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Zerozero

·28 de janeiro de 2025

Sabia que o FC Porto inaugurou o mítico Delle Alpi?

Imagem do artigo:Sabia que o FC Porto inaugurou o mítico Delle Alpi?

O Benfica visita, esta quarta-feira, o Juventus Stadium para fechar a fase da liga da UEFA Champions League. Palco de boas memórias, as águias esperam poder superar a Juventus num local onde bianconeri e Torino, o eterno rival, já conviveram. Uma realidade idílica se tivermos em consideração a acesa rivalidade que opõe os maiores emblemas da cidade.

Mas a verdade é que, em tempos, Juve e Torino partilharam casa. Porque apesar de ser preenchido por rivalidades intensas e apaixonantes, o futebol italiano também é feito destes contrassensos que incluem rivais a convergir num só recinto ou jogadores a trocar um lado pelo outro na maior das normalidades. Essa normalidade anormal no epicentro das rivalidades é, porventura, o ingrediente explosivo que as torna mais especiais e, por inerência, o calcio também.


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Não nos desviemos da história. Lembra-se do mítico Stadio Delle Alpi? Temos a certeza que sim. Desenhado por Sergio Hutter e Toni Cordero e construído com o intuito de receber encontros da fase final do Campeonato do Mundo de 1990, o recinto de 69 mil lugares foi casa para os dois rivais de Turim entre 1990 e 2006. Foi também um estádio envolto em polémica e alvo de muitas críticas por variados motivos.

Apesar de ter sido construída uma pista de atletismo em torno do relvado e da intenção em tornar o estádio capaz de receber grandes eventos, tal nunca aconteceu por um «pequeno» detalhe: a falta de uma pista de aquecimento. O recinto foi ainda muito criticado pela má visibilidade causada pela distância entre as bancadas e o relvado, separados por um imenso mar cor de canela. Os painéis publicitários, que se posicionavam como ondas nazarenas que tapavam a visão dos espetadores nas primeiras filas, também não ajudavam.

Tudo isto, aliado ainda ao facto de a localização do estádio ser na periferia de Turim, levou a que as assistências nunca fossem propriamente altas. O Juventus - Sampdoria, dos quartos de final da Coppa Italia 2001/02, teve somente 237 pessoas nas bancadas. Uma maravilhosa obra de arquitetura, sem dúvida, mas com inúmeras falhas no que toca à experiência do público.

Um recinto com toque portista

O que torna a história do Stadio Delle Alpi relevante para o momento atual é que este deu lugar ao Juventus Stadium, onde o Benfica joga esta quarta-feira. O mesmo local onde se desenhou a curta história de vida do Delle Alpi, falecido ainda antes de atingir a maioridade, com apenas 16 anos, é o local onde agora se constrói a história da vecchia signora, já sem a necessidade de dar trabalho extra ao staff para trocar o preto e branco pelo bordeaux - e vice-versa - nas paredes do balneário todas as semanas.

Um dado interessante e que poderá passar em claro é que na inauguração do Delle Alpi esteve... o FC Porto. 31 de maio de 1990. Quase dois anos depois da primeira pedra ser lançada, em junho de 1988, o recinto transalpino abriu as portas pela primeira vez e presenteou os adeptos com um confronto entre os dragões e uma equipa composta por um misto de jogadores da Juventus e do Torino.

Haris Skoro, atacante jugoslavo que representou o Torino entre 1988 e 1991, foi o rei da festa. Perante mais de 41 mil adeptos, Skoro tornou-se no primeiro marcador da história do recinto. Entusiasmado, arrancou para um hat-trick perante Vítor Baía ainda na primeira parte, que terminou com Geraldão a reduzir para os azuis e brancos.

Na etapa complementar, o defesa brasileiro assinou um segundo golo e deixou o encontro novamente em aberto. Não que o mais importante fosse o resultado em dia de festa, mas os italianos fizeram por dar a prenda à massa adepta e venceram por 4-3, isto porque Angelo Alessio fez o 4-2 antes de Rui Águas fechar as contas.

Marcou dois golos, mas...

...não se lembra. É caricato, no mínimo, mas verdadeiro. Quisemos recuar no tempo e procurar mais pormenores sobre aquele 31 de maio de 1990. Lembra-se de termos dito que o facto de ter sido o FC Porto a inaugurar o Delle Alpi é um dado que pode passar em claro? Quem melhor do que uma das figuras desse dia para comprovar isso mesmo...

Olhando a um registo em vídeo onde é possível ver os golos, rapidamente chegámos à conclusão que Geraldão fora o autor de dois dos golos portistas, ainda antes de a nossa investigação nos levar a esbarrar em cheio na ficha de jogo que atesta esse facto. Era, por isso, a pessoa ideal para nos contar mais sobre o momento.

Entre a descoberta e o contacto com o antigo defesa, vencedor da Intercontinental e da Supertaça Europeia pelos dragões e hoje com 61 anos, não foi preciso muito tempo. A simpatia vinda do outro lado do Atlântico foi contagiante. «Que bom falar convosco. Como estão?»

Feitas as introduções, marchámos para o que realmente interessa. E foi aqui que, com uma simplicidade e honestidade que rapidamente se percebe que lhe são caraterísticas, Geraldão nos desarmou por completo: «Eu não tenho a certeza se joguei em Turim. Já faz muito tempo. Nem me lembro de ter feito dois golos», disse-nos entre risos. «Vocês são as melhores pessoas para saber com certeza, procurando a veracidade dos factos, mas gostaria de saber desse jogo...»

Não foi preciso dizer mais nada. Rapidamente enviámos o vídeo com os golos, o mesmo onde descortinámos Geraldão a ludibriar Luca Marchegiani com um penálti clássico - bola para um lado e guarda-redes para o outro - e a encher o pé quase do meio-campo num livre direto que terminou em frango do tamanho do estádio de Adriano Bonaiuti.

A resposta foi imediata. «Sou eu mesmo! Por incrível que pareça, não me lembrava desse jogo. Já faz tanto tempo... Nem me lembrava que tinha sido a inauguração do estádio», disse-nos. A conversa ficou por ali, mais curta do que o inicialmente planeado e garantidamente com um conteúdo muito diferente do que estava na nossa mente, mas igualmente rico pela ímpar história.

Dez dias depois, o Stadio delle Alpi abriu as portas para o encontro de estreia do Brasil no Itália'90, frente à Suécia. De um lado e do outro, muitos jogadores que, à data, vestiam a camisola do Benfica: Ricardo Gomes, Valdo, Jonas Thern e Mats Magnusson. Também Carlos Mozer, Stefan Schwarz e Glenn Strömberg, uns que já tinham deixado a sua marca na Luz e outros que viriam a deixar.

Antes de uma imensa marca benfiquista ter pisado aquele relvado pela primeira vez em jogos oficiais, contudo, já os dragões tinham feito o test-drive. Seja como for, a feijões ou a doer, os primeiros pontapés no relvado onde mais tarde brilhou Cristiano Ronaldo e onde agora brilham tantos outros têm e sempre terão ligação a Portugal.

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