Calciopédia
·22 de novembro de 2022
Calciopédia
·22 de novembro de 2022
É comum que, no final de carreira, jogadores de futebol escolham clubes “alternativos” antes de pendurarem as chuteiras. Pode ser por valor afetivo, num retorno ao time que lhes deu projeção, por exemplo, ou para viver uma aventura em busca de gordos salários em mercados periféricos. Porém, algumas decisões chegam a surpreender, de tão inesperadas que são. Esse foi o caso da ida do francês Bacary Sagna para o Benevento, em 2018.
Bacary – ou Bac, como era chamado – nasceu em 14 de fevereiro de 1983, em Sens, uma comuna a 120 km de distância de Paris. Filho de imigrantes senegaleses, Sagna conviveu desde cedo com o racismo e as dificuldades que os franceses descendentes de africanos, asiáticos e sul-americanos atravessam.
Quando ainda era jogador das categorias de base, Sagna queria defender Senegal, país de sua família. Porém, a Federação Senegalesa de Futebol não se interessou muito por ele, e quando foi procurá-lo, Bac já estava inserido na seleção sub-21 da França, nação que acabou resolvendo representar.
Nessa época, Bac já era jogador do Auxerre, clube que o descobriu em 1997, quando o lateral-direito dava seus primeiros passos no Sens. Sagna se desenvolveria no setor juvenil do time da Borgonha por cinco anos, até passar à equipe B, em 2002, e estrear entre os adultos em 2004. Foi então que o jovem franco-senegalês explodiu: na época seguinte, o AJA ganhou a Copa da França e ele também entrou na seleção da temporada da Ligue 1. Seu estilo de jogo explosivo, mas ao mesmo tempo extremamente técnico, chamaria a atenção de Arsène Wenger, seu conterrâneo, então treinador do Arsenal.
A história de Sagna com os Gunners, iniciada em 2007, é tão longa que renderia um texto à parte. Pelo Arsenal, o francês foi titular absoluto durante sete temporadas, ficando de fora do time somente por conta de uma fratura na fíbula sofrida num clássico com o Tottenham, em 2011-12. Dono da lateral direita, o camisa 3 forneceu 27 assistências em sua passagem pelos londrinos.
Já veterano, Sagna topou acertar com o Benevento, saco de pancadas da edição 2017-18 da Serie A (Getty)
Em seus anos de Arsenal, Sagna ganhou a Copa da Inglaterra, em 2014, e se tornou um dos jogadores mais queridos da torcida por seu empenho – que, muitas vezes, compensava suas limitações, especialmente as defensivas. Para quem quiser se aprofundar na passagem do francês por Londres, vale escutar o episódio do podcast dos Gunners, In Lockdown, no qual Bac faz uma pequena retrospectiva da sua trajetória e comenta a tragédia pessoal que precisou superar: a morte de Omar, seu irmão mais velho, durante sua segunda temporada no clube, em 2008.
Na Inglaterra, Bacary também chegou à seleção principal da França, pela qual estreou em agosto de 2007, numa vitória por 1 a 0 em amistoso com a Eslováquia. É possível dizer que, enquanto esteve no Arsenal, Sagna não teve muita sorte pelos Bleus: perdeu as Eurocopas de 2008 e 2012 por conta de lesões e, em 2010, integrou o tumultuado elenco francês na Copa do Mundo da África do Sul. Foi escolhido como titular por Raymond Domenech, mas a equipe nacional caiu na fase de grupos, com apenas um ponto e um gol marcado. Em 2014, veio ao Brasil na condição de reserva de Mathieu Debuchy e só entrou em campo contra o Equador.
Pouco antes da Copa de 2014, Sagna já havia deixado o Arsenal, em fim de contrato. Em junho daquele ano, o francês acertara com o Manchester City, então bicampeão da Premier League, para disputar posição com Pablo Zabaleta. O argentino levou a melhor em duas temporadas, mas Bac foi o titular em 2015-16.
