Jogada10
·29 Desember 2024
Jogada10
·29 Desember 2024
Sabe aquela corrente que circula pelas redes sociais? “Como vou ser triste se esse ano…” Bom, o torcedor do Botafogo tem inúmeras respostas criativas para completar esta frase. No fim de 2024, surgiu a figura do alvinegro arrogante, enterrando o histórico pessimista que caracterizava o sujeito que usava uma estrela Solitária no peito. Agora, ele ostenta uma Libertadores e um tri do Brasileirão no mesmo ano. Só isso.
Sem mais delongas, vamos, de janeiro a dezembro, à retrospectiva do Botafogo no Jogada10.
Para apagar 2023, o ano em que o time entregou um título brasileiro ao Palmeiras, o Botafogo iniciou o ano com o número considerável de reforços. Os primeiros a chegar foram: John (goleiro), Barboza (zagueiro), Halter (zagueiro), Savarino (meia-atacante) e Jeffinho (atacante).
Paralelamente, o time começava o Carioca sem engrenar. Três vitórias, um empate e uma derrota. Mas o retrospecto era o que menos importava. No Estádio Nilton Santos, a torcida pegava no pé de alguns remanescentes do ano passado. Naquele momento, não havia trégua para o lateral-esquerdo Marçal, o volante Freitas e o meia Eduardo.
Eduardo sofreu com a fúria da torcida do Botafogo – Foto: Vitor Silva/Botafogo
Técnico do Botafogo desde o fim da derrocada de 2023, Tiago Nunes reiterava que o time precisava superar a carga negativa do ano passado. Mas a missão não era nada simples. O botafoguismo ainda não havia virado a chave.
Injeção de ânimo? O Botafogo inicia o mês com a contratação mais cara da história do futebol brasileiro. Por 20 milhões de euros (R$ 106,6 milhões à época), o Glorioso conseguiu tirar Luiz Henrique do Betis. O volante Gregore, ex-companheiro de Messi no Inter Miami (EUA), foi outra novidade no Mais Tradicional.
Nove dias depois, o Botafogo anunciava ouro reforço: o lateral-direito Suárez, ex-Getafe. O Lenhador chegaria para ser o titular de uma posição crítica em 2023.
Porém, em campo, os resultados deixavam muito a desejar. O Botafogo perdeu dois clássicos (Flamengo e Vasco), empatou com o fraquíssimo Aurora, no jogo de ida da segunda fase da Libertadores, e continuou levando gols nos minutos finais.
Na Bolívia, Tiago Nunes pagou pela língua. Dias antes, expôs o vestiário e disse que havia jogadores que pediam para não ter sequência por conta da pressão. Assim, terminou na rua, com apenas quatro vitórias (nenhuma contra adversários da Série A do Campeonato Brasileiro).
Tiago Nunes foi demitido na manhã seguinte ao empate com o Aurora – Foto: Vitor Silva/Botafogo
Em meio à crise, quem também meteu o pé foi o atacante Sá. Deixou o Botafogo para jogar pelo Krasnodar, da Rússia.
Ali, por incrível que pareça, começou a reconstrução do Botafogo. Com Fábio Mathias, interino, o Botafogo venceu o Aurora, na volta, por 6 a 0, no Estádio Nilton Santos, sem dar margem para o azar e com quatro gols de Júnior Santos, o Anjo das Pernas Confusas. Fogão classificado na Libertadores e vida nova pela frente.
Com Fábio Matias, o Botafogo voltou a vencer um clássico (contra o Fluminense) e engatou uma invencibilidade de nove jogos. No Carioca, não conseguiu a classificação por conta dos tropeços na Era Nunes, mas ganhou o bicampeonato da Taça Rio com o pé nas costas.
O mais importante, no entanto, era o confronto contra o Bragantino. Valia vaga na fase de grupos da Libertadores. De forma suada, o Botafogo passou, com nova grande atuação de Júnior Santos. No Rio, 2 a 1. Em Bragança, com menos um, um empate por 1 a 1. Gatito também fechou o gol, aproveitando-se de uma lesão de John.
Glorioso vive bom momento na temporada, sobretudo depois da saída de Nunes – Foto: Vitor Silva/Botafogo
Neste período, o Botafogo também encontrou um meia para fazer sombra a Eduardo: o paraguaio Romero, ex-Boca Juniors.
