Calciopédia
·13 de julho de 2024
Calciopédia
·13 de julho de 2024
Um pouco de magia e Itália classificada à final. Depois de muitas dificuldades ao longo da Copa do Mundo de 1994, a Nazionale contou com o poder de decisão de Roberto Baggio, seu maior craque e, num espaço de poucos minutos, encaminhou a vitória sobre a Bulgária, uma das sensações do torneio, na semifinal. Porém, nem tudo foram flores os azzurri, que viram o icônico camisa 10 deixar o campo com um estiramento na coxa direita e perderam Alessandro Costacurta por suspensão.
O caminho da Itália até a semifinal foi bastante tortuoso. Primeiramente, a Nazionale se classificou ao mata-mata como uma das terceiras melhores colocadas após a quádrupla igualdade de pontos e saldo entre as seleções do Grupo E, na única vez na história das Copas em que isso ocorreu. Após derrota para a Irlanda, vitória contra a Noruega – com um a menos em campo – e empate com o México, avançou devido ao número de gols marcados. Depois, nas oitavas, empatou com a Nigéria no finalzinho do tempo normal e virou na prorrogação. Por fim, protagonizou, nas quartas, um duelo duríssimo e ensanguentado com a Espanha.
Para além do drama em campo, o acidentado percurso da Itália teve várias outras questões. Contra a Noruega, os azzurri perderam Franco Baresi, que lesionou o menisco e não tinha mais previsão de atuar naquela Copa do Mundo, e Gianluca Pagliuca, que foi expulso e acabou suspenso por dois jogos. Naquele mesmo confronto, os italianos precisaram lidar com um princípio de crise entre Baggio e o técnico Arrigo Sacchi, que tirou o craque do gramado aos 21 minutos, para recompor a defesa. Por fim, Mauro Tassotti desferiu uma cotovelada sobre Luis Enrique, nas quartas, e recebeu um gancho de oito partidas.
Contra a Bulgária, uma das sensações daquela Copa, a Itália teve alguns de seus melhores momentos na competição (Allsport)
A Itália, porém, tinha motivos de alento. Mesmo com todas as dificuldades e nem sempre jogando bem ou sendo capaz de promover a filosofia de Sacchi, a seleção vinha conseguindo impor a sua força e, aos trancos e barrancos, fazer valer o seu posto entre as favoritas ao título. Além disso, Robi Baggio, Bola de Ouro e melhor do mundo pela Fifa em 1993, superou os momentos negativos na fase de grupos e cresceu no mata-mata, ainda que castigado por problemas físicos: marcou os dois da virada sobre a Nigéria e definiu o triunfo sobre a Espanha.
Do outro lado, a Bulgária disputava o sexto Mundial de sua história e protagonizava a sua melhor campanha, embalada por Hristo Stoichkov, até então um dos vice-artilheiros da competição, com cinco gols – um a menos que o russo Oleg Salenko. Os leões dos Bálcãs haviam saído do Grupo D, tal qual a Nigéria, única rival que havia lhes derrotado até então. Os búlgaros superaram Grécia (4 a 0) e Argentina (2 a 0) na chave, eliminaram o México nos pênaltis, após 1 a 1 com a bola rolando, e, nas quartas, obtiveram um incrível 2 a 1 de virada sobre a Alemanha, que defendia o título de 1990. A seleção treinada por Dimitar Penev era uma das sensações do torneio, ao lado de Romênia, Suécia e dos já citados nigerianos.
Mais uma vez decisivo: Baggio abriu o placar em Nova Jérsei com uma bela jogada individual (Allsport)
Stoichkov, vale destacar, estava com vários italianos engasgados na garganta. Craque do Barcelona, pouco tinha visto a cor da bola dois meses antes, em Atenas, quando o Milan atropelou o Dream Team de Johan Cruyff – que ainda contava com Romário – e, graças a um sonoro 4 a 0, faturou a Champions League. Baresi e Alessandro Costacurta não jogaram aquela final contra o Barça, mas outros rossoneri da Itália estavam em campo na Grécia: Paolo Maldini, Demetrio Albertini, Roberto Donadoni, Daniele Massaro e o suspenso Tassotti. O búlgaro buscava a revanche e, simultaneamente, colocar o seu país numa improvável decisão de Copa do Mundo.
A partida não começou nada boa no Giants Stadium, em East Rutherford – o mesmo estádio em que a Itália havia atuado contra Irlanda e Noruega e no qual a Bulgária eliminara México e Alemanha. Em Nova Jérsei, os dois lados apostavam muito na iniciativa individual de seus jogadores e em arremates de média e longa distância. Os leões balcânicos até pareciam mais organizados, tentando encontrar Stoichkov, Emil Kostadinov e Nasko Sirakov através dos habilidosos Yordan Letchkov e Krasimir Balakov. Os azzurri, por outro lado, viam apenas em Albertini a vontade de controlar o ritmo do jogo.
Robi Baggio marcou dois gols em sequência e encaminhou a passagem da Itália para a final (Allsport)
Até que, aos 21 minutos, aconteceu a magia. Donadoni cobrou lateral, Robi Baggio ganhou de Zlatko Yankov no corpo, deixou Petar Hubchev sentado e bateu no cantinho, superando o goleiro Borislav Mihaylov e sua inesquecível peruca. Um gol mais simples do que o marcado sobre a Checoslováquia, na Copa de 1990, mas que evocava a mesma habilidade na perna direita.
Após o belo gol do Divin Codino, a partida se aqueceu – e a Itália se animou. Logo após a pérola, Baggio ajeitou para Albertini disparar um forte arremate de trivela. A bola ia no cantinho, mas Myhaylov resvalou nela e a direcionou para a trave. Na sequência, foi Donadoni que serviu o camisa 11, novamente perto da meia-lua. Dessa vez, o volante procurou uma cavadinha para encobrir o arqueiro, que reagiu com uma defesa de mão trocada.
No fim do primeiro tempo, Stoitchkov superou Pagliuca, especialista em pênaltis, e descontou para a Bulgária (Bongarts/Getty)
Muito ativo naquela fase da partida, Albertini apareceria novamente naquela região do campo aos 25 minutos. Desta vez, não para definir, mas para dialogar com Roberto Baggio: o seu passe por elevação, em profundidade, quebrou a última linha da defesa búlgara e permitiu que o craque se antecipasse a Trifon Ivanov e finalizasse cruzado, marcando o segundo da Itália e seu quinto no torneio, do qual foi um dos vice-artilheiros. Eram os melhores momentos da seleção de Sacchi naquela Copa do Mundo e, por pouco, os azzurri não ampliaram. Pierluigi Casiraghi tentou um arremate em diagonal e mandou para fora, enquanto Donadoni tirou tinta da trave com chute cheio de efeito.
Na reta final do primeiro tempo, a Bulgária ameaçou com Balakov e a Itália respondeu com uma potente cabeçada de Maldini, que raspou o poste de Myhaylov. Bem perto do intervalo, então, Sirakov fez boa jogada individual e penetrou na área azzurra, sendo ensanduichado por Costacurta e Pagliuca. Pênalti evidente, assinalado pelo árbitro Joël Quinniou. Stoichkov foi para a cobrança e não se intimidou com o arqueiro, especialista em penalidades: deslocou o italiano e reduziu a desvantagem búlgara.
Emoção ao apito final: superando muitas dificuldades, a Itália se classificuou para a decisão da Copa de 1994 (Allsport)
Por conta do gol de Stoichkov, o segundo tempo não seria apenas uma formalidade para a Itália. Tentando poupar as energias de seus jogadores, Sacchi optou por uma postura mais cautelosa e manteve os azzurri na defesa, aguardando a Bulgária. Deu certo, pois nenhuma jogada digna de nota ocorreu na etapa complementar. A única chance mais clara foi, inclusive, da Nazionale, num impedimento mal marcado de Casiraghi – que cortaria Myhaylov e seria derrubado por Iliyan Kiryakov dentro da área.
O segundo tempo, entretanto, não foi nada tranquilo para a Itália, reafirmando as dificuldades daquela campanha nos Estados Unidos. Aos 61 minutos, Costacurta cometeu falta dura sobre Stoichkov e levou cartão amarelo. Assim como ocorrera na Champions League, meses antes, se tornou desfalque para a final por suspensão – e, àquela altura, não se imaginava que Baresi seria capaz de se recuperar para a decisão de Pasadena. Para piorar, Roberto Baggio sofreu um estiramento na coxa e também foi dado como ausência na Califórnia.
Ao apito final, os italianos, exaustos, se emocionaram com a conquista da vaga na decisão – Robi Baggio, por exemplo, se debulhou em lágrimas. Porém, todos sabiam das enormes dificuldades que teriam de superar na partida seguinte, contra Brasil ou Suécia, que jogariam poucos minutos depois. Como se sabe, o Divin Codino e Baresi seriam escalados no duelo com o Brasil, vitorioso na semifinal, e desperdiçariam suas cobranças na disputa de pênaltis, levando a Canarinho ao tetracampeonato mundial, atirando a Itália em mais um drama naquele verão escaldante e a mantendo com “apenas” três títulos. Já a Bulgária perderia dos suecos e ficaria na quarta colocação.
Bulgária: Myhaylov; Kiryakov, Hubchev, Ivanov, Tsvetanov; Letchkov, Yankov, Balakov; Sirakov; Stoichkov (Genchev), Kostadinov (Yordanov). Técnico: Dimitar Penev. Itália: Pagliuca; Mussi, Costacurta, Maldini, Benarrivo; Berti, Albertini, D. Baggio (Conte), Donadoni; R. Baggio (Signori), Casiraghi. Técnico: Arrigo Sacchi. Gols: Stoichkov (44′); R. Baggio (21′ e 25′) Árbitro: Joël Quiniou (França) Local e data: Giants Stadium, East Rutherford (Estados Unidos), em 13 de julho de 1994