passou (tramitou) no compliance da época e no jurídico. Pediram para incluir uma cláusula, que foi incluída. Depois, a empresa descumpriu. Outro importante fato: o Paulinho já estava contratado quando a Taunsa fez o patrocínio. A propriedade do contrato era o anúncio da contratação do Paulinho, não era o contrato do Paulinho, mas o contrato da Taunsa era só um anúncio“, afirmou.
Comissão “por fora”?
Em apuração da Central do Timão junto a fontes ligadas ao clube, também foi debatida a denúncia, feita nas últimas semanas nas redes sociais, de que o irmão de Duilio, Adriano, teria participado da negociação, supostamente recebendo valores. No entanto, todas as pessoas consultadas negam que essa hipótese tenha sequer sido ventilada no Parque São Jorge à época. Também não há registros de que essa denúncia tenha sido feita aos órgãos fiscalizadores do clube, em qualquer momento.
O processo judicial iniciado pelo Corinthians para receber os valores devidos pela Taunsa tramita, atualmente, em segredo de Justiça. Enquanto aguarda uma resolução nos tribunais, o clube segue figurando como credor da empresa, que confessou a dívida publicamente e declarou ser incapaz de honrar com os pagamentos.
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