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·14 de fevereiro de 2025

Torcedor do Botafogo, cineasta Cacá Diegues morre aos 84 anos

Imagem do artigo:Torcedor do Botafogo, cineasta Cacá Diegues morre aos 84 anos

Cacá Diegues morreu na madrugada desta sexta-feira, 14, aos 84 anos, no Rio de Janeiro. O cineasta teve “complicações cardiocirculatórias” às vésperas de uma cirurgia na Clínica São Vicente, bairro da Gávea, zona sul da cidade. Carlos José Fontes Diegues foi um dos fundadores do Cinema Novo e herdava uma paixão avassaladora pelo Botafogo.

O velório do cineasta acontecerá na manhã deste sábado, 15, no local que o imortalizou: na Academia Brasileira de Letras (ABL). Na sequência, o corpo será velado no Caju. O diretor deixa quatro filhos, sendo dois deles do casamento com a cantora Nara Leão. Ele vivia com a produtora de cinema Renata Almeida Magalhães desde 1981 e tinha três netos.


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Nascido em Maceió no dia 19 de maio de 1940, Cacá se mudou para o Rio ainda muito jovem, aos seis, e viveu boa parte da vida no bairro de Botafogo, na Zona Sul da capital – o que, por si, justifica o início da relação com o clube. O diretor ainda fez mais de 20 filmes de longa-metragem no decorrer da carreira, alguns emblemáticos como “Xica da Silva” e “Bye Bye Brasil”.

Cacá Diegues e o “seu” Botafogo

O artista dedicou inúmeros artigos no jornal ‘O Globo’ ao futebol, mas especialmente ao Glorioso. Seus textos enalteciam a história do clube de coração e também tratavam da dificuldade nos tempos mais árduos, mas que, ainda assim, se fazia feliz em amá-lo. Há quatro semanas, seu último texto sobre o preto e branco.

“Enebriado com as alegrias botafoguenses, me flagrei pensando no motivo de ter me tornado um deles. Meu primeiro time? CRB de Alagoas. O CRB já tinha algum alinhamento com o Botafogo. O CSA tinha mais popularidade, uma espécie de filial do Flamengo. Minha família se mudou para o Rio quando tinha uns 7 anos, na metade final dos anos 1940. Meu pai, CRB como eu, logo virou Fluminense, time que meu irmão mais velho, Fernando, também abraçou. Minha mãe tinha muito medo da violência e não me deixava ir além do bairro onde morávamos, Botafogo”, contou.

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Botafoguense, o diretor narrava constantemente seu amor pela estrela solitária – Foto: Divulgação/eloaudiovisual

“Do final da minha infância até o começo da adolescência, assistir aos treinos do Botafogo e frequentar os cinemas do bairro representava meu mundo. A poucos passos de onde morava podia ver Garrincha e Nilton Santos batendo bola. Podia também ver os filmes que chegavam de toda parte do mundo, mas majoritariamente americanos. O encanto pelo Botafogo foi inevitável e à primeira vista”.

Por fim, descreveu: “Alguns nos chamam de time dos intelectuais, outros dos deprimidos, muitos criticam nossas superstições. Mas de fato nenhum time fez tantos craques capazes de revolucionar o futebol. E nenhum outro time ousou usar uma estrela como símbolo, deixando para lá suas iniciais. Não precisa. Quem é Botafogo sabe que somos únicos, jamais solitários”.

“Ninguém ama como a gente”

O cineasta tratava o Botafogo como algo com “um herói” – palavras do próprio. Nesse texto, por exemplo, ele deu um esboço sobre o sentimento de viver o espetacular ano de 2024 do clube e tratou sobre a derrota no Mundial.

“Só o que faltava! O Botafogo já tinha conquistado o título da Libertadores, tinha agora a possibilidade de, em uma tarde, se tornar também o campeão brasileiro do mesmo ano, este ano que acabamos de viver com uma certa e mesma ansiedade, o ano de 2024. Se isso fosse possível e se tornasse uma realidade, o Botafogo estaria consagrado como a estrela maior do Brasil e das Américas. Prontos para enfrentar os inimigos clássicos dispostos direta ou indiretamente pelo famigerado Guardiola ou pelo revoltante Ancelotti”.

“Mas de qualquer forma, o Botafogo não enfrentaria, pelo menos na primeira fase da Copa Intercontinental da FIFA, o Real Madrid. Mas no meio do caminho tinha a comemoração do título inédito, muitas horas de voo e fuso horário desumano. Só milagre! (…) No Brasil, então continuamos nossa caminhada, chicote embaixo do braço. Só pensando nesse momento que nos chega agora, como glória atrasada e muito bem merecida”.

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O diretor morreu aos 84 anos, no Rio de Janeiro – Foto: Walter Craveiro/Flickr

Academia Brasileira de Letras

A ABL se manifestou sobre a morte do diretor, considerado pela instituição como “um dos grandes nomes do cinema nacional”.

“Sua obra equilibrou popularidade e profundidade artística, abordando temas sociais e culturais com sensibilidade. Durante a ditadura militar, viveu no exílio, mantendo-se sempre ativo no debate sobre política, cultura e cinema. A ABL expressa solidariedade à esposa, Renata Almeida Magalhães, e aos filhos”, publicou a instituição.

Outros de seus filme: “Ganga Zumba” (1964); “Os herdeiros” (1969); “Joanna Francesa” (1973) e “Chuvas de verão” (1978). A lista segue com  “Quilombo” (1984), “Um trem para as estrelas” (1987), “Orfeu” (1999), “O maior amor do mundo” (2005) e “O grande circo místico” (2018).

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