Ainda no início da temporada, o diretor de futebol André Mazzuco, alegando problemas pessoas, se desligou do clube para trabalhar no rebaixado Athletico Paranaense. Alessandro Britto, head scout do clube, acumulou a função. Depois, Pedro Martins, hoje no Santos, assumiu o cargo até o fim do ano.
O efeito Matias terminou na estreia do time na fase de grupos da Copa Libertadores. O Junior Barranquilla veio ao Colosso do Subúrbio e passeou: 3 a 1. Poderia ser até mais se os colombianos não se limitassem a administrar o resultado na etapa inicial.
Naquele dia, o Botafogo já tinha, depois de um mês e meio, um novo treinador. Artur Jorge, campeão da Taça de Portugal pelo Braga e responsável por classificar o time minhoto para a Champions League.
Ainda sem conhecer o clube e o futebol local, Artur Jorge apostou no 4-2-4 e começou sua trajetória no Botafogo com duas derrotas: 1 a 0 para a LDU (Libertadores) e 3 a 2 para o Cruzeiro, pelo Brasileirão.
Artur perdeu as duas primeiras partidas. No entanto, depois, só alegria – Divulgação /Botafogo
Mas aquelas partidas não representariam o trabalho de AJ no Glorioso. Na sequência, o Botafogo emendou três vitórias (Atlético-GO, Juventude e Flamengo) no Brasileirão e uma na Libertadores (3 a 1 sobre o Universitario, do Peru). Todas no Rio de Janeiro. O português colocou o Alvinegro na liderança do Brasileirão ao fim da quarta rodada.
Quem também pintou no time foi o lateral-esquerdo Cuiabano, reforço para suprir as constantes lesões de Marçal e da falta de regularidade de Hugo.
Este mês simbolizou o ressurgimento do Botafogo nesta edição da Copa Libertadores. Da lanterna do grupo, o time somou mais pontos: venceu a LDU por 2 a 1 e, no Peru, passou novamente pelo Universitario: 1 a 0, placar que colocou o time alvinegro nas oitavas de final com uma rodada de antecipação. Na Copa do Brasil, também largou bem ao eliminar o Vitória com um agregado de 3 a 1.
No Brasileiro, o Botafogo rateou e perdeu a liderança. No entanto, tudo estava sob controle. Sempre no G4, a equipe nunca ficou longe da liderança. Neste mês, o campeonato também foi paralisado por conta das enchentes que castigaram o Rio Grande do Sul.
O Botafogo retoma e mantém a liderança do Brasileirão com nova sequência importante de vitórias: Corinthians, Fluminense e Grêmio. Em seguida, deixa pontos contra Paranaense, Criciúma e Vasco, tropeços que fazem os apressadinhos de plantão decretar que o Mais Tradicional não teria forças para buscar o tricampeonato nacional.
Naquele momento, Bastos se firmava como um dos melhores zagueiros do Campeonato Brasileiro. John estava consolidado como goleiro titular. E Barboza começava a assumir a titularidade no lugar de Halter.
Um mês agitado na vida do Botafogo. Primeiro, por conta do confronto entre John Textor, sócio majoritário da SAF do clube, e Leila Pereira, presidente do Palmeiras. Em pauta, as alegações do norte-americano sobre a manipulação no futebol brasileiro. Empoderada pela mídia esportiva, a dona da Crefisa perdeu as estribeiras e partiu para ofensas pessoais. Textor, no entanto, contra-atacou e processou a oponente na Justiça dos Estados Unidos.
Em campo, no duelo mais esperado do Brasileirão, o Botafogo venceu por 1 a 0 e começou a curar as feridas esportivas daquele ano. Tiquinho, vilão naquele fatídico 4 a 3 de 2023, marcou o gol do triunfo.
Tiquinho ressurgiu em um Botafogo x Palmeiras – Foto: Vitor Silva/Botafogo
Embalado, o Botafogo terminaria mais uma vez o primeiro turno no topo da tabela, mostrando aos pessimistas que era, sim, candidato ao título nacional.
O deslize, contudo, foi a derrota para o Cruzeiro por 3 a 0, no Estádio Nilton Santos, na rodada de abertura do returno. Resultado inesperado. Mas é do futebol. O Botafogo encontrou formas de compensá-lo.
Julho também marca a chegada de Almada, contratação mais cara da história do futebol brasileiro. O meia argentino desbancou Luiz Henrique, do próprio Botafogo. Campeão do mundo, o craque veio do Atlanta United por 25 milhões de dólares (R$ 137,4 milhões na cotação da época).
