Depois de três vices seguidos, o Ulsan Hyundai lava a alma e reconquista a K-League para encerrar 17 anos de jejum | OneFootball

A K-League atravessava a maior hegemonia de sua história. Desde que o Campeonato Sul-Coreano foi criado, nos anos 1980, nunca tinha visto um domínio tão grande no topo da tabela quanto o recente. O Jeonbuk Hyundai Motors vinha de um pentacampeonato consecutivo, com sete troféus nas últimas oito edições da liga e nove taças no total desde 2009. Os Dinos, entretanto, viram sua dinastia chegar ao fim graças ao Ulsan Hyundai. Donos de três títulos, os Tigres não eram campeões desde 2005. Já tinham encaminhado a conquista no final de semana anterior, com uma épica virada exatamente diante do Jeonbuk, graças a dois gols nos acréscimos do segundo tempo. E a festa se concluiu neste domingo, com o triunfo por 2 a 1 sobre o Gangwon, que confirmou o feito com uma rodada de antecedência.

Embora Jeonbuk e Ulsan levem a Hyundai no nome, os dois clubes pertencem a setores diferentes do conglomerado. Enquanto o Jeonbuk está ligado à indústria automotiva, o Ulsan é propriedade do departamento de construção de navios e maquinaria pesada. Fundados em 1983, os Tigres se mudaram para Ulsan em 1990 e tiveram relativo sucesso desde então. Os auriazuis conquistaram o título da K-League em 1996 e 2005. O problema era mesmo a quantidade de vices, dez no total. A falta de glórias mais constantes no torneio doméstico, aliás, contrastava com a relevância continental. Enquanto o jejum imperava na Coreia do Sul durante os últimos 17 anos, o Ulsan faturou duas edições da Champions Asiática, em 2012 e 2020. Também participou por duas vezes do Mundial de Clubes, eliminado logo de cara.

A hegemonia recente do Jeonbuk na K-League teve o Ulsan como seu principal concorrente. Os três últimos títulos dos Dinos registraram os Tigres como vice-campeões. Em 2019, o Ulsan deixou o troféu escapar na última rodada, ao ser goleado pelo Pohang Steelers enquanto o Jeonbuk fazia sua parte contra o Gangwon. As duas equipes ficaram com os mesmos 79 pontos e os verdes levaram a melhor no número de gols marcados, principal critério de desempate da K-League, com um tento a mais. Já em 2020, a ultrapassagem ocorreu na penúltima rodada, quando os Dinos venceram o confronto direto e fecharam a liga três pontos à frente. Em 2021, a diferença seria de dois pontos, sem ultrapassagem, mas com uma derrota dos Tigres aos 50 do segundo tempo no confronto direto da reta final. Em meio a tamanho amargor, o Jeonbuk ainda derrotou o Ulsan na final da Copa Sul-Coreana de 2020.

A temporada de 2022, enfim, permitiu ao Ulsan Hyundai superar seus traumas na K-League. Os Tigres tomaram a liderança ainda na terceira rodada e não largaram mais. O campeonato possui três turnos entre todas as 12 equipes, além de uma fase final em turno único que inclui confrontos diretos entre os seis primeiros colocados. Foi neste momento que ocorreu o maior risco para o Ulsan. A quatro rodadas do fim, aconteceu o confronto direto com o Jeonbuk. Os Dinos venciam em Ulsan por 1 a 0, o que deixaria as duas equipes separadas por dois pontos na tabela. Entretanto, Martin Ádám empatou aos 52 do segundo tempo e virou aos 55. O triunfo por 2 a 1, apoteótico, ampliava a diferença na tabela para oito pontos e abria o caminho para os Tigres.

O Ulsan Hyundai até empatou na rodada seguinte, por 1 a 1 diante do Pohang Steelers. Já neste domingo, a confirmação da taça aconteceu na visita ao Gangwon. Kim Daw-won abriu o placar para os anfitriões, mas Um Won-sang empatou aos 30 do segundo tempo e Martin Ádám, sempre ele, determinou a virada aos 41 minutos. Seis pontos à frente, o Ulsan não pode mais ser alcançado pelo Jeonbuk. Assim, a rodada final servirá apenas para sacramentar a festa dentro de casa.

Por aquilo que aprontou nessa reta final, Martin Ádám é a face da conquista do Ulsan Hyundai. O goleador húngaro chegou ao time em julho, contratado junto ao Paks, de seu país. Anotou nove gols em 13 partidas pelo Campeonato Sul-Coreano, incluindo os mais importantes da reta final. Entre os estrangeiros do elenco está o brasileiro Leonardo, formado pelo Santos, que assinalou 11 gols na fase de classificação. Também vale mencionar o ponta Valeri Qazaishvili, presente na ascensão recente da seleção georgiana. Já dentre os veteranos da seleção sul-coreana, o zagueiro Kim Young-gwon e o ponta Lee Chung-yong são nomes relevantes de Copas do Mundo, enquanto o banco conta com o rodado centroavante Park Chu-young, que chegou a passar pelo Arsenal. Dos mais jovens, o atacante Um Won-sang tem 23 anos e apareceu em convocações recentes da Coreia do Sul. Contribuiu com 12 gols e seis assistências na K-League, importante arma ofensiva dos Tigres.

Por fim, no banco de reservas, o Ulsan Hyundai conta com uma verdadeira lenda. Hong Myung-bo está entre os maiores jogadores da história da seleção da Coreia do Sul, com 136 partidas disputadas e presença em quatro Copas do Mundo. Após pendurar as chuteiras, o ex-zagueiro treinou os sul-coreanos nas Olimpíadas de 2012, quando levou o time ao bronze, e no Mundial de 2014. O Ulsan é exatamente sua primeira experiência na K-League, à frente do time desde dezembro de 2020. Apesar do vice na temporada passada, conseguiu dar a volta por cima e representou uma quebra tremenda na competição nacional.

A lista de campeões da K-League é bastante equilibrada. O Ulsan Hyundai é o clube que mais vezes ficou entre os dois primeiros colocados, mas é apenas o sétimo maior vencedor, com três troféus e dez vices. O Jeonbuk, com nove taças, permanece como o time de maior sucesso no campeonato. Ambos disputarão a próxima edição da Champions Asiática, garantidos na fase de grupos. O terceiro colocado também se classificará ao torneio continental, atualmente o Pohang Steelers.