Portal dos Dragões
·18 de novembro de 2024
Portal dos Dragões
·18 de novembro de 2024
Nuno Ribeiro, que prestou declarações pela primeira vez no julgamento da operação ‘Prova Limpa’, que envolve 26 arguidos, incluindo ex-ciclistas, e que decorre num pavilhão anexo ao Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira, solicitou que a sua intervenção fosse feita na ausência dos outros arguidos, alegando ter enfrentado “pressões e ameaças”, incluindo de Adriano Teixeira de Sousa, que é igualmente arguido e conhecido como Adriano Quintanilha.
O vencedor da Volta a Portugal de 2003 começou a sua intervenção a ler uma declaração escrita, na qual admite que o seu único erro foi ter consciência do que se passava na equipa e não ter conseguido dizer não, uma vez que dependia economicamente do seu cargo, rejeitando a acusação de que era o “cérebro” do esquema de consumo de substâncias dopantes, atribuindo essa responsabilidade ao então proprietário da W52-FC Porto.
Nuno Ribeiro enfatizou que nunca solicitou, incentivou ou forçou qualquer ciclista a utilizar substâncias dopantes, reconhecendo, no entanto, que alguns o procuravam para saber como podiam “tomar doping” sem serem apanhados.
Ribeiro garantiu que nunca utilizou a sua posição para que os ciclistas “tomassem doping”, mas apenas para os ajudar a serem melhores, enfatizando que os aconselhava a não consumirem determinadas substâncias, que “usavam como entendiam”.
“Não me senti um criminoso. Fui fraco por ter cedido. Deveria ter dito não e não [ao doping]. Sinto-me triste e arrependido. Reconheço o quanto errei e peço desculpa à sociedade, a todos, mas especialmente aos meus atletas”, afirmou, de forma emocionada, acrescentando que nunca comprou ou vendeu substâncias dopantes, e solicitou ao tribunal que não o condenasse a uma pena de prisão.
Relativamente ao esquema de doping na W52-FC Porto, Nuno Ribeiro afirmou que era financiado e incentivado pelo seu então chefe, entre 2020 e 2022.
O ex-diretor desportivo revelou ao tribunal que a utilização de substâncias dopantes pelos ciclistas “era uma prática regular ao longo de toda a época desportiva” e que o financiamento para essa prática provinha do proprietário da equipa e ocorria “durante todo o ano civil”.
Além do seu salário, de acordo com este arguido, Adriano Quintanilha fornecia dinheiro, mensalmente, aos ciclistas para que pudessem adquirir substâncias dopantes, que compravam pela internet, em farmácias ou de outras formas.
Nuno Ribeiro explicou que, para “mascarar esses pagamentos”, o antigo proprietário da W52-FC Porto utilizava “ajudas de custo fictícias”, que incluíam quilómetros ou despesas pessoais, como almoços que nunca ocorreram, o que levou a defesa a solicitar ao tribunal o levantamento do sigilo bancário de uma conta da Associação Calvário Várzea Clube De Ciclismo – o clube que deu origem à equipa –, que teria sido utilizada para realizar esses pagamentos.
Nuno Ribeiro acrescentou que “a maioria” dos membros da W52-FC Porto “sabia da existência de doping e que o financiamento era feito pelo senhor Adriano”.
“Nunca tive dinheiro para o doping, nem incentivei o seu uso. Foi e sempre foi o senhor Adriano que o fez. O senhor Adriano gastava milhares de euros a patrocinar essas práticas dopantes”, afirmou o ex-diretor desportivo.
Segundo Nuno Ribeiro, o discurso de Adriano Quintanilha em todas as competições “era sempre o mesmo”, referindo-se a “ditador e mestre da manipulação”.
“O que quero, posso, mando e pago. Ele tinha conhecimento de tudo, desejava vencer a todo o custo e dizia: ‘pago para ganhar e ganho’. Lançava isso à cara dos ciclistas e ameaçava. O ambiente era insuportável”, revelou.
Ribeiro contou que Quintanilha já o tinha abordado em três ocasiões para que “assumisse toda a responsabilidade”, em troca de 2.000 euros por mês durante dois anos, o que nunca aceitou, acrescentando ter saído do seu último encontro “cheio de medo”, uma vez que Quintanilha “ameaçava, insultava e humilhava todos”.