O Botafogo também traria outros reforços: o centroavante Igor Jesus, o atacante Martins e o volante Allan. Um time cada vez mais forte para brigar por Brasileirão e Libertadores. E uma SAF que soube preencher as principais carências do elenco.
Diziam os mais antigos que agosto é sempre o mês do desgosto. E a profecia quase acontece. Afinal, o Botafogo caiu para o Bahia nas oitavas de final da Libertadores, com uma expulsão, no mínimo, controvérsia de Gregore. O time de Artur Jorge também perdeu para o Juventude, no Brasileirão.
Porém, a derrota no Rio Grande do Sul foi a última até o fim do Campeonato Brasileiro. No mesmo mês, o Fogão meteu 4 a 1 no Flamengo e no Atlético-GO. Líder novamente do Nacional.
Flamengo não viu a cor da bola: 6 a 1 no agregado! – Foto: Vitor Silva/Botafogo
Copa Libertadores. A América do Sul parou para ver Botafogo x Palmeiras, pelas oitavas de final. Na ida, no Rio de Janeiro, os cariocas venceram por 2 a 1. Na volta, em São Paulo, abriram 2 a 0, cederam o 2 a 2 e ainda prenderam a respiração quando, nos acréscimos, Gómez fez o 3 a 2 para o Verde, mas o VAR anulou. Assim, o Glorioso alcançava um lugar entre os oito melhores do continente. Ali muita gente já havia mudado a percepção sobre o Alvinegro.
Nos momentos finais da janela de transferências, o Botafogo deixou o elenco ainda mais recheado de opções. Textor prometeu e cumpriu um mercado agressivo. Chegaram Vitinho (lateral-direito), Telles (lateral-esquerdo) e Adryelson (zagueiro). Este último por empréstimo até o fim do ano. O primeiro, por sua vez, para o lugar do traidor Suárez, que decidiu abandonar o clube.
Em campo, o Botafogo engatou uma boa sequência na liderança do Campeonato Brasileiro. Destaques para os triunfos sobre Fortaleza (2 a 0), Corinthians (2 a 1) e Fluminense (1 a 0). O Glorioso, aliás, terminou aquele mês invicto.
Na Libertadores, um duelo épico contra o São Paulo. Na ida, no Colosso do Subúrbio, um 0 a 0, com o Botafogo empilhando chances perdidas e bolas na trave. Uma semana depois, na volta, no Morumbis, o Glorioso saiu na frente e cedeu o 1 a 1 no final. Porém, nos pênaltis, brilhou a estrela de John, e o Fogão chegou à semifinal após 51 anos.
No Brasileirão, bastava o Palmeiras vencer algum jogo para a imprensa decretar que o Verdão ultrapassaria o Botafogo. A diferença oscilava entre três e um somente um ponto. Mas a ponta era sempre do Mais Tradicional. Nem o empate com o Criciúma, diante de um Maracanã lotado, abalou os comandados de Artur Jorge.
Naquele mês, o Botafogo emplacou sete jogadores em quatro diferentes seleções: Gatito (goleiro, Paraguai), Bastos (zagueiro, Angola), Telles (lateral-esquerdo, Brasil), Almada (meia, Argentina), Savarino (meia-atacante, Venezuela), Luiz Henrique (atacante, Brasil) e Jesus (centroavante, Brasil). Nem o Real Madrid, aliás, teve tantos selecionáveis em seu plantel.
Almadinha também brilhou na Argentina – Foto: Marcelo Endelli/Getty Images
Luiz Henrique e Jesus brilharam pela Seleção Brasileira. Bastos contribuiu com uma assistência. Almada marcou e jogou ao lado de Messi. Gatito fechou o gol. Quem diria que o Botafogo tornaria a Data-Fifa mais atraente?
O melhor, no entanto, ficou para a Copa Libertadores. Na semifinal, em 45 minutos, no Colosso do Subúrbio, o Botafogo liquidou o Peñarol com um categórico 5 a 0. O resultado permitiu com que, na volta, em Montevidéu, o Mais Tradicional poupasse jogadores pendurados para a final, dando-se o luxo de entrar em campo com uma equipe alternativa. Por isso, a derrota de 3 a 1 parecia até nos planos. O importante era que o Botafogo estava, portanto, em uma decisão inédita do principal torneio do continente.
