«Dei 7,1 milhões de euros ao Sporting. Nada mau para quem é um benfiquista confesso» | OneFootball

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Zerozero

·10 de outubro de 2024

«Dei 7,1 milhões de euros ao Sporting. Nada mau para quem é um benfiquista confesso»

Imagem do artigo:«Dei 7,1 milhões de euros ao Sporting. Nada mau para quem é um benfiquista confesso»

[NOTA: João Rodrigues faleceu no dia 29 de setembro de 2024, aos 91 anos. Poucas semanas antes, sentou-se com o jornalista Rui Miguel Tovar para gravar este 'Barrilete Cósmico'. Com a devida autorização da família, o zerozero publica a entrevista póstuma, em forma de homenagem e agradecimento ao antigo presidente da FPF]  Sete filhos, 14 netos e cinco bisnetos. É de homem. É a vida preenchida de João Rodrigues, presidente da Federação Portuguesa de Futebol durante a conquista do Mundial sub20 em 1991 e figura mundial do jet-set futebolístico. Deixou-nos repentinamente, no final de Setembro, aos 91 anos de idade, antes de ver a sua entrevista publicada no zerozero.

Por ocasião da publicação de um livro da FPF sobre todos os presidentes, a propósito do fim de ciclo de Fernando Gomes, cabe-me a mim a fatia de me envolver na vida e obra de João Rodrigues. Como escriba e biógrafo. Aceito o desafio, só depois da luz verde de João Rodrigues. ‘Ó meu amigo, é a melhor pessoa para o fazer.’


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A razão é sentimental. João Rodrigues é natural de Celorico da Beira, de onde é natural a minha avó paterna. Atenção, desconheço esse laço por completo. É uma (boa) novidade. Mãos à obra. Quatro almoços e um jantar depois, em três restaurantes em Lisboa e um na Linha, está traçado, escrito e aprovado o perfil de João Rodrigues como presidente da FPF. Que figura, só vos digo.

As histórias são imensas, e todas riquíssimas. Até as que envolvem o meu pai. ‘Tinha uma memória prodigiosa.’ Até aqui, tudo bem. ‘Sabia todos os resultados de futebol de cor e salteado.’ Mais do mesmo, muito obrigado. ‘Sabia as matrículas dos carros de todos os amigos.’ Isso já é uma novidade. Continue, se faz favor. ‘Era um bem-disposto e conheci-o ainda no tempo em que era jornalista no Diário de Notícias, parava-se muito no Ribadouro para jantar a altas horas e numa tasca ali no Parque Mayer.’ Pronto, traço aqui a linha entre o engraçado e o cof cof cof não-publicável.

zerozero - Nasceu em Celorico da Beira, já percebi. E quando chegou a Lisboa?

João Rodrigues - Mudei-me para Lisboa aos dez anos de idade para estudar no Instituto Lusitano, no qual o meu avô paterno era diretor.

zz - E vivia?

JR - Na zona de Benfica e fiz-me sócio do Sport Lisboa e Benfica para poder frequentar, sobretudo, o cinema junto à sede do clube, na Avenida Gomes Pereira.

zz - Já tinha visto o Benfica ao vivo e a cores?

JR - Olhe, essa é boa. Uma vez, o Benfica foi jogar com o União Desportiva, à Guarda, e o meu pai deu-me uma bofetada porque preferi o jogo à sua companhia. Nunca me esquecerei.

zz - Do estalo?

JR - Ahahahah. E do Benfica. E do Hotel Turismo, onde o Benfica ficou hospedado.

zz - Fez desporto, o João?

JR - Joguei râguebi e levava porrada como nunca. A minha vantagem era a minha velocidade.

zz - E foi longe na sua carreira académica?

JR - Entrei na Faculdade de Coimbra.

zz - Para tirar?

JR - Direito.

zz - E que tal?

JR - Uma alegria infinita, conheci grandes nomes da cultura portuguesa, como Correia da Rocha [Miguel Torga é o seu pseudónimo] e Cândido de Oliveira.

zz - A sério?

JR - Sim senhor. Ó Rui, o Cândido de Oliveira é uma figura inimitável.

zz - Imagino.

