Trivela
·27 de novembro de 2022
Trivela
·27 de novembro de 2022
A seleção de Marrocos possui, nesta Copa do Mundo, o maior contingente de jogadores nascido fora do próprio território. E uma das comunidades mais representativas é a da Bélgica, adversária dos Leões do Atlas logo na fase de grupos. Quatro atletas marroquinos encararão sua terra natal: Selim Amallah, Ilias Chair, Bilal El Khannous e Anass Zaroury. Já do outro lado, os Diabos Vermelhos também possuem um atleta com sangue magrebino – o atacante Loïs Openda, filho de mãe marroquina e pai congolês. Os caminhos se cruzam inclusive depois de causarem seus impactos na Copa de 2018 – quando Marouane Fellaini e Nacer Chadli deram suas contribuições na histórica caminhada dos belgas até as semifinais no Mundial da Rússia.
A relação entre Bélgica e Marrocos existe desde o início do Século XX, quando o país africano ainda era explorado pela França como colônia. A questão linguística facilitava e mão de obra marroquina foi enviada ao território belga pelos franceses na década de 1920. Não à toa, se concentrava na região francófona da Valônia. De qualquer maneira, o fluxo migratório se intensificou realmente a partir da década de 1960. Foi quando países como a Bélgica e a Holanda (Países Baixos) estabeleceram acordos com Marrocos para facilitar a entrada de trabalhadores magrebinos.
A maior parte desses marroquinos chegava para trabalhar nas minas de carvão da Bélgica. Anteriormente, o governo belga tinha um acordo com a Itália, mas a morte de 136 italianos num desastre culminou num rompimento. Desta maneira, a Bélgica passou a recrutar trabalhadores de outros países. Marrocos atravessava seus primeiros anos após a independência e a migração de etnias minoritárias até era conveniente ao governo local. O acordo de cooperação foi assinado em 1964 e, dez anos depois, mais de 40 mil marroquinos viviam na Bélgica. As autoridades locais inclusive incentivavam a mudança de toda a família desses operários, diante da queda da taxa de natalidade entre os belgas.
Entretanto, a crise do petróleo levou ao fim do acordo de cooperação no início da década de 1970. Isso reduziu o número de imigrantes, mas as famílias marroquinas permaneceram na Bélgica, também pela situação legal em que se encontravam. Durante a década de 1980, mais de 100 mil pessoas com nacionalidade marroquina viviam no país. E, mesmo que não existisse uma relação comercial como antes, mais gente migrou por laços familiares ou mesmo por dissidência política em relação à monarquia marroquina.
Apesar da relação inicial com a Valônia por causa do idioma francês, as maiores comunidades marroquinas na Bélgica se formaram nos Flandres, onde a língua holandesa é predominante. É uma área economicamente mais rica e que concentra as principais cidades da Bélgica. Quase metade das pessoas com origem em Marrocos habita atualmente na região metropolitana da capital Bruxelas, com uma população também expressiva na Antuérpia. Liège e Charleroi possuem as comunidades mais significativas na Valônia, mas não chegam a 10% do total da população com origem marroquina. Em contrapartida, existe uma integração maior desse grupo marroquino na Valônia, inclusive com maior escolaridade.
Segundo dados da última década, a Bélgica tinha mais de 430 mil habitantes de origem marroquina, cerca de 4% da população total. Esse montante inclui as pessoas da segunda geração, já nascidas em território belga. A maior parte dessa comunidade mantém dupla nacionalidade e, conforme uma pesquisa de 2015, 60% dos entrevistados se sentem tão belgas quanto marroquinos. Isso não impediu, porém, que metade dos consultados se dissesse vítima de preconceitos por suas origens.
Tal sensação de discriminação se intensificou nos últimos anos, sobretudo pela associação de marroquinos com elementos terroristas. Alguns atentados ocorridos na Europa ao longo da última década, como os de Paris em 2015, estiveram ligados a células de fundamentalistas islâmicos localizadas na Bélgica. O laço mais comum é com a cidade de Molenbeek, nos arredores de Bruxelas, que teve criminosos aliciados em sua população. Há uma comunidade expressiva de marroquinos por lá, que acaba associada preconceituosamente aos ataques.
