Trivela
·12 de outubro de 2021
Trivela
·12 de outubro de 2021
Texto originalmente publicado em 12 de outubro de 2016, reeditado e atualizado
No auge da sua velocidade e explosão, quando Ronaldo arrancava com a bola no pé e campo para correr, era impossível pará-lo. Não adiantava fazer falta porque ele não caía. Não adiantava dar o bote porque ele driblava. Não adiantava apenas cercar porque ele mudava de direção. Não adiantava correr atrás porque nem uma moto alcançava o Fenômeno com a quinta marcha engatada. Não adiantava fazer nada. O jeito era contemplar.
Um dos golaços mais lembrados da carreira de Ronaldo calhou de ter saído contra o Compostela, mas, pelos motivos acima, poderia ter acontecido com qualquer time. Em 12 de outubro de 1996, 25 anos atrás, ele pegou a bola no meio-campo e se transformou em uma força da natureza implacável para colocá-la nas redes do goleiro adversário. Era a sétima rodada da temporada 1996/97 do Campeonato Espanhol. O palco, o estádio Multiusos de San Lázaro. O relógio marcava 36 minutos do primeiro tempo, e o placar foi modificado para 3 a 0 a favor do Barcelona – que terminou ganhando por 5 a 1.
Pressionados por Ronaldo, Mauro García e Passi trombaram constrangedoramente. A bola sobrou para ser dividida entre o brasileiro e o marroquino Said Chiba. Chiba é o mesmo jogador que deu uma solada na coxa do brasileiro na Copa do Mundo de 1998. Ele perdeu a dividida, puxou a camisa de Ronaldo e deu um encontrão. Mas não adiantou. Ficou para trás.
Eis que apareceu José Ramón que, driblado pela puxada de bola que Ronaldo deu com o pé direito, passou batido. “Fiquei muito tempo pensando se deveria ter lhe dado uma pancada, porque até mesmo companheiros de profissão me disseram que deveria ter feito isso, mas, hoje em dia, acredito que fiz bem. O futebol precisa desses lances”, disse ao El País.
O próximo, William, partiu da intermediária junto com Ronaldo e até conseguiu tomar a frente e se transformar em obstáculo. Mas não um obstáculo muito difícil de ser superado: “Eu estava lá atrás e nunca pensei que ele passaria por três ou quatro colegas meus na zona central. Mas ele passou! Surgiu de frente para mim, com a bola controlada, em velocidade. Era muito complicado. Estava dentro da área e não quis dar o bote ou poderia fazer pênalti. Ele ameaçou para um lado, virou para o outro e foi impossível pegá-lo”, contou ao Record, de Portugal.
Bellido, enfim, chegou ao lance e até esboçou tentar bloqueá-lo, mas só apareceu na foto mesmo. “Não estávamos bem organizados porque perdemos a bola no meio do campo e ele foi entrando e driblando. Falaram que demos mole, mas não poderíamos ir com tudo contra ele. O lógico era deixá-lo passar. Ninguém espera que alguém recolha a bola e drible sete rivais”, afirmou ao El País.
O último refúgio do Compostela foi o goleiro Fernando. “Em nenhum momento imaginei que chegaria diante de mim. Eram muitos metros e havia muitos companheiros meus para serem superados. Ele driblou praticamente toda a equipe e, quando chegou à marca do pênalti, teve habilidade para por a bola no pé da trave. Foi uma demonstração de habilidade, técnica e potência”, disse ao Mundo Deportivo.
Foi tudo isso mesmo, o que só torna incrível a maneira como Ronaldo simplificou o lance, em entrevista publicada na edição do Mundo Deportivo do dia seguinte ao golaço. “Sim, eu me lembro da jogada: peguei a bola no meio de campo, fui até a área contrária e marquei”, disse. “A sensação que tive foi exatamente a mesma que sinto cada vez que consigo marcar um gol. Gosto de todos os gols que marco. Estou preparado e espero marcar mais gols assim durante a liga”. Anos depois, à Sports Illustrated, mudou um pouco o discurso: “O gol mais difícil que marquei foi pelo Barcelona contra o Compostela”.
Agora, sim, Fenômeno, você foi um pouco mais preciso.