Blog 4-3-3
·16 de outubro de 2019
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·16 de outubro de 2019
Após viver o sonho de se manter na terceira divisão na temporada 18/19, o Accrington precisa mostrar que deixou de ser famoso por ser desconhecido e que é possível ser responsável e ter sucesso num mercado cada vez mais inflacionado.
Depois de salvar-se apenas nas últimas rodadas da League One, a temporada 2018/2019 se mostra como a mais importante da historia pro time de Lancashire.
Em um ano marcado por times quase falindo devido a gestões duvidosas, o Accrington se apoia na sobriedade e planejamento de Andy Holt (seu dono) e também no apoio de sua comunidade, que sempre se mostrou leal e ligada ao time.
Holt culpa a péssima distribuição de renda da EFL e a bolha que a Premier League criou no mercado das ligas inferiores pelas dificuldades enfrentadas pelas equipes, já que os times da primeira divisão pagam salários que os menores não conseguem pagar para os jovens jogadores – que poderiam se aproveitar das ligas inferiores para ganhar minutos em campo.
O Accrington visa um trabalho de longo prazo e vem usando o aumento das verbas que recebe na League One pra aprimorar sua estrutura. Está finalmente construindo o seu centro de treinamento e apostando em obras pra comunidade pensando no lucro com aluguel de campos de futebol e salões de festas.
Estando no mesmo campeonato que o Sunderland, que mesmo em sua segunda temporada na League One recebe via “parachute payment” (valor da cota de televisão da Premier League) um valor maior que a soma dos outros 22 times de sua liga, o Accrington prefere não fazer loucuras igual o Bury fez.
Após um investimento acima de sua capacidade, o Bury teve sucesso subindo da League Two para a League One, mas pagou o preço logo depois, quando não havia dinheiro para o pagamento de salário dos jogadores e nem mesmo para bancar a energia e água do seu próprio estádio.
A grande contratação do Accrington para essa temporada, então, é a manutenção da base que fez historia conquistando o titulo da League Two e que manteve o time na League One na temporada passada. O elenco se completou trazendo jovens jogadores de times que estão fora da pirâmide do futebol inglês por empréstimo.
Algumas contrações de jogadores da non-league foram motivo de certa corneta pelos torcedores nas redes sociais após uma pré temporada com resultados abaixo do esperado.
O que comprova a afirmação de que a base esta sendo mantida é o fato de que elenco da temporada atual o conta com cinco jogadores no top 10 de quem mais vestiu a camisa do Accrington (os meio campistas Sean McConville, Séamus Conneely e Jordan Clark, o atacante Billy Kee e o zagueiro Mark Hughes). Importante destacar o fato de todos esses jogadores estarem com menos de 33 anos.
Não seria de todo ruim um pouco de sorte na jornada dessa temporada e o que estamos vendo é exatamente isso. Com a exclusão do Bury da liga, o campeonato terá um rebaixado a menos (apenas três times cairão para a quarta divisão nessa temporada). Somando à punição que o Bolton recebeu de começar o campeonato com -12 pontos por atrasar o pagamento de salário do seu elenco, o clima no Wham Stadium fica mais tranquilo e seus torcedores mais esperançosos com o restante da temporada.
Das 12 rodadas até agora o Accrington mostrou muita garra ao conseguir igualar resultados adversos mesmo estando com um jogador a menos em alguns desses jogos. No jogo contra o Wimbledon, por exemplo, o gol do empate saiu após a expulsão de seu lateral Frances-Angol. No jogo de seis gols contra o Bristol Rovers o Accrington buscou o empate depois do seu capitão Séamus Coneely ser expulso por tomar o segundo cartão amarelo aos quatro minutos do segundo tempo.
Os jogadores precisam colocar a cabeça no lugar dentro dos jogos: é o time que mais toma cartão na liga (são 22 amarelos e três vermelhos). A defesa, que mescla em seu miolo de zaga a experiência de Mark Hughes e a juventude da cria da base Ross Sykes, sofre bastante com a mudança nas laterais e vem falhando bastante. Já são 21 gols sofridos em 12 jogos números que os fazem ser a 20° melhor defesa do campeonato. Em um campeonato com jogos truncados e com baixa média de gol como a League One, uma defesa segura é garantia de pontos preciosos que vem escorrendo pelos dedos do time vermelho.
Por outro lado, o ataque que tem sido o salvador da pátria, ainda mais em momentos onde o time está atrás do placar o torcedor pode ter esperança que o time vai conseguir criar algum gol seja por meio do bom e velho kick and rush inglês ou em jogadas pelas pontas do campo onde o time se escora em seus dois jogadores mais confiáveis: Sean McConville pela esquerda e Jordan Clark pela direita.
Dos 15 gols feitos até aqui, três jogadores estão brigando pela artilharia. Quatro tentos para o centroavante de 22 anos Colby Bishop, três pra Dion Charles meia armador de 24 anos e outros três para o meia direita Jordan Clark de 26 anos.
A boa noticia é que Offrande Zanzala voltou de lesão já marcando o gol de empate na partida contra o Oxford United. É um jogador com presença de área, muita força física e que faz muito bem o pivô, jogada muito utilizada pelo professor John Coleman. Seu gol salvador coloca o Accrington na liderança da estatística de time com mais empates na liga, cinco em 12 jogos.
A situação na tabela depois de 12 rodadas é o time de Lancashire em 20°, encostado no Wimbledon que amarga a primeira posição dentro da zona de rebaixamento. A diferença de pontos para o Wimbledon é de apenas dois pontos. É uma distância pouco segura. Passar o campeonato todo numa posição tão baixa na tabela deixa o time com pouca margem para instabilidade, algo que vem sendo comum no desempenho do time.
O discurso do professor Coleman em várias entrevistas essa temporada é que está faltando um pouco de sorte ou de capricho para fechar os jogos. Já se passaram 12 rodadas e a média é de menos um ponto por jogo, o que não é suficiente pra manter o time na League One. É louvável ver o Accrington pressionando o seus adversários e finalizando mais vezes na maioria dos jogos, mas é preciso mostrar mais sangue frio pra terminar com seus 11 homens em campo e também com a vitória no placar ao fim dos 90 minutos.
O que se pode dizer até agora é que o ano mais importante da história do clube e o destino resolveu dar uma forcinha para que ele se mantenha no terceiro tier da pirâmide do futebol inglês. A administração vem sendo sóbria e segura sem cometer nenhuma loucura e vem mostrando que há um projeto sólido pro futuro do time.
Mas para que o projeto venha a dar frutos o time precisa corrigir seus erros defensivos, ter mais capricho para fechar seus jogos e se livrar da zona do perigo o mais cedo possível. Quem sabe, então, sonhar com um play off pra Championship. Tal como conseguiu embalar 14 jogos sem perder depois de janeiro na temporada 16/17 sua torcida que diz ser quem “traz todo o barulho” sonha com outra campanha assim pra colocar o novato time inglês na segundona, a um passo da gloriosa Premier League.