A magia de Salem Al-Dawsari, que encanta os sauditas há anos, ganha a eternidade das Copas do Mundo | OneFootball

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Trivela

·22 de novembro de 2022

A magia de Salem Al-Dawsari, que encanta os sauditas há anos, ganha a eternidade das Copas do Mundo

Imagem do artigo:A magia de Salem Al-Dawsari, que encanta os sauditas há anos, ganha a eternidade das Copas do Mundo

A participação opaca da Arábia Saudita na Copa do Mundo de 2018, eliminada antes da rodada final, ofereceu pouca visibilidade a Salem Al-Dawsari. O dono da camisa 18, porém, já tinha sido o melhor dos Falcões Verdes no torneio. E subiu na hierarquia desde então, não apenas por ganhar a camisa 10. O ponta esquerda deslanchou de vez nos últimos quatro anos. Fincou o pé como principal figura da seleção e fez maravilhas pelo Al-Hilal. Brilhou pelos alviazuis em conquistas de Champions Asiática e em participações no Mundial de Clubes, até chegar à Copa de 2022 como a maior esperança de uma campanha surpreendente de sua seleção. Salem consegue. O que fez nesta terça-feira é daqueles flashes de memória que ficam na história das Copas – nos sonhos mais loucos sauditas, nos piores pesadelos argentinos. A Arábia Saudita derrotou a Argentina por 2 a 1, de virada, e com uma pincelada de craque para consagrar o maior triunfo dos Falcões Verdes em Mundiais.

A vitória da Arábia Saudita possui muitos responsáveis. Salem ofereceu o retrato para a posteridade, mas, além da inspiração, muita transpiração foi necessária. Não seria possível sem as defesas do goleiro Mohamed Al-Owais, sem o espírito de luta da defesa liderada por Hassan Al-Tambakti, sem a onipresença de Mohamed Kanno no meio, sem o desarme de Abdulelah Al-Malki para o primeiro gol, sem o oportunismo de Saleh Al-Shehri para empatar. Houve uma pitada se sorte nos impedimentos milimétricos do primeiro tempo, mas também muita resiliência para resistir à tentativa de abafa de uma Argentina em parafuso.


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A Arábia Saudita teve, sobretudo, um técnico excelente no banco de reservas. Vale repetir algo dito aqui desde antes da partida: Hervé Renard é um dos melhores treinadores da Copa fora do eixo América do Sul-Europa e foi um ótimo acerto dos Falcões Verdes, por darem estabilidade a um comandante com uma década de bons trabalhos. Foi ele quem montou um time tão competitivo, e acabou ajudado pelo talento daquele que é diferenciado. Porque, afinal, a capacidade de Salem Al-Dawsari para desequilibrar é uma virtude na qual os sauditas confiam desde antes da chegada de Renard. E o dom do ponta se potencializa com um time melhor organizado, que demonstrou uma ótima mentalidade.

Salem Al-Dawsari é cria do Al-Hilal. Há mais de uma década ele deslumbra a maior torcida da Arábia Saudita e se coloca como um xodó, aquele capaz de oferecer algo inesperado dentro de campo. Convocado pela seleção desde 2012, quando tinha 20 anos, o camisa 10 não necessariamente era titular nos ciclos das Copas de 2014 e 2018. De qualquer maneira, quando os Falcões Verdes se classificaram ao Mundial da Rússia e garantiram o retorno ao torneio após 12 anos, a federação local resolveu apostar de maneira mais clara no ponta esquerda. Assim como outros jogadores, ele passou o primeiro semestre de 2018 emprestado ao Villarreal. Seriam seis meses de intercâmbio para ganhar tarimba na Europa e tentar mostrar um pouco mais na Copa.

Para a carreira de Salem Al-Dawsari, aquela passagem pela Espanha não prosperou muito. O ponta entrou em campo só uma vez por La Liga e não passou mais do que 33 minutos no gramado. Mesmo assim, seria uma ocasião inesquecível: o saudita saiu do banco contra o Real Madrid, na rodada final, e auxiliou o Submarino Amarelo a buscar o empate por 2 a 2, quando perdia por dois gols de diferença até sua entrada. Não fez gol ou deu assistência, mas garantiu energia ao time e participou da construção de um dos tentos. E se a equipe da Arábia Saudita na Copa de 2018 não fez lá grandes coisas, pelo menos Salem confirmou na Rússia que deveria ser um cara para se prestar um pouco mais de atenção. Realizou boas jogadas individuais e anotou o gol derradeiro na vitória sobre o Egito, durante a última rodada.

