Trivela
·19 de junho de 2021
Trivela
·19 de junho de 2021
A Hungria entrou na Euro 2020 sob enormes desconfianças. Algo natural, não apenas pensando na qualidade da concorrência, mas também nos nomes à disposição dos magiares. O maior talento da seleção local é Dominik Szoboszlai, que teve papel decisivo na classificação da equipe na repescagem, mas sofre com as lesões e sequer foi convocado. A aposta dos húngaros, assim, é mais num trabalho coletivo ferrenho sem a bola e nos respiros dos contragolpes. Neste sentido, individualmente, Roland Sallai consegue se sobressair nesta fase de grupos. O atacante já tinha sido um incômodo diante de Portugal e também causou problemas à França, dando a assistência no empate por 1 a 1 deste sábado em Budapeste.
Aos 24 anos, Sallai possui uma carreira relativamente rodada. O atacante surgiu na Puskás Akadémia, clube que disputa a primeira divisão do Campeonato Húngaro. Chegaria a passar um ano no Palermo, sem causar impacto na Serie A. Seu talento se desabrocharia mesmo no Campeonato Cipriota, vestindo a camisa do Apoel Nicósia e ganhando a chance de disputar a Champions League. Foi a chave para que o Freiburg apostasse em sua transferência. Na Bundesliga, então, o húngaro cresceu pouco a pouco nas últimas três temporadas.
O Freiburg vem de uma reformulação e, por isso mesmo, Sallai virou uma cartada do técnico Christian Streich. Num clube que sabe aproveitar muito bem jovens revelações e atletas pouco conhecidos, o atacante se desenvolve. Mais utilizado como ponta direita, o camisa 22 já tinha ganhado a posição na reta final da temporada anterior e correspondeu a confiança, se tornando um dos melhores da equipe em 2020/21. Foram oito gols e seis assistências em 28 aparições no último Campeonato Alemão, ausente apenas quando estava lesionado. Foi um dos mais efetivos no décimo colocado da competição, a ponto de ser bem avaliado pela tradicional pontuação da revista Kicker. Chegou em alta para a Euro 2020.
Ainda que seja mais utilizado na ponta em seu clube, Sallai pode entrar também como segundo atacante ou mesmo homem de referência. É assim que se encaixa no 3-5-2 da Hungria dirigida por Marco Rossi. O jovem começou a ganhar as primeiras chances às vésperas da Euro 2016, mas ficou na pré-lista ao torneio. Sua afirmação ocorreu na Liga das Nações de 2018/19, até virar titular como ponta esquerda nas Eliminatórias da Euro. Assumiu a posição de segundo atacante na repescagem para o torneio continental e não saiu mais, formando uma dupla complementar com Ádám Szalai – outro talhado na Bundesliga, atualmente no Mainz 05.
A alta de Roland Sallai tinha ficado clara na Data Fifa de março. O atacante marcou dois gols e deu uma assistência no início positivo da Hungria no qualificatório. Chegou bem para a Eurocopa e correspondeu logo na estreia contra Portugal. A movimentação e a liberdade de Sallai geraram problemas aos lusitanos. O camisa 20 seria bastante participativo, ainda que o estilo de jogo reativo dos húngaros não permitia que ele recebesse tantas bolas assim. Todavia, sua equipe acabaria desabando nos minutos finais em Budapeste e deixaria o ponto escapar. Contra a França, a história seria diferente.
Desta vez, Sallai precisou se virar sem Ádám Szalai, que saiu logo aos 23 minutos. Nemanja Nikolics não tem a experiência e a capacidade do titular. Assim, a responsabilidade de Sallai seria maior e o camisa 20 correspondeu. A facilidade para jogar de ambos os lados permitiu que o atacante explorasse principalmente as costas de Benjamin Pavard, que subia bastante pelo lado direito francês. Sua circulação era um problema e gerava perigos aos adversários. Não à toa, grande parte dos lances ofensivos dos magiares passavam por Sallai e ele sofreria muitas faltas. Mas não fugiu do pau e correspondeu criando chances à sua equipe.
A leitura de jogo de Sallai teria grande papel no gol que abriu o placar para a Hungria. Na origem da jogada, Ádám Nagy inverteu a bola e Attila Fiola ajeitou de cabeça. Sallai foi muito bem para se aproximar e, sentindo a chegada de Raphaël Varane, logo dar uma devolução de primeira ao companheiro. Mesmo tomando uma pancada do zagueiro, o segundo atacante abriu o caminho para o ala esquerdo disparar e fuzilar Hugo Lloris. Foi uma ótima assistência. Já no segundo tempo, a França até empatou, mas Sallai permaneceu como um ímã no ataque magiar, se apresentando e fazendo crer que a vitória seria possível. Não veio, mas nada que diminua seu moral pela tarde positiva na Puskás Arena.
No fim das contas, o sucesso de Sallai na Euro 2020 parece até honrar o sobrenome da família. O atacante é filho e sobrinho de jogadores de futebol. O pai Tibor teve uma carreira mais limitada, embora tenha atuado por clubes tradicionais, incluindo o Honvéd. O destaque da família era mesmo o tio Sándor, multicampeão pelo Honvéd e zagueiro da seleção em duas Copas, 1982 e 1986. A posição e a habilidade são diferentes, mas o orgulho permanece pela segunda geração.
A Hungria passa à terceira rodada da Eurocopa com chances. E o encontro com a Alemanha em Munique será especial a Sallai, considerando seu desenvolvimento na Bundesliga. Além do mais, o jogo pode se encaixar favoravelmente ao atacante, considerando o que se viu dos alemães na estreia. Com uma defesa mais lenta e buracos nas costas de Joshua Kimmich na ala direita, o camisa 20 tende a encontrar boas brechas. Com a classificação ou não, certamente sairá da Eurocopa bem mais considerado pelos compatriotas. E, aos 24 anos, terá lenha para queimar na equipe nacional. Quem sabe, para se tornar uma das referências também quando Szoboszlai voltar.