O futebol, por outro lado, oferece uma ponte de integração para se contrapor à discriminação. E com relativo sucesso. Não são poucos os descendentes de marroquinos que conseguiram contribuir com a Bélgica durante a ascensão da “badalada geração”. E um número ainda mais significativo dessa população optou por defender a seleção adulta de Marrocos, para manter laços com seus ascendentes. Parte deles, depois de até começarem nas categorias de base da federação belga.
O nome que inaugura essa relação não é muito conhecido. Nardin Jbari foi um atacante de carreira basicamente limitada ao Campeonato Belga, com passagens também por clubes da França e da Grécia. Nascido em 1975, na cidade de Saint-Josse-ten-Noode, na região metropolitana de Bruxelas, ele faz parte da geração dos filhos dos imigrantes marroquinos que chegaram ao país graças aos acordos de trabalho nos anos 1960 e 1970. Deu seus primeiros passos no Anderlecht, na década de 1990, antes de emplacar com as camisas de Gent e Club Brugge. Foi o início promissor que permitiu ao jovem inaugurar uma parte importante da história entre Bélgica e Marrocos.
Em 1996, Jbari se tornou o primeiro jogador de origem marroquina a defender a seleção principal da Bélgica. O atacante de 21 anos ganhava espaço no Gent e fez sua estreia num clássico contra a Holanda, pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1998, entrando nos minutos finais de um duelo que os rivais ganharam por 3 a 0 e os belgas ainda tiveram um jogador expulso no início do segundo tempo. A próxima chance veio semanas depois, num amistoso contra a Irlanda do Norte, mas a trajetória internacional de Jbari parou por aí – até porque sua carreira não progrediu conforme o esperado. De qualquer maneira, ele teve o gosto de ser o pioneiro.
Cabe ressaltar que, na época em que Jbari optou pela seleção da Bélgica, as convocações de Marrocos para atletas com dupla nacionalidade não eram comuns. Assim, sequer se cogitava a possibilidade de atuar pelos Leões do Atlas. Quando mais jovem, o atacante chegou a lidar com insultos nas ruas da Bélgica, proferidos por outros descendentes de marroquinos descontentes com sua decisão de jogar pelos belgas. Já depois da aposentadoria, Jbari voltou a ser questionado com frequência sobre não defender Marrocos, embora as perguntas tragam uma dose de anacronismo. Anos depois, porém, o ex-jogador chegou a afirmar que ficaria em dúvida se por acaso a federação marroquina o procurasse. No fim das contas, esteve em campo por apenas 25 minutos pelos Diabos Vermelhos.
Depois de pendurar as chuteiras, Jbari não se afastou totalmente do futebol. Após a aposentadoria, ele se tornou comentarista esportivo na televisão belga. Outro tipo de pioneirismo que o mantém em evidência como uma voz ativa em prol da integração dos marroquinos na Bélgica. O ex-atacante se define como “belga e marroquino”, com manifestações públicas frequentes sobre temas relacionados à imigração. Opôs-se à discriminação constante de sua comunidade depois dos atentados terroristas mais recentes, bem como não se furtou a criticar marroquinos que vandalizaram as ruas de Bruxelas durante a comemoração pela classificação à Copa do Mundo de 2018.
Em março de 2016, Jbari chegou a escrever um texto no L’Équipe sobre os atentados terroristas em Bruxelas realizados pelo Daesh, o autointitulado Estado Islâmico. Os ataques a bomba no aeroporto e em duas estações de metrô deixaram 35 mortos, além de mais de 300 feridos. “Sou belga de origem marroquina. E eu protesto contra esses terroristas que afirmam representar o Islã. Eles não representam ninguém. Querem dividir, fazer o medo reinar, destruir a convivência e a diversidade representada por nosso país. Isso vai encorajar alguns, como na França, a recorrer a pessoas como Marine Le Pen. Mas esses terroristas são apenas criminosos e bárbaros. De forma alguma representam a comunidade muçulmana, um termo que não gosto de usar. Não vamos cair na armadilha preparada contra nós. Vamos evitar amálgamas e o fato de que outras pessoas ficarão tentadas a se juntar a eles”, escreveu Jbari.
A esta altura, Jbari não estava mais sozinho para representar a integração dos jogadores de origem marroquina com a seleção da Bélgica. Marouane Fellaini já havia se erigido como principal representante da comunidade nos Diabos Vermelhos. O meio-campista é filho de pais marroquinos, nascido em 1987, na cidade de Bruxelas. Seu pai, Abdellatif Fellaini, desembarcou na Bélgica também por causa do futebol. Ele era goleiro de clubes importantes de seu país, incluindo o Raja Casablanca. Em 1972, aos 24 anos, ele decidiu procurar um time belga e conseguiu um contrato com o Racing Mechelen, então na segundona local. Entretanto, Abdellatif nunca pôde entrar em campo, já que a federação marroquina não liberou seu passe. O jovem preferiu então permanecer no novo país e, enquanto atuava apenas no nível amador, passou a trabalhar como motorista de ônibus. Foram mais de 30 anos no volante, com seu antigo sonho realizado por Marouane.
Fellaini defendeu diferentes clubes nas categorias de base. Nessa época, passou a frequentar as seleções menores da Bélgica a partir dos 16 anos. O meio-campista se profissionalizou no Standard de Liège. E chegou a ser cortejado por Marrocos. Fellaini permaneceu por um período de testes com as seleções de base marroquinas quando tinha 18 anos. O treinador Fathi Jamal, entretanto, preferiu dispensar o volante. Avaliou que “ele não tinha o perfil de jogador de Marrocos, mas sim da Bélgica”. Melhor aos Diabos Vermelhos, que não o renegaram por esse flerte.
(BRUNO FAHY/AFP via Getty Images/One Football)
Não demorou para Fellaini ganhar uma chance na seleção principal da Bélgica. Foi em fevereiro de 2007, quando o meio-campista tinha 19 anos. Já no ano seguinte, além de se transferir ao Everton, disputou os Jogos Olímpicos de 2008. Não se tornou o mais habilidoso, mas acabou como um dos nomes mais emblemáticos da “geração belga” que se formava. Seria imprescindível em todas as campanhas internacionais a partir da Copa do Mundo de 2014. Em especial, pelo que se viu no Mundial de 2018. Mesmo num momento criticado pelo Manchester United, o volante foi crucial na caminhada dos Diabos Vermelhos até as semifinais. Jogou demais contra o Brasil.
Fellaini tinha outro companheiro frequente de origem marroquina. Ao seu lado, Nacer Chadli disputou duas Copas do Mundo e sempre foi um jogador útil para os lados de campo. Mas o destino do ponta poderia ser totalmente diferente. Nascido em Liège, ele aceitou o chamado para defender Marrocos em 2010 e até entrou num amistoso contra a Irlanda do Norte. Entretanto, mudou de ideia pouco depois e enfureceu os Leões do Atlas. Com os Diabos Vermelhos, sem dúvidas, sua história no futebol de seleções teve mais relevância ao longo da última década. Também possui seus sucessos por clubes, especialmente com as camisas de Twente e Tottenham.
Fellaini e Chadli também tiveram a companhia, por períodos mais curtos, de jogadores como Yassine El Ghanassy e Zakaria Bakkali. Já o herdeiro da dupla na Copa do Mundo de 2022 é Loïs Openda. O centroavante nascido em Liège, aliás, tinha múltiplas opções a fazer no futebol de seleções. Ele é filho de mãe marroquina, mas também possui sangue da ampla comunidade congolesa através de seu pai. A federação marroquina também assediou o atacante, mas ele manteve seu compromisso com os belgas, presente nas convocações de todas as categorias desde o sub-15. O Mundial do Catar representa o ápice ao jovem de 22 anos e, em bom início no Lens, virou uma alternativa interessante para o time de Roberto Martínez.
Se antigamente a seleção marroquina ainda não considerava recrutar os jogadores nascidos na Bélgica com dupla nacionalidade, o mesmo não se aplicava aos nascidos em Marrocos que emigraram para o país europeu. E os Leões do Atlas se beneficiaram desses talentos desenvolvidos no futebol belga a partir da década de 1990, quando a geração que se mudou na virada dos anos 1960 para os 1970 chegava na idade adulta.
O pioneiro desse movimento foi Nacer Abdellah. O lateral nasceu na cidade de Sidi Slimane, no noroeste marroquino, em 1966, e se mudou ainda na infância para Mechelen. Foi por lá que o defensor iniciou sua carreira profissional, no tradicional KV Mechelen, tornando-se o primeiro marroquino da história do Campeonato Belga. Rodou depois por Bornem e Lommelse, até ganhar uma chance no Cercle Brugge. Uma notoriedade que o levou a ser convocado para a seleção de Marrocos. Abdellah se tornou uma figura constante nas escalações dos Leões do Atlas no início da década de 1990. Não apenas ajudou o país a se classificar para a Copa do Mundo de 1994, como também esteve presente nos Estados Unidos.
A estreia no Mundial de 1994 certamente foi palpitante para Abdellah. Marrocos, afinal, enfrentou a Bélgica em seu primeiro compromisso naquela Copa. O defensor jogava pelo Waregem na época e ocupou a lateral direita dos Leões do Atlas, mas não evitou a derrota por 1 a 0 para os Diabos Vermelhos. Depois encarou a Arábia Saudita e ficou apenas no banco durante a eliminação contra a Holanda. A visibilidade nos Estados Unidos, inclusive, o ajudou a buscar novos destinos. Abdellah entrou em conflito com Paul Theunis, seu técnico no Waregem. Em épocas sem Data Fifa, o defensor se ausentou do clube para jogar por Marrocos nas Eliminatórias e isso deixou o treinador descontente, a ponto de afastá-lo do time ao longo do primeiro semestre de 1994. O marroquino acusaria o clube de discriminação.
A partir do segundo semestre de 1994, a carreira de Abdellah se desenvolveu fora da Bélgica. Passou por Ourense na Espanha, antes de jogar na Holanda com as camisas de Den Bosch e Telstar. Também ficou três anos no próprio Marrocos, pelo Kawkab Marrakesh, até retornar ao KV Mechelen apenas para pendurar as chuteiras. Não voltou mais à seleção marroquina após a Copa de 1994, mas também já tinha deixado um marco por seu pioneirismo.
(Rick Stewart/ALLSPORT/One Football)
Abdellah teve um contemporâneo belga na seleção de Marrocos, mas que não disputou a Copa de 1994. Mohamed Lashaf nasceu em 1967, também no noroeste marroquino, na cidade de Al Hoceïma. Teve uma trajetória parecida ao emigrar para Bruxelas na infância e se formar no futebol local. Vestiu a camisa do Anderlecht em seus primórdios e depois teve boa passagem pelo Royal Antuérpia. Entretanto, quando a carreira do habilidoso meia começava a deslanchar, uma grave lesão atrapalhou sua ascensão. Contratado pelo Standard de Liège em 1991, ele sofreu uma fratura dupla na perna. Nunca repetiu o mesmo nível, embora tenha disputado as Eliminatórias da Copa de 1994 com a seleção de Marrocos.
Mohamed Lashaf ao menos serviria de inspiração ao seu primo mais conhecido, ninguém menos que Nacer Chadli. Sobre a escolha da nacionalidade, o ex-meia opinaria: “Vamos deixar esses caras em paz depois que eles decidirem. Chadli é meu primo e, embora eu tenha jogado por Marrocos, tenho orgulho em vê-lo dar tudo de si pela Bélgica. Uma coisa é certa: não é porque um jogador optou por defender as cores de uma nação que nega a outra. Ele se aplica sem segundas intenções em campo”.
A abertura para jogadores nascidos na Bélgica dentro da seleção de Marrocos, de qualquer maneira, só aconteceu pra valer quase duas décadas depois de Lashaf e Abdellah. Após Fellaini ser recusado por “não se adaptar ao estilo”, outros se enquadraram brevemente na ideia. Sofian Benzouien disputou Mundial Sub-20 com Marrocos e ganhou sua primeira chance no time adulto em 2008, mas ficou limitado a uma aparição com os Leões do Atlas. O atacante do Perugia era natural de Berchem, mais uma cidade na região metropolitana de Bruxelas. Outro contemporâneo era Chemcedini El Araichi, que disputou três jogos por Marrocos em 2009. O defensor do Excelsior Mouscron nasceu em Boussou, cidade na Valônia.
Marrocos passou 20 anos fora da Copa do Mundo. A geração que voltou a dar visibilidade para os Leões do Atlas no torneio, em 2018, se baseava em muitos filhos de imigrantes. O elenco treinado por Hervé Renard era composto por gente nascida na França, na Espanha, na Holanda, no Canadá e, claro, na Bélgica. Mehdi Carcela é filho de mãe marroquina e pai espanhol, nascido em Liège. O meio-campista atuou por diferentes níveis da Bélgica na base e entrou em campo inclusive em dois amistosos com a seleção adulta. Entretanto, em 2010, ele mudou de ideia e passou a defender Marrocos. Foram 22 aparições pela equipe nacional, de 2011 a 2019. Já Nabil Dirar é de Casablanca, mas se mudou para Bruxelas na infância. Chegou a admitir que gostaria de atuar pela seleção belga, mas, na época, não pôde mudar de seleção por já ter defendido o time olímpico de Marrocos. O lateral acumulou 42 aparições com os Leões do Atlas.