JR - Pode crer. Foi a maior figura do nosso futebol, a mais irrepetível: ele foi jogador, treinador, selecionador, jornalista, repórter, contador de histórias. Era um homem introvertido para quem não conhecia e um ‘mãos-largas’ para os amigos. Morava no Hotel Astoria e nunca me esquecerei das tertúlias na tasca António Ladrão durante aquela época 1957-58, antes do seu brutal desaparecimento, a meio do Mundial 1958, na Suécia, vítima de uma pneumonia.

zz - E o Miguel Torga?

JR - Tenho uma boa, com ele.

zz - Conte, se faz favor.

JR - Levei-o a ver o Benfica-Manchester United. Foi engraçadíssimo, porque vimos um jogo notável em que sobressaiu uma figura imensa chamada George Best.

zz - E mais, e mais?

JR - Olhe, entrei em 1959 para os quadros da Associação Académica de Coimbra, na secção do Organismo Autónomo de Futebol. Sou responsável nesse ano pela ida do guarda-redes João Maló dos juniores do Benfica para a Académica. O Maló foi um guarda-redes de excelência e defendeu a baliza da Académica por 11 épocas seguidas. Até foi internacional português.

zz - E mais transferências?

JR - Também sou responsável pelas transferências de dois seniores da Académica para o Benfica.

zz - Ui, a sério?

JR - Tudo a sério, ó Rui. A coisa foi complicada com o Toni em 1968, porque ele tinha um familiar na zona de Lisboa a negociar com o Sporting. Só que o Toni entrou em ação e colocou como única condição que o Benfica se responsabilizasse pelas despesas dos estudos de uma irmã mais nova durante os três anos imediatamente seguintes à sua saída de Coimbra. Feitas as contas, tudo isso se traduzia num encargo de cerca de 75 contos.

zz - Caramba. E o outro jogador?

JR - Foi o Artur Jorge, no ano seguinte. Ele estava reunido com dirigentes do Sporting no Hotel Bragança, em Coimbra. Tomei conhecimento do facto e pedi ao Artur Jorge para pedir escusa da reunião, por culpa de um problema de saúde do seu pai. Assim foi, e o Benfica pôde contratá-lo uns dias depois, em Mafra. Também ajudei o Jorge Humberto a ir para o Inter. Aliás, levei o treinador argentino Helenio Herrera às Antas para ver o Jorge em ação, num célebre FC Porto-Académica, em que os jogadores entraram no balneário ao intervalo e depararam-se com um cadáver estendido ao comprido.

zz - Como?

JR - Acredite, é verdade.

zz - Assustador.

JR - Pois é.

zz - E volta a Lisboa ou…?

JR - Voltei, sim. Trabalhei três anos na Polícia Judiciária, entre 1967 e 1969, ali na Rua Gomes Freire 174. Comecei nos costumes e passava a vida nas ruas, atento a tudo o que se mexia. Também havia trabalho de secretária, claro, sobretudo relacionado com cheques extraviados, cheques carecas e afins. Mais à frente, mudei-me para a Parede. Aliás, até fui eleito presidente do Parede Foot-ball Club, só com o intuito de seguir mais de perto a carreira do filho mais velho no hóquei em patins.

zz - Que maravilha.

JR - O João Pedro formou-se no Parede e foi campeão nacional júnior. Depois foi jogar para o Benfica e até chegou à seleção nacional.

zz - Uauuuu. Desculpe o minimal-repetitivo, e mais?

JR - Olhe, entrei no Benfica como secretário-geral.

zz - Quando?

JR - Em Maio de 1981, por ocasião da vitória de Fernando Martins nas eleições presidenciais.

zz - E quanto tempo durou a aventura?

JR - Só uns dias.

zz - Porquê?

JR - Fui a uma primeira reunião em que estavam presentes Fernando Martins, um vice-presidente, o tesoureiro e um outro dirigente. Falou-se da situação do futebol no clube e falou-se designadamente da questão da direção técnica da equipa, que, na altura, se encontrava entregue ao húngaro Lajos Baroti. As posições não eram consensuais, mas isso de pouco adiantava, porque Fernando Martins nos faz saber que ali quem mandava era ele, já que era o presidente da direcção. Em face disso, resolvi ir-me embora. Para não mais voltar. Se ele era quem mandava, se era ele quem decidia, para que necessitava de uma direção e para que necessitava de acobertar-se noutras pessoas para acabar por decidir sozinho e a todos impor a sua vontade?