Naquele ano, os Sky Blues, treinados por Manuel Pellegrini, venceram a Copa da Liga Inglesa, foram semifinalistas da Champions League e terminaram o Campeonato Inglês na quarta colocação. O desempenho regular do lateral lhe rendeu a titularidade na disputa da Euro 2016, no ocaso de sua carreira pela seleção. Presente em todos os minutos do torneio, Sagna ajudou a França de Didier Deschamps a ser vice-campeã – em Saint-Denis, Portugal acabou faturando o título na prorrogação.
Sagna permaneceu no Manchester City até junho de 2017, quando deixou o clube em fim de contrato. Aos 34 anos, o lateral estava livre para decidir seus próximos passos, mas ficou parado por alguns meses. Em fevereiro de 2018, beirando os 35 e ainda desempregado, recebeu uma proposta vinda da Itália. O destino, no entanto, era inusitado.
Sagna assumiu a titularidade da lateral do Benevento, mas não conseguiu evitar o rebaixamento do time (AFP/Getty)
Na janela de transferências de inverno de 2017-18, os clubes grandes da Serie A não se mexeram muito – diferentemente dos menores. O Benevento, que estreava na elite naquela temporada, foi um deles. O motivo não poderia ser mais urgente: o time era o saco de pancadas da categoria e ocupava a lanterna da competição, com uma das piores campanhas de toda a história. Com apenas sete pontos e uma vitória, os giallorossi precisavam reagir se quisessem encarar a duríssima missão de evitar o rebaixamento e, para isso, se reforçaram por atacado. Sagna, a custo zero, foi uma das contratações.
Além de Bac, que firmou vínculo até junho de 2018, com possibilidade de renovação por mais uma temporada, o clube da Campânia contratou o atacante Cheick Diabaté, o meia Filip Djuricic e os brasileiros Sandro, ex-Tottenham, e Guilherme, proveniente do Legia Varsóvia. Os principais nomes eram o de Sagna, o do atacante malinês e o do volante brasileiro, que já tinham bastante experiência. No entanto, nenhum deles jamais havia atuado no futebol italiano. Eram, portanto, escolhas temerárias.
Os três maiores reforços do Benevento até se adaptaram rapidamente ao time. Diabaté marcou oito gols em 11 jogos, Sandro se tornou pilar e capitão dos sanniti e Sagna, por sua vez, assumiu a titularidade na lateral direita. Comandada por Roberto De Zerbi, a equipe giallorossa teve um rendimento bem superior no returno e somou quatro vitórias, incluindo uma sobre o Milan em San Siro. No entanto, amargando a lanterna, os bruxos tiveram o rebaixamento confirmado após a 34ª rodada.
Sagna teve a chance de atuar em apenas 15 rodadas do returno pelo Benevento. Perdeu uma delas por conta de fadiga muscular e, numa outra ocasião, acabou ficando no banco. Nas 13 partidas restantes, entrou sempre em campo, sendo 10 como titular. Contra a Fiorentina, chegou a usar a faixa de capitão dos sanniti. O francês marcou seu único gol pelos giallorossi no empate por 3 a 3 com a Udinese, justamente no jogo posterior à confirmação matemática do descenso.
A insólita e curta passagem de Bac pela Serie A se encerrou com a queda do Benevento. Era possível que o francês encerrasse a carreira ali, mas ele acabou assinando com o Montréal Impact, da Major League Soccer, onde permaneceu até 2019 – antes de pendurar as chuteiras, aos 36 anos, o lateral-direito faturou o Campeonato Canadense. Atualmente, Sagna mora em Dubai com sua família e é treinador na Ballers Performance Academy.
Bacary Sagna Nascimento: 14 de fevereiro de 1983, em Sens, França Posição: lateral-direito Clubes: Auxerre (2002-07), Arsenal (2007-14), Manchester City (2014-17), Benevento (2017-18) e Montréal Impact (2018-19) Títulos: Copa da França (2005), Copa da Inglaterra (2014), Copa da Liga Inglesa (2016) e Campeonato Canadense (2019) Seleção francesa: 65 jogos