Última Divisão
·02 de abril de 2024
Última Divisão
·02 de abril de 2024
Por Antonio Oliveira
Antes de a bola rolar no Campeonato Brasileiro, o período de contratações acaba sendo um atrativo para o público, que espera ansiosamente pela chegada de reforços no seu time. Com a valorização da liga local e com a chegada de investidores em determinados clubes, alguns jogadores inesperados acabaram desembarcando no Brasil, para a surpresa de muitos.
O Botafogo anunciou o craque japonês Keisuke Honda, em 2020, e o lateral finlândes Niko Hämäläinen, em 2021. O Juventude contou com o capitão da seleção da Guatemala, Gerardo Gordillo, em 2023. No mesmo ano, o Coritiba teve o grego Andreas Samaris, ex-Benfica; o argelino Islam Slimani, ex-Leicester, Newcastle e Sporting; e o espanhol Jesé Rodríguez, ex-Real Madrid e PSG. E outras equipes chegaram próximas de contratar atletas de nacionalidades pouco comuns no futebol local.
Em meio a grandes reforços para o campeonato em 2024, um dos mais curiosos é o meia-atacante congolês, Yannick Bolasie, que chega com 34 anos ao Criciúma após passagens por clubes ingleses, como o Everton e o Crystal Palace, além do Sporting e do Anderlecht. O jogador se destacou na Europa, principalmente por seu estilo driblador – que levava os torcedores à loucura – e por sua velocidade com a bola no pé. No final de 2016, Bolasie sofreu uma lesão no ligamento cruzado do joelho, e precisou a partir daí tentar recuperar o seu melhor futebol.
Nascido em Lyon, na França, Yannick Bolasie cresceu em Londres, mas escolheu representar a República Democrática do Congo, país de origem de seus pais. Com 7 meses de vida, o novo reforço do Criciúma foi morar na Inglaterra e por lá deu os seus primeiros passos como jogador de futebol. Aos 16 anos, assinou o primeiro contrato profissional com o Hillingdon Borough, time da oitava divisão inglesa na temporada 2006/2007. Poucos meses depois, foi atuar em Malta pelo Floriana.
Em 2008, o congolês voltou à Inglaterra e assinou um contrato de dois anos com o Plymouth Argyle, que disputava a segunda divisão. Em meio a empréstimos para outras equipes e ao rebaixamento do clube, Bolasie foi contratado pelo Bristol City e, em apenas uma temporada, conquistou os torcedores ao se tornar um dos destaques do elenco, atraindo olhares do Crystal Palace.
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O meia-atacante esteve no elenco do Palace que conquistou o acesso à primeira divisão na temporada 2012/2013. No ano seguinte, estreou na Premier League, o principal campeonato nacional de clubes do mundo. Após uma temporada discreta na elite, o atleta viveu o seu auge na carreira na temporada 2014/2015, quando ajudou os Eagles a atingirem a 10ª colocação no campeonato nacional, a melhor campanha da equipe desde o retorno à competição. Em 34 jogos, Bolasie marcou quatro gols e deu onze assistências, feitos que o colocaram como um dos principais jogadores do Crystal Palace, rendendo a camisa 10 a ele na temporada seguinte.
Após o sucesso no time de Londres, o Everton resolveu desembolsar 25 milhões de libras para contar com o meia-atacante na Premier League 2016/2017. No entanto, poucos meses após a chegada, o jogador sofreu uma grave lesão no ligamento cruzado do joelho e teve de ficar cerca de um ano longe dos gramados, perdendo espaço no elenco. Ao retornar, foi emprestado ao Aston Villa para a disputa da segunda divisão inglesa e, posteriormente, ao Anderlecht, clube de maior expressão da Bélgica, onde conseguiu desenvolver um bom futebol, mesmo atuando em poucas partidas.
Na sequência, ainda atuou por Sporting, de Portugal, e voltou à Inglaterra para defender o Middlesbrough. Em meio aos empréstimos, Bolasie não teve seu vínculo renovado com o Everton e acabou se transferindo em definitivo para o Caykur Rizespor, da Turquia.
Em sua chegada, a equipe não resistiu ao rebaixamento e o congolês teve de permanecer para auxiliar no retorno à elite. Apesar de um primeiro ano abaixo do esperado, ele correspondeu na temporada seguinte e foi o melhor jogador do time, marcando 17 gols em 26 jogos. No ano de 2023, Bolasie foi contratado pelo Swansea City, mas não se firmou entre os titulares do time galês.
Muito conhecido pelos entusiastas do futebol inglês, Bolasie tornou-se mais conhecido a nível mundial por um motivo inusitado: o videogame. No Fifa 15, jogo de futebol da EA Sports, o congolês era muito utilizado pelos usuários em função da sua velocidade e de sua habilidade para driblar, que era um reflexo do estilo do mesmo na vida real.
Além disso, a empresa americana inseriu no jogo um drible exclusivo para poucos atletas: o “Bolasie Flick” (toque do Bolasie). A finta foi inspirada em um lance do jogador diante de Christian Eriksen, no qual ele levanta bola, próximo da linha lateral e sai da marcação por meio de um giro. O drible virou uma marca registrada de Bolasie e segue nos jogos da franquia até hoje.
A fama dentro do mundo dos videogames ficou maior ainda em função de um fato: o jogo é do mesmo ano da melhor temporada de Bolasie. Visto que o jogador foi um dos destaques do Campeonato Inglês, ele recebeu uma “carta especial” referente a seleção dos melhores da liga. Além dele, outros 17 craques receberam a carta – uma ação comum do jogo anualmente – que busca melhorar os atributos deles dentro da realidade virtual.
Sendo assim, essa versão de Bolasie era muito superior e virou uma sensação entre os usuários do jogo, que até hoje lembram dela com muito carinho
Nascido na França, criado na Inglaterra e de origem congolesa, Yannick Bolasie poderia escolher entre as três seleções para representar. No ano de 2013, quando começava a ganhar mais minutos no Crystal Palace, recusou a convocação da República Democrática do Congo para a Copa Africana de Nações, alegando que poderia prejudicar o seu momento de crescimento no clube. Mesmo assim, meses depois ele foi novamente chamado para defender o país e pôde estrear pela seleção em um confronto contra a Líbia pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2014.
Desde então, o jogador disputou 50 partidas pela Seleção Congolesa e marcou nove gols. Além disso, foi titular do elenco que conquistou o terceiro lugar da Copa Africana de Nações, em 2015, na Guiné Equatorial, e esteve no grupo que chegou até às quartas de final da competição, em 2019, no Egito.
No dia 14 de fevereiro, o jornalista Fabrizio Romano noticiou que o Criciúma teria chegado a um acordo com Bolasie. Até aquele momento, a informação não tinha vazado para o público, e quando o italiano divulgou os detalhes, o mundo do futebol passou a acreditar na possibilidade do atleta vir ao Brasil. Desde então, o anúncio oficial era questão de tempo e dependia de questões burocráticas e contratuais.
Quase um mês depois, o congolês desembarcou no país e foi prontamente até a cidade catarinense. Por lá, ele foi avistado em um shopping, em um supermercado e em uma concessionária de carros. Além disso, o meia-atacante pôde acompanhar a partida do clube, contra o Hercílio Luz, pelas quartas de final do Campeonato Catarinense e foi recebido com festa pelos torcedores presentes no estádio. Seu primeiro treino foi na segunda-feira (18) e o anúncio oficial foi feito na noite de quarta-feira (20).
No clube catarinense, Yannick Bolasie é o sétimo estrangeiro de um elenco que tinha apenas um na temporada passada, o atacante ítalo-brasileiro Eder. Com o retorno à Série A, a equipe anunciou os zagueiros Tobias Figueiredo (Portugal) e Wilker Ángel (Venezuela), os laterais Miguel Trauco (Perú) e Yerson Candelo (Colômbia), assim como o volante Mateo Barcia (Uruguai). Dentre os citados, Ángel e Trauco foram convocados recentemente para suas seleções.
No time de Cláudio Tencati, o congolês deve jogar no ataque, tendo liberdade para criar situações de jogo pelos lados do campo. Apesar da idade (34 anos), ele segue tendo a velocidade como forma de potencializar o seu estilo de jogo, sem contar o vasto repertório de dribles que encantou os europeus e deve encantar os brasileiros.
Esta será a primeira experiência do atleta fora do futebol europeu e reforça a importância do Brasileirão como uma liga consolidada e respeitada no mundo. Além de ser uma atração do Campeonato, ele também pode servir como referência para jogadores estrangeiros que pensam em atuar por aqui no futuro.