Gazeta Esportiva.com
·18 de março de 2022
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·18 de março de 2022
O Íbis Sport Club se orgulha da sua alcunha: o “pior time do mundo”. Seu mascote se chama “Derrotinha” e seus torcedores “protestam” quando a equipe vence jogos. Mas, depois de décadas de tropeços esportivos, este modesto clube do nordeste agora quer vencer.
Em campo, o chamado “Pássaro Preto” conquistou sua fama de eterno perdedor, principalmente no início dos anos 1980, e na era das redes sociais soube tirar proveito de um apelido que usava com bom humor, e do qual muitos fugiriam.
“Essa história do pior time do mundo fica para a década de 80 quando o Íbis foi realmente o pior time do mundo. Hoje não. Mas isso fica para o marketing, para que as pessoas nos conheçam”, diz à AFP o entusiasta presidente do clube, Ozir Ramos Júnior.
O dirigente de 64 anos justifica sua alegria com motivos esportivos e financeiros animadores, que deram asas a este clube do município de Paulista, localizado a cerca de 18 quilômetros de Recife, e que costuma disputar a segunda divisão do campeonato pernambucano.
Décadas de campanhas publicitárias humorísticas que repeliam a vitória renderam frutos em junho passado com a assinatura do maior patrocínio deste clube octogenário, com a empresa sueca de apostas online Betsson.
A “oferta” para Lionel Messi se juntar ao time depois de deixar o Barcelona (com a condição de não marcar “muitos gols” ou se tornar campeão), comparações com o PSG porque nenhum deles conquistou a Liga dos Campeões ou fizeram piadas com times em crise geraram uma visibilidade inesperada.
Os “vencedores” Por causa dessa fama “somos conhecidos em todo o planeta, mas isso não pode se misturar com o lado profissional”, esclarece Ramos.
O patrocínio possibilitou melhorar a infraestrutura e pagar salários ao elenco, formado por porteiros ou garçons que antes jogavam por “amor à camisa”.
Na temporada passada, o clube subiu pela primeira vez em 21 anos para a primeira divisão do campeonato pernambucano, que é disputado antes do início do campeonato brasileiro e é a porta de entrada para a Série D. Mas sua permanência está ameaçada devido aos maus resultados.
“Hoje em dia a gente está tentando tirar o Íbis desse marketing. A gente só trabalha com vencedor. A gente vai conseguir tirar”, diz Paulo Jessé, técnico e segurança de escola.
Fundado em 1938 pelos donos de uma empresa têxtil do Recife, o Íbis criou sua má fama ao passar três anos, onze meses e 26 dias sem vencer (de 20 de julho de 1980 a 17 de junho de 1984).
Foram 54 jogos sem comemorações (48 derrotas e seis empates), com 25 gols marcados e 225 sofridos, lembra Israel Leal, autor do livro “O Voo do Pássaro Preto: a história do Íbis, o pior time do mundo”.
Em meio a esta sequência, a revista Placar publicou a reportagem com o título “Este é o pior time do Brasil”. O clube se tornou então alvo de piadas, mas aproveitaram para criar uma marca sustentada na derrota e até para se gabar de ter obtido um recorde no livro Guinness do qual, no entanto, não há registro.
Segundo time dos pernambucanos “Eu acompanhei muitos anos o Íbis só perdendo e agora ele está ganhando. Mas a gente volta para aquela história de que o Íbis é resistência. De que o Íbis se parece muito com a gente quando está num período mais para baixo e começamos a lutar para poder vencer”, aponta Leal.
Embora Náutico e Sport, que oscilam entre a primeira e a segunda divisão do Brasil, sejam times mais populares, o Íbis já conquistou seu espaço em Pernambuco, pelo menos no coração dos torcedores.
“Para todo torcedor pernambucano sempre o segundo time é o Íbis”, garante Ramos, cuja família assumiu o clube depois que a empresa fundadora retirou seu apoio.
Lendas como o bicampeão mundial Vavá e Rildo, companheiros de Pelé no Santos, passaram pelas categorias de base do “Pássaro Preto”. Mas a simpatia foi alimentada por personagens cativantes, incluindo Mauro Shampoo, um cabeleireiro de cabelos compridos como o do colombiano René Higuita que defendeu a camisa vermelha e preta no final dos anos 1980.
Ídolo do clube, o ex-meia jura que marcou um gol, na goleada de 8 a 1 contra o Ferroviário de Recife. Mas não há registros do placar e o presidente na época alegou que foi um gol contra. “Daí ficou o folclore”, argumenta Leal. O folclore do “pior time do mundo”.