Zerozero
·12 Februari 2025
Zerozero
·12 Februari 2025
Que difícil, este jogo de xadrez! O Boavista, que já foi grão-mestre no futebol português, está agora afundado na última posição da tabela da Liga, seis pontos abaixo das posições mais confortáveis. Puro zugzwang, quando circunstâncias já penosas parecem fáceis de piorar com um movimento em falso, mas, a 13 jornadas do fim, foi colocada em jogo uma nova variável...
O nome é Lito Vidigal e o treinador de 55 anos não é peça nova no contexto deste campeonato. Pelo contrário. Costuma chegar ao tabuleiro numa fase adiantada do jogo, geralmente quando há uma equipa necessitada de um tónico na batalha pela manutenção. Mesmo «necessitada» soa a pouco, quando provavelmente queremos dizer «desesperada».
Não é uma circunstância nova para o treinador, que ganhou fama precisamente nesses cenários e até já se conseguiu provar no Bessa, há cinco anos. A propósito disso, o zerozero optou por recordar algumas das últimas vezes que o técnico angolano foi chamado a tentar uma great escape, com sucesso variado. Afinal, a reputação é justa ou não?
NOTA: Para o efeito desta análise, incluímos apenas as temporadas em que este treinador assumiu o comando de uma equipa com uma temporada já a decorrer. Mesmo nesse cenário em específico, não fomos além das últimas duas décadas.
Ao fim da 27ª jornada da última temporada de II Liga, Lito Vidigal agarrou num Feirense que estava em 15º lugar, apenas um ponto acima dos lugares de potencial descida.
Somou seis pontos nos últimos sete jogos e acabou um lugar atrás, em 16º, mas conseguiu garantir a manutenção de forma dramática na segunda mão do playoff: histórica vitória por 3-0 sobre o Lusitânia de Lourosa, rival concelhio, depois de um 1-0 para a equipa do terceiro escalão no primeiro jogo.
Os resultados foram tremidos, no mínimo, mas o objetivo principal - manutenção - acabou por ser cumprido. Veredito: sucesso q.b.
A última passagem pela Primeira Liga, onde mais recentemente comandou o Moreirense, dificilmente podia ser mais curta. Chegou em dezembro à equipa que ocupava o 16º lugar na Liga, pediu tempo para fazê-la crescer, mas o contrato foi rescindido ao fim de apenas um mês, com os cónegos no 17º lugar e eliminados da Taça pelo CD Mafra (3-1).
Aqui, a análise é tão dura quanto fácil. Veredito: fracasso
Em julho de 2020, foi contratado pelo Vitória FC para disputar um final de temporada adiado pela Covid-19. Agarrou o 15º classificado a quatro jornadas do fim e eis que, depois de começar com duas derrotas, conseguiu um empate (0-0 em Alvalade, frente ao Sporting de Amorim) e uma vitória (2-0 à B SAD) para terminar no 16º lugar e assegurar a manutenção por apenas um ponto.
Apesar desta sua segunda passagem por Setúbal ter sido curtíssima, acabou por ter mais história. Lito Vidigal aceitou o cargo sem qualquer salário - «Malditos sejam aqueles que se negam aos seus em horas apertadas» chegou a dizer, citando Miguel Torga - e com a promessa de um prémio de 100 mil euros em caso de permanência.
Essa foi assegurada em campo, como referimos acima, mas a Liga chumbou o processo de licenciamento do clube, por considerar que os sadinos não cumpriam os requisitos necessários para serem inscritos nos campeonatos profissionais. Foram, por isso, enviados para o Campeonato de Portugal, enquanto o Portimonense beneficiou e manteve a vaga na Primeira Liga.
Embora o Vitória FC tenha tecnicamente descido de divisão, o treinador fez a sua parte, tanto que conseguiu até um cargo na Primeira Liga para o início da temporada seguinte (no Marítimo). Veredito: sucesso q.b.
Dois dias depois de ter terminado a sua primeira passagem pelo Vitória FC, em janeiro de 2019, Lito Vidigal iniciou a sua primeira passagem pelo Boavista, quando a segunda volta do campeonato estava numa fase inicial. Foi, então, o sucessor de Jorge Simão.
Encontrou os axadrezados na 16ª posição da Liga e levou-os a nove vitórias nas 15 jornadas finais, incluindo uma série de 10 pontos em 12 possíveis a abrir a sua ligação ao clube e de quatro vitórias consecutivas para fechar a temporada. Sendo que só os três ditos grandes fizeram mais pontos nesse período, o Boavista conseguiu acabar 2018/19 num impressionante oitavo lugar.
A boa prestação nesta passagem pelo Bessa justifica também esta nova aposta contemporânea. Veredito: sucesso
Em outubro de 2017, Lito Vidigal foi anunciado para assumir o comando técnico do CD Aves, que nessa altura, ao fim de oito jornadas, segurava a lanterna vermelha da Liga Portuguesa. Até janeiro conseguiu somar oito pontos e levar o clube até ao 16º posto, mas foi nesse mês que lhe foi instaurado um processo disciplinar interno por não ter cumprido as ordens da administração.
Conseguiu, ainda assim, passar quatro rondas da Taça de Portugal, chegando às meias-finais. José Mota, o seu sucessor, fez o resto: eliminou o Caldas e bateu o Sporting (2-1) no Jamor.
Pela mão que deu na Prova Rainha, é difícil não atribuir mérito a Lito Vidigal nesta passagem pela Vila das Aves. Ainda assim, é difícil classificar esta aventura como um sucesso... Veredito: fracasso q.b.
Agarrou o Belenenses quando ocupava o penúltimo lugar ao fim de 23 jornadas e conseguiu, com três vitórias, dois empates e duas derrotas (apenas com FC Porto e Sporting), a manutenção de forma tranquila.
Na temporada seguinte manteve os bons resultados e ao fim de 25 jornadas os azuis estavam no sétimo lugar da tabela, mas a ambição nem sempre foi a mesma que a da direção e, depois de choques com o presidente Rui Pedro Soares, acabou por deixar o cargo de forma surpreendente.
Foi o tipo de prestação que começou a alimentar a fama de um treinador talhado para escapar a situações difíceis. Veredito: sucesso
Saberemos em breve se a nova passagem pelo Boavista será considerada a longo prazo como um sucesso ou fracasso, mas sabemos desde já que essa consideração dependerá, acima de tudo, da continuidade do clube entre a elite do futebol nacional. A primeira boa notícia já chegou esta terça-feira, com a confirmação de que a FIFