Calciopédia
·13 de abril de 2022
Calciopédia
·13 de abril de 2022
Reserva de Gianluigi Buffon e Angelo Peruzzi, Marco Amelia foi o terceiro goleiro escolhido pelo treinador Marcello Lippi para representar a Itália na Copa do Mundo de 2006. Do banco de suplentes, viu seus companheiros alcançarem o tetra, em meio à desconfiança da crítica especializada. Com o título, tornou-se o único jogador campeão mundial enquanto defendia o Livorno. Aliás, Amelia marcou seu nome na história do clube toscano, a ponto de ser considerado um dos grandes ídolos da torcida. Também foi o primeiro arqueiro italiano a balançar as redes em competições europeias.
Amelia cresceu na comuna de Frascati, situada em Roma. Foi lá onde iniciou sua trajetória no mundo do futebol. Mas não pense que ele começou catando logo de cara. Nas categorias de base da Lupa Frascati, seu clube de formação, Marco jogava na outra extremidade do campo. Aos chegar às divisões inferiores da Roma, em 1991, aos 9 anos, o garoto também foi escalado no ataque, mas encontrou seu lugar mesmo debaixo das traves. Não à toa, em 1998, recebeu sua primeira convocação à seleção italiana sub-15.
O arqueiro brilhou no time Primavera romanista, o último degrau antes de alcançar a equipe profissional, e, assim, cavou sua vaga no elenco principal da Loba, em 2000-01. Amelia estava atrás de Francesco Antonioli, titular, e Cristiano Lupatelli, reserva imediato, na hierarquia da posição na campanha que culminou no terceiro scudetto da história da Roma. Como era de se imaginar, o jovem não entrou em campo naquela temporada.
Amelia amadureceu no Livorno e se tornou o maior goleiro da história do clube (AFP/Getty)
Prodígio sem espaço no clube da capital, Amelia foi negociado, no verão europeu de 2001. O então presidente do Livorno, Aldo Spinelli, viu potencial no romano e o contratou, por empréstimo, para fazer sombra ao titular Andrea Ivan. Em seu primeiro ano na Toscana, o novo reforço entrou em campo uma vez na Serie C1: jogou 22 minutos na vitória por 3 a 0, em casa, sobre o Alzano Virescit, pela última rodada do campeonato – os labronici ganharam aquela edição do certame e voltaram à segunda divisão após três décadas.
Para o esperado regresso à categoria, a diretoria do Livorno contatou a Roma e comprou Amelia em definitivo. Com fome de mostrar serviço, o goleiro ganhou a vaga de titular no time toscano, à época comandado por Roberto Donadoni. Disputou 35 jogos na segundona, obteve 10 clean sheets (partidas sem sofrer gols) e ajudou a equipe amaranto a permanecer bem distante da zona de descenso, concluindo o campeonato no 10º lugar. É bom lembrar que aquela Serie B 2002-03 contava com participantes bem tradicionais, o que aumentou o sarrafo do torneio. Napoli, Genoa, Sampdoria, Palermo, Cagliari e Verona foram alguns dos rivais dos toscanos.
À medida que disputava sua primeira temporada inteira como titular, Amelia reconquistou sua vaga nas seleções de base da Itália, já que ele havia sido deixado de lado enquanto estava na reserva do Livorno, na terceira divisão. Entre 2002 e 2003, ele defendeu os azzurrini nas Eliminatórias para o Europeu Sub-21, fazendo parte do onze inicial do time treinado por Claudio Gentile. Com Marco debaixo dos postes, a Itália se classificou para o torneio e o venceu, na Alemanha, em 2004. No mesmo ano, ele também participou da campanha italiana que resultou em medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Atenas; mas dessa vez como reserva de Ivan Pelizzoli.
Durante sua militância no Livorno, o goleiro chegou à seleção e se sagrou campeão mundial (Getty)
Depois de fazer uma grande temporada 2002-03 pelo Livorno, o clube da Toscana recebeu propostas por Amelia. O visado goleiro, que teve seu nome ligado a Real Madrid, Manchester United, Milan e Parma, arrumou as malas e partiu para o Lecce, por empréstimo. Na Apúlia, localizada no “calcanhar” da Bota, Marco alcançou rápida titularidade pelos giallorossi. Porém, permaneceu apenas até janeiro de 2004, pois acabou sendo repassado ao Parma, onde se tornou reserva de Sébastien Frey. Na Emília-Romanha entrou em campo somente duas vezes, antes de retornar aos amaranto para iniciar sua trajetória rumo à idolatria.
Ao passo que Amelia transitava entre Lecce e Parma, o Livorno alcançou a promoção para a elite do futebol: Walter Mazzarri fez os labronici terminarem a segundona na terceira posição, conseguindo a classificação à Serie A com três rodadas de antecedência. O clube toscano não disputava a primeira divisão havia 55 anos. Na temporada 2004-05, um já maduro Marco assumiu a meta da equipe, com a camisa de número 1, e virou uma das referências do elenco. Prova disso é que ele até estreou pela seleção italiana principal, em novembro de 2005, entrando na vaga de Cristian Abbiati no decorrer de um amistoso contra a Costa do Marfim, encerrado em 1 a 1.
Após ajudar o Livorno a escapar do rebaixamento na Serie A 2004-05, o arqueiro romano atravessou o auge de sua carreira em 2005-06. Ele alcançou 16 jogos sem sofrer gols, mostrando ser uma peça fundamental da equipe amaranto. Os labronici concluíram aquele campeonato na nona colocação, mas, depois da sentença do escândalo Calciopoli, ficou decretado que o clube terminaria o certame no sexto lugar. Com isso, os toscanos acabaram se classificando à Copa Uefa.
Após o rebaixamento do Livorno, Amelia teve curta passagem pelo Palermo (imago/IPA)
O brilho no Livorno o colocou na Copa do Mundo de 2006, como terceiro goleiro do plantel escolhido pela comissão técnica de Lippi. Não entrou em campo, mas sentiu o gostinho de ser campeão mundial. Nenhum outro jogador do clube amaranto atingiu tal feito. Com a aposentadoria de Peruzzi – reserva imediato de Buffon na Nazionale – em 2007, Amelia se tornou o segundo arqueiro da seleção italiana e carimbou sua vaga na Eurocopa de 2008 e na Copa das Confederações de 2009.
De volta ao Livorno após a glória com a Squadra Azzurra, Marco entrou para os registros históricos. É que ele anotou um gol de cabeça contra o Partizan Belgrado, na Sérvia, e se tornou o primeiro goleiro italiano a marcar um tento em competições europeias. O tento saiu a dois minutos do fim do jogo, válido pela fase de grupos da Copa Uefa. “Ninguém tinha me pedido para ir para o ataque. Eu segui meu instinto”, declarou Amelia. “Aliás, alguns colegas me pediram para permanecer na meta, mas não prestei atenção porque não queria perder”, acrescentou.
Em 2006, o camisa 1 amaranto concorreu ao prêmio de melhor goleiro da Associação Italiana de Jogadores, a AIC, junto de seus colegas de seleção italiana, Buffon e Peruzzi. O arqueiro juventino levou o troféu – Buffon, aliás, é o maior ganhador do prêmio, com oito triunfos. Amelia manteve o bom nível pelo Livorno nas temporadas seguintes, mas o time perdeu peças importantes – o artilheiro e ídolo Cristiano Lucarelli foi a principal delas – e acabou rebaixado à segunda divisão ao fim da Serie A 2007-08.
No Genoa, Amelia substituiu o brasileiro Rubinho (imago/AFLOSPORT)
A queda para a segunda divisão foi demais para Amelia, um dos poucos destaques da equipe. Assim, depois de 187 jogos e boas histórias na Toscana, ele deixou o clube – até hoje, é um dos 10 atletas que mais representaram os amaranto na elite italiana. Assinou um contrato de quatro anos com o Palermo, em junho de 2008. O então comandante das águias, Davide Ballardini, logo o promoveu a titular, deixando Alberto Fontana, querido pelos torcedores rosanero, no banco. A confiança da torcida em Marco aumentou depois que o arqueiro defendeu um pênalti de Ronaldinho Gaúcho, na vitória por 3 a 1 sobre o Milan, no Renzo Barbera, pela 14ª rodada da Serie A. Porém, o romano permaneceu apenas uma temporada na Sicília.
Em agosto de 2009, Palermo e Genoa selaram uma troca: Amelia vestiria rossoblù, enquanto o brasileiro Rubinho faria o caminho inverso – a agremiação de Gênova ainda precisou desembolsar 5 milhões de euros. O romano esteve sob as traves do grifoni durante a maior parte da temporada, ainda que o técnico Gian Piero Gasperini tenha dado oportunidades ao rival de Marco por uma vaga no gol, Alessio Scarpi. Assim como ocorrera na Sicília, o goleiro não ficou mais que um ano na Ligúria. E, além disso, parou de ser convocado à seleção italiana – o amistoso contra a Nova Zelândia, em junho de 2009, foi sua última aparição com a Nazionale.
A agremiação seguinte de Amelia foi o Milan, com o qual obteve relativo sucesso, apesar do status de reserva de Abbiati. Aliás, o Diavolo nutria um interesse antigo pelo arqueiro. Em 2003, a imprensa esportiva italiana noticiou que os rossoneri viam no romano um possível sucessor de Dida. Ele reforçou os lombardos sob a condição de empréstimo com opção de compra, à medida que Marco Storari se transferiu à Juventus. Em Milão, o camisa 1 jogou pela primeira vez a Liga dos Campeões. Inclusive, sua estreia pelo time milanês ocorreu justamente na maior competição de clubes do mundo, contra o Real Madrid, no Santiago Bernabéu, derrota por 2 a 0. Abbiatti estava indisponível para o duelo. Em junho de 2011, a diretoria milanista o adquiriu em definitivo junto ao Genoa.
Na fase final da carreira, o goleiro foi reserva do Milan por quatro temporadas (imago/AFLOSPORT)
No Milan, não teve a chance de ser titular indiscutível, mas não foi um daqueles goleiros reservas que quase nunca entram em campo. Uma vez que Abbiati se lesionava com certa frequência, Marco – se disponível – era sempre acionado por Massimiliano Allegri, então treinador do Diavolo. De qualquer forma, Amelia conquistou, em San Siro, seu título mais importante a nível de clubes, a Serie A 2010-11. A Supercopa Italiana 2011, vencida sobre a rival Inter, também entra em seu currículo.
Em sua última temporada no Milan, Amelia chegou a usar a faixa de capitão no empate por 1 a 1 com a Lazio, no Olímpico, pela 29ª rodada da Serie A. Deixou o clube ao fim de 2013-14, aos 32. Em quatro anos de rossonero, foram 41 jogos e dois troféus conquistados. Depois da aventura por Milão, o goleiro teve passagens relâmpagos por Rocca Priora (time da sexta divisão do qual é presidente honorário), Perugia, Lupa Castelli Romani, Chelsea e Vicenza, de modo a ter realizado somente quatro partidas e sofrido cinco gols entre 2014 e 2017. Ele pendurou as luvas aos 35.
Amelia pode até ter se aposentado dos gramados, mas não se afastou do futebol. O ex-goleiro se capacitou em Coverciano, a maior escola de treinadores do mundo, e obteve a licença Uefa A, que o permite comandar equipes em várias divisões e ser auxiliar técnico nas séries A e B. Curiosidade: Marco se formou na mesma turma de Luca Toni e Mauro Camoranesi, também vencedores da Copa do Mundo de 2006.
Na função de técnico, Marco esteve à frente de quatro agremiações: Lupa Roma (2018-19), Vastese (2019-20), Livorno (2021) e Prato (2021), mas não emplacou em nenhum desses times. Com as luvas penduradas, o ex-arqueiro também atacou de comentarista de futebol, analisando jogos pelas emissoras Rai e Mediaset e pelo canal temático da Roma, a Roma TV.
Marco Amelia Nascimento: 2 de abril de 1982, em Frascati, Itália Posição: goleiro Clubes como jogador: Roma (2000-01), Livorno (2001-03 e 2004-08), Lecce (2003-04), Parma (2004), Palermo (2008-09), Genoa (2009-10), Milan (2010-14), Rocca Priora (2014-15), Perugia (2015), Lupa Castelli Romani (2015), Chelsea (2015-16) e Vicenza (2017) Clubes como treinador: Lupa Roma (2018-19), Vastese (2019-20), Livorno (2021) e Prato (2021) Títulos como jogador: Serie A (2001 e 2011), Serie C1 (2002), Europeu Sub-21 (2004), Bronze Olímpico (2004), Copa do Mundo (2006) e Supercopa Italiana (2011) Seleção italiana: 9 jogos