Antes de tudo, torcedor, respire. Novembro foi, sim, o mês de sua vida. E com um enredo épico. O Botafogo arranca os primeiros dias como finalista da Libertadores, goleia o Vasco por 3 a 0 no Engenho de Dentro e abre seis pontos de vantagem sobre o Palmeiras, a maior desta edição do Campeonato Brasileiro. Tudo encaminhado, inclusive, para viajar a Buenos Aires com o tricampeonato nacional na bagagem.
Mas o Botafogo quis dar um pouco de emoção ao Brasileirão e teve uma sequência de três empates: Cuiabá, Mineiro e Vitória. O primeiro e o último rival em casa. Paralelamente, o Palmeiras, próximo adversário, igualou a pontuação e ultrapassou o Glorioso nos critérios de desempate.
Artur Jorge teve que dar uma coletiva extra para assegurar o mental forte do Botafogo quando a mídia já colocava o Palmeiras com as mãos na taça no Brasileirão. Ao Jogada10, ele lembrou que, naquela altura do campeonato, ninguém gostaria de enfrentar o Mais Tradicional.
Porém, o Verde ainda enfrentaria o Glorioso. E, no tira-teima, passeio alvinegro: 3 a 1, no Allianz Parque, para chegar à final da Libertadores, contra o Mineiro, na capital portenha, com a cristal alta.
O 30/11 ninguém esquece. No Monumental de Núñez, Gregore é expulso com 30 segundos e deixa o Fogão com menos um na final. O Botafogo não só resiste bravamente como vence o Galo, no tempo regulamentar, por 3 a 1. A maior façanha de sua história e diante de mais de 40 mil alvinegros que invadiram Buenos Aires naqueles dias extraordinários.
Torcida do Botafogo dá o recado durante invasão ao Monumental – Foto: Vitor Silva/Botafogo
A cancha do River Plate virou o Colosso do Subúrbio, e o Botafogo jogou de local contra o Mineiro. Luiz Henrique, Savarino, Telles, Barboza, Artur Jorge, Júnior Santos… Quantos heróis o Glorioso teve na última Libertadores? Inúmeros.
O Botafogo ainda tinha mais dois compromissos pelo Brasileirão. De ressaca, após as festas da Libertadores, venceu o Internacional, melhor time do returno, no Beira-Rio. Um triunfo que deixou a taça do tricampeonato nacional encaminhada para o fim de semana, no Estádio Nilton Santos.
No Colosso, o Botafogo cumpriu sua missão. Venceu os reservas do São Paulo por 2 a 1, com gol do candidato a vilão Gregore, no último minuto. Desfecho perfeito para quem foi um dos jogadores mais regulares na campanha da Estrela Solitária em 2024. Portanto, volta olímpica no gramado, fim de um jejum de 29 anos e esparadrapo na boca de quem vivia falando em “nova pipocada”.
Botafogo sagra-se campeão no Colosso: seis pontos, aliás, sobre o Palmeiras de Leila
Três dias depois, no entanto, o Botafogo precisaria estar no Qatar para disputar o Mundialito da Fifa. Não teve pernas e perdeu para o Pachuca por 3 a 1. Mas a vítima nunca é a culpada. O Glorioso tornou-se refém da dupla CBF/Conmebol, que punem, com seus calendários, os clubes que ganham títulos. Nada disso apaga o novembro/dezembro glorioso.
Aos poucos, a equipe vai sofrendo um pequeno desmanche no mercado de transferências. Dos titulares, apenas Almada vazou. Vai para o Lyon, em janeiro. Porém, entre os reservas, o número é maior. Gatito, Tchê Tchê, Marçal e Eduardo já se despediram. Barbosa e Tiquinho são “negociáveis”. Jesus e Luiz Henrique despertam o interesse dos estrangeiros.
E Artur Jorge? Esse foi uma decepção, apesar de ser um dos maiores na história do clube. Ignorou que tinha contrato com o Botafogo, “se ofereceu” ao mercado e deve, então, meter o pé para o Al-Rayyan, do Qatar. Se este cenário de confirmar, é mais um treinador português que pauta a carreira pelo vil metal e não por projetos esportivos.
Como disse Textor, aqueles quem interessam vão ficar. O Botafogo é muito maior do que qualquer treinador. Aliás, é maior do que tudo. Que venha 2025! Enfim, é tempo!