(Dean Mouhtaropoulos/Getty Images/One Football)
Já o time da Copa de 2022 vem recheado de marroquinos nascidos na Bélgica, em grupo que poderia ser até maior. Filhos de pai camaronês com mãe marroquina, os irmãos Samy e Ryan Mmaee foram ignorados na lista final. O que não impediu outros talentos do futebol belga surgirem como novidade. É o caso de Bilal El Khannous, que chegou a ser disputado pelas duas seleções às vésperas do Mundial.
O meia de 18 anos é nascido em Strombeek-Bever, numa família de origem marroquina cujo um tio chegou inclusive a ser eleito ao parlamento da região de Bruxelas. Dá para imaginar a pressão que o garoto sofria, até por essas ligações familiares. Do sub-15 ao sub-18, El Khannous jogou pela Bélgica. Depois disso, optou por Marrocos. Badalado antes mesmo de se profissionalizar, o meio-campista é visto como herdeiro de Kevin de Bruyne e se destaca na temporada do Genk, líder com sobras no Campeonato Belga. Foi quando a Bélgica tentou seu último movimento para convencê-lo.
Segundo o próprio El Khannous, no último mês de outubro, o técnico Roberto Martínez conversou com ele e tentou atraí-lo para a Bélgica. Entretanto, ele reiterou o compromisso com Marrocos e citou uma promessa feita ao avô marroquino, de que vestiria a camisa dos Leões do Atlas. A recompensa veio com a convocação final de Walid Regragui para a Copa do Mundo, mesmo sem ainda ter estreado pelo time adulto dos magrebinos. “Estou muito orgulhoso. Sempre foi um sonho disputar a Copa do Mundo. Recebi tantas mensagens que meu celular quase explodiu. Ganhei os parabéns inclusive da família de Abdelhak Nouri”, declarou o meia. Um detalhe bacana é que o jovem veste a camisa 34 em seu clube para homenagear Nouri, holandês de origem marroquina que teve sua carreira interrompida no Ajax por uma parada cardiorrespiratória que o deixou em estado vegetativo.
Titular de Marrocos ao longo do ciclo, Selim Amallah é outra figura de destaque dessa comunidade. O meia de 26 anos nascido na Valônia tem ascendentes marroquinos por parte de pai e italianos por parte de mãe. Sua opção por Marrocos foi motivada por Mustapha Hadji, lendário meia dos Leões do Atlas e assistente técnico da equipe nacional em 2019, que procurou o jovem. Apesar de elogios públicos de Roberto Martínez, foi convocado antes pelos marroquinos. Amallah justificou como uma “escolha do coração” e que “nunca hesitou”, por saber desde a infância qual seleção defenderia. Afirma inclusive que, quando garoto, idolatrava Marouane Chamakh e Mbark Boussoufa – um marroquino nascido na França e outro na Holanda.
Outro belgo-marroquino desta convocação, Ilias Chair ainda poderia jogar pela Polônia por parte de mãe. O meia do QPR, nascido em Anvers, sempre defendeu Marrocos desde a base. Já a última adição do elenco foi Anass Zaroury, de 22 anos, substituto de Amine Harit na lista final após o corte por lesão. O ponta do Burnley é outro de Mechelen, em família de origem marroquina. Jogou pela Bélgica do sub-16 ao sub-21, mas a cinco meses da Copa declarou publicamente que adoraria atuar por Marrocos por questões sentimentais. Foi o suficiente para abrir as portas dos Leões do Atlas.
Considerando as dificuldades da Bélgica para renovar sua seleção, dá para dizer que Marrocos sai ganhando nessa queda de braço. É ver como será o desenvolvimento especialmente de El Khannous e Zaroury, não apenas pela chance neste Mundial de 2022, mas por aquilo que podem representar no futuro. Podem se tornar protagonistas pelos Leões do Atlas que talvez façam falta aos Diabos Vermelhos.