Após a Copa do Mundo, a Arábia Saudita buscou outros caminhos para fortalecer seu futebol. O limite de estrangeiros nos clubes locais aumentou e o investimento em contratações se tornou maior. Salem Al-Dawsari retornou para o Al-Hilal, exatamente o clube que mais gastou na compra de astros internacionais. Pois o ponta esquerda conseguiu se sobressair independentemente de quem visse ao lado. Não há dúvidas de que a importância de Salem para os alviazuis nestes últimos quatro anos é tão grande quanto a de qualquer forasteiro. Seus números floresceram não apenas para que o Hilal estabelecesse uma hegemonia no Campeonato Saudita, mas também para arrebentar nas competições internacionais.

Existia uma enorme expectativa para que o Al-Hilal reconquistasse a Liga dos Campeões da Ásia. Salem Al-Dawsari fez parte dos times que acabaram com o vice em 2014 e em 2017. A história mudou em 2019, quando os alviazuis encerraram um jejum de 19 anos na competição. Salem teve atuações fantásticas, sobretudo no segundo jogo da final contra o Urawa Red Diamonds. Mesmo ao lado de estrelas como Sebastian Giovinco, Bafétimbi Gomis e André Carrillo, o ponta esquerda terminou eleito o melhor em campo. Inaugurou o placar na vitória cabal por 2 a 0 com um gol de oportunismo. Já em 2021, o Al-Hilal se consagrou tetracampeão asiático. Salem abocanhou o seu segundo troféu, eleito agora o melhor jogador da competição.

Tais feitos do Al-Hilal permitiram que Salem Al-Dawsari disputasse outro tipo de Mundial, o de Clubes. Os alviazuis caíram sempre nas semifinais, mas deram trabalho aos favoritos. Em 2019, o Flamengo precisou buscar uma suada virada contra os sauditas. Foi exatamente do ponta esquerda o gol na derrota por 3 a 1. Já em 2021, quem tomou calor foi o Chelsea. Salem não conseguiu aprontar tanto contra os ingleses, mas foi a grande estrela na goleada por 6 a 1 diante do Al-Jazira nas quartas de final. Assinalou um bonito tento na ocasião. Quem prestou atenção no sucesso do Hilal não o desconhecia.

E a própria seleção da Arábia Saudita bebeu dessa fonte de inspiração. Logicamente, não dava para aproveitar os muitos estrangeiros do Al-Hilal. No entanto, o técnico Hervé Renard apostou na potência nacional como a base principal dos Falcões Verdes. Mesmo alguns reservas do clube ganharam espaço no 11 inicial dos alviverdes. Salem Al-Dawsari, se já era protagonista ao lado de qualquer outro no Hilal, apareceu mais pela equipe nacional. Foi o que se percebeu ao longo do ciclo. Os sauditas não tiveram grande campanha na Copa da Ásia de 2019, mas apresentaram consistência nas Eliminatórias. O camisa 10 foi crucial por seu talento. Ao lado de Al-Shehri e Kanno, esteve entre os principais responsáveis pela classificação ao Mundial do Catar.

O que se viu diante da Argentina, por fim, não fugiu do que se imaginava de Salem. É o cara do drible, do toque diferente, de partir para cima quando há uma brecha. Define as jogadas com bons cruzamentos e chutes cruzados. Tudo o que funcionou no golaço que decretou a virada. O camisa 10 até ia deixando a bola escapar no domínio, mas se recuperou com persistência e habilidade. Conseguiu executar o giro, abriu em diagonal, deu uma finta seca em Rodrigo de Paul. E quando o clarão para a finalização apareceu, o camisa 10 soltou o chute teleguiado. A bola perfeita que entrou no ângulo e fez Emiliano Martínez saltar em vão.

A Arábia Saudita pode ter fama de saco de pancadas em Copas, mas ofereceu alguns bons jogadores ao torneio e teve seus momentos de brilho. O mais lembrado é Saeed Al-Owairan, claro, com seu gol antológico contra a Bélgica que valeu a passagem para as oitavas de final em 1994. A pintura de Salem não chega a tal nível de encantamento, mas possui sua dose de magia. Se aquela Bélgica tinha poupado vários titulares, com a classificação garantida de antemão, esta Argentina cai de joelhos como então uma indiscutível favorita. O simbolismo desse triunfo em Doha é muito maior, ainda mais num Mundial dentro do Oriente Médio, com uma multidão de torcedores sauditas nas arquibancadas. Salem já é um herói da Copa dos árabes e tem bola para se tornar maior na sequência do torneio.

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