«O Benfica aproveitou o fim do contrato e assinou com o Figo»

zz - Quando é que volta ao futebol?

JR - No início do ano de 1988, sou surpreendido pelo convite de Adriano Afonso, Marcel de Almeida e José Gomes Machado para suceder a Malaquias de Lemos na presidência da Associação de Futebol de Lisboa.

zz - E que tal?

JR - Apanhei excelente pessoal, desde o secretário-geral, Armando Carmezim, até aos restantes funcionários. Formou-se uma boa equipa e criou-se amizade. Sabe quem apanhei mais?

zz - Nem ideia.

JR - O caso Figo

zz - Caso Figo? Não estou ao corrente.

JR - É um dos casos mais mediáticos do futebol juvenil nos anos 80. O Benfica aproveitou o fim de contrato do Figo e assinou um contrato. O Gaspar Ramos [dirigente do Benfica] informou-me da novidade, que o Benfica tinha um contrato novinho em folha assinado pelo pai, também pelo próprio jogador e ainda o bilhete de identidade original do Luís em sua posse. Se tudo corresse bem, o Benfica ficava com o Figo a custo zero. Acontece que, naquela altura, a inscrição dos jogadores na sede da Associação era por ordem de chegada. Os representantes do Sporting chegaram às quatro da manhã, os do Benfica mais tarde. Resultado, o Sporting também tinha um contrato (de renovação) com o Figo.

zz - Incrível, desconhecia por completo.

JR - Também como presidente da Associação de Futebol de Lisboa, vi uma cena emocionante a propósito da chegada dos campeões mundiais sub-20, na Arábia Saudita, em 1989. Fui ao Aeroporto da Portela para receber todos aqueles jogadores históricos e apanhei o Paulo Sousa a chorar. Perguntei-lhe o porquê e ele ainda se desfez mais em lágrimas: ‘Está aqui toda a gente e os meus pais não conseguiram vir’”. Mais tarde, e a propósito da renovação pelo Benfica, o mesmo Paulo Sousa só queria receber cinco mil contos. “Perguntei-lhe o porquê desse valor e ele desarmou-me: ‘Quero comprar um andar para os meus pais’”.

zz - Quando entra para a presidência da FPF?

JR - Em 1989.

zz - Fácil, a eleição?

JR - Ganhei com um avanço considerável sobre o então presidente, Silva Resende.

zz - E os primeiros dias no mandato, como foram?

JR - Olhe, consegui uma proeza incrível, a da nomeação de Portugal como país sede para a organização do Mundial sub19, na altura era sub19, em 1991. Falei pela primeira vez com João Havelange, presidente da FIFA. Foi em Milão, durante o congresso da FIFA, que também serviu para o sorteio da fase final do Mundial 1990, em Itália. O Havelange recebeu-me às oito e meia da manhã, como era seu hábito, e disse-me que ia retirar a organização à Nigéria por irregularidades nas inscrições dos jogadores no último Mundial da categoria, perdido para Portugal, na Arábia Saudita. Nunca mais me esqueço, disse-me para esperar por uma decisão até depois de almoço. E, realmente, depois de almoço, reunimo-nos e ele confirmou-me Portugal como organizador, após uma reunião para debater a mudança de sede.

zz - Havia condições para organizar um Mundial em Portugal?

JR - Claro que sim, ó Rui. Se todos trabalharmos para o mesmo lado, tudo se consegue. Foi o que aconteceu. A minha grande sorte foi a presença de Roberto Carneiro [Ministro da Educação], ajudou-me bastante nos pedidos por mim efectuados, como a proposta enviada para o Primeiro-Ministro Cavaco Silva para melhorar os cinco estádios do Mundial [Antas, no Porto / Luz, em Lisboa / D. Afonso Henriques, em Guimarães / 1.º de Maio, Braga / São Luís, em Faro].

zz - Viu os jogos todos de Portugal nos estádios?

JR - Todos, os seis. A final com o Brasil foi especial.

zz - Nem imagino.

JR - Depois do jogo, havia um jantar no Hotel Altis e fui no carro do primeiro-ministro Cavaco Silva. Às tantas, ele diz ao motorista para entrar na faixa contrária ao sentido da marcha e descemos assim a Avenida da República mais a Avenida da Liberdade, sempre com faróis acesos. Estava tudo maluco.

zz - Já havia prémios de jogo?

JR - Olhe, ó Rui, por minha iniciativa, os jogadores e equipa técnica recebem prémio de vitória pelo título mundial em 1991, algo inédito na história da Federação Portuguesa de Futebol. Atribuí mil contos ao seleccionador, 500 ao adjunto Nelo Vingada e outros 500 a cada jogador.

zz - E o resto do mandato, extra-Mundial sub20?

JR - Por minha iniciativa, havia controlo anti-doping em cinco jogos por jornada. Fazíamos um sorteio e havia quem pagasse para fazer o controlo por fora, caso não saísse o seu jogo naquele fim-de-semana. Por minha iniciativa, mantive um só jogo em direto na RTP por jornada. Não autorizava mais, e só era o de sábado, porque achava que os jogos deviam começar à mesma hora no domingo.

zz - E nunca teve um dissabor?

JR - Tantos. Um foi a tentativa de redução da 1.ª divisão para 16 clubes. Quando fui eleito presidente, em Novembro 1989, eram 20 equipas. Estava decidido a reduzir de imediato para 18 e ainda propus 16, mas a Assembleia Geral da FPF não me autorizou.

«A CD da FIFA queria castigar o João V. Pinto para sempre»

zz - Na FPF teve de lidar com alguma bronca descomunal?

JR - O caso Francisco Silva, serve?

zz - Caramba.

JR - Foi o único caso de um árbitro irradiado, com processo disciplinar. Mal se soube do caso lá fora, o Ángel María Villar, presidente da Real Federação Espanhola de Futebol e presidente do Comité de Arbitragem da FIFA, ligou-me a dizer que o Francisco Silva nunca mais voltaria a ser internacional. E nunca mais o foi, na verdade.

zz - Sai da FPF e…?

JR - O meu primeiro trabalho pós-FPF é como membro do Júri D’Appel (Comissão de Apelo) da FIFA no Mundial sub-20 em 1993, na Austrália. Como a viagem de avião de Lisboa para Sidnei faz escala em Madrid, fui ver o PSG do Artur Jorge ao Santiago Bernabéu. Perdeu 3-1, mas passou a eliminatória.

zz - Pois é, lembro-me bem de si nas UEFA’s e FIFA’s desta vida.

JR - Fiz 18 anos na FIFA, entre 1990 e 2008, espalhados por três zonas: primeiro nos Assuntos Legais, depois no Jury d’Appel, finalmente na Comissão de Disciplina. Na primeira fase, desatei o nó a uns quantos imbróglios.

zz - De cá?

JR - Sim, sim.

zz - Então?

JR - O primeiro caso é o do avançado camaronês Missé-Missé no Verão de 1997 e o Sporting ganha 300 mil contos do Trabzonspor. O segundo caso é o do médio marroquino Mustapha Hadji e o Sporting encaixa 4,8 milhões de euros do Deportivo. O terceiro e último caso é o do avançado brasileiro Leandro Machado e o Sporting enche os cofres com dois milhões de euros do Valencia. Dei 7,1 milhões de euros ao Sporting. Nada mau para quem é um benfiquista confesso.

zz - Que categoria. Sinto-me obrigado a repetir-me: e mais?

JR - Também sou interlocutor da transferência de Paulo Sousa do Benfica para o Sporting, numa reunião entre três partes na sede da FIFA.

zz - Ui, o Verão quente?

JR - Isso mesmo, em 1994. O tribunal condenou o Sporting a pagar 640 mil contos e o Sporting, já com o Santana Lopes, não queria pagar. Então arranjou-se maneira de apresentar o problema a quem de direito. Organizei a reunião no salão nobre da FIFA às oito da manhã, com dois representantes da FIFA (João Havelange e Sepp Blatter) e mais três do Sporting e outros três do Benfica. O Santana Lopes é o primeiro a falar e diz isto: ‘Ó presidente, nós viemos aqui na boa fé de um caso, mas sabemos que estamos em desvantagem.’ O Havelange interrompe-o: ‘Como?’ E o Santana continua: ‘Sabemos que é muito amigo do João Rodrigues e ele é benfiquista.’ Acabou ali a reunião, o Havelange saiu de cena, tal como o Blatter. O Havelange entregou-me a pasta e estivemos a cozinhar o melhor acordo possível para ambas as partes até às oito da noite. Fizemos Zurique-Madrid no avião comercial e Madrid-Lisboa no avião privado do José Roquette, porque já não fazia voos diretos da Suíça para Portugal àquela hora.

zz - Que cambalacho.

JR - Olhe, outra: sou nomeado presidente do Conselho de Disciplina para o primeiro Mundial de clubes, em 2000, no Brasil, e sou obrigado a intervir no único caso bicudo. O filho de Eurico Miranda, presidente do Vasco da Gama, deu um murro num funcionário da FIFA, porque queria entrar à força no balneário do Vasco da Gama sem mostrar a credencial, a pedido do tal funcionário. Reunimo-nos e deliberámos a proibição do filho de Eurico Miranda da entrada em recintos desportivos por dois anos.

zz - Por falar em murros, onde andava o João Rodrigues no Mundial-2002?

JR - Ahhhhhhhh. [sorri]

zz - Diga lá.

JR - Estava no Japão, fazia parte da Comissão de Disciplina da FIFA no Mundial-2002.

zz - Pois, e o caso João Pinto?

JR - Havia reuniões diárias no Japão, sede da FIFA nesse Mundial, para apreciação dos relatórios dos árbitros e elaboração de castigo. Disse ao Gilberto Madaíl [presidente da federação] para não se meter e fui à reunião, no dia seguinte ao Portugal-Coreia do Sul. Cheguei atrasado, pedi desculpa e perguntei se devia estar ali porque estávamos a debater o caso de um compatriota meu. O presidente da dita comissão, que era o presidente da federação suíça, insistiu na minha presença e fiquei na sala. A maioria dos presentes queria castigar João Vieira Pinto para sempre. A irradiação esteve em cima da mesa, só que houve quem se intrometesse e sugerisse a suspensão preventiva, o envio de uma nota de culpa e a proposta de uma audição, tanto ao jogador em causa como ao árbitro. Deram-me razão e notificaram o João Vieira Pinto da suspensão preventiva.

zz - Quatro anos depois, o Mundial é na Alemanha. O João Rodrigues não está envolvido na candidatura de Marrocos?

JR - É verdade, sim senhor, fiz parte da comissão da candidatura de Marrocos à organização da fase final do Mundial-2006, juntamente com o jornalista João Querido Manha, entre outros ilustres figuras internacionais. O evento foi em Zurique e, na véspera do anúncio do vencedor, Marrocos estava lançadíssimo para a vitória. Nem havia dúvidas. De repente, durante a madrugada, houve virada de mesa. Ou seja, houve quem se decidisse por mudar o voto a troco de uns quantos milhões e foi a Alemanha a eleita.

zz - Há pouco falou da sua presença na FIFA de 2000 até 2008. A saída deve-se a quê?

JR - Ao Blatter.

zz - Ai sim?

JR - O Blatter criou uma comissão de ética e retirou o título honorário ao seu antecessor, o brasileiro João Havelange. Sempre fui amigo do Havelange, desde a primeira hora, e ele foi um homem que se dedicou de corpo e alma à FIFA. Detentor de uma fortuna considerável e a trabalhar num banco, atirou-se para a frente e modernizou a FIFA como nunca. Ainda esteve no cargo sem receber um tostão durante uns tempos, mas, depois, apresentou uma proposta no sentido de renumerar o presidente da FIFA. Todos aceitaram. Anos depois, Blatter desfaz. E isso não se faz. Ponto.

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