Glorioso 1904
·31 de outubro de 2024
Glorioso 1904
·31 de outubro de 2024
A continuidade de Otamendi está a dar que falar e Rui Dias acredita mesmo que Rui Costa deverá já preparar um substituto para ocupar a vaga deixada pelo camisola 30 do Benfica.
“Otamendi entra em campo disposto à lotaria do tudo ou nada; do oito ou oitenta; do fracasso ou da glória que, num Mundo de mediatismo exacerbado, precisam de nomes próprios. Nele coabita o pecado sul-americano de prestigiar as ganas, a contundência, a picardia, o espírito do xerife arrogante nem sempre aconselhável a elementos cujo escrutínio é muito apertado e a responsabilidade grande em demasia”, começa por afirmar Rui Dias.
“Otamendi revela debilidades nos apoios perdendo assim vantagem para o atacante; nem sempre temporiza na relação com os adversários diretos e corre todos os riscos mesmo quando é o último homem. Mas como é possível um defesa com tantas debilidades ter sido tão reconhecido, atuado em grandes clubes e chegado tão longe na carreira? Como pode ter mais de 600 jogos como profissional, mais 119 pela seleção da Argentina?”, defende Rui Dias.
“Para lá das qualidades técnicas e físicas, é um líder da cabeça aos pés, uma referência pelo exemplo, nos treinos e nos jogos; pelas opções que toma em defesa do grupo, pelo modo como aglutina vontades, desperta os inertes, tranquiliza os nervosos e é a voz de cada um no universo que é o clube. Qualquer equipa é mais forte com um jogador que associe tantas qualidades a um prestígio planetário indiscutível”, considera Rui Dias.
“Na quinta época na Luz, Otamendi vive agruras só ao nível dos primeiros tempos com a camisola encarnada. E compreendem-se as razões: tem somado erros, alguns graves, e a sua presença no onze implica o afastamento de António Silva, um dos mais promissores centrais da Europa, com 20 anos, potencial negócio milionário para o Benfica e um dos jogadores mais queridos dos adeptos”, argumenta Rui Dias.
“Campeão do Mundo, com 25 títulos conquistados como profissional, tem resistido a sucessivas falhas comprometedoras, que excedem em larga escala as simples imprecisões técnicas; não são domínios mal feitos, passes transviados, interceções frustradas, caprichos da bola; são erros estruturais, o mais importante dos quais a perda de marcação em zonas problemáticas e a má avaliação dos tempos de contenção, que abrem autoestradas a adversários mais rápidos. Na memória coletiva só têm lugar os desvarios que acabam em golo. Mas o número total é muito maior”, afirma Rui Dias.
“As falhas que o penalizam são mais profundas do que a idade avançada – são consequência de um perfil futebolístico imutável –, prova de que o tempo não lhe trouxe tranquilidade e sabedoria para moderar os ímpetos juvenis trazidos do berço. O Benfica deve preparar já a sucessão, ir ao mercado de inverno e desenhar despedida condigna a um jogador que, sem se dar por isso, caminha para os 200 jogos de águia ao peito”, finaliza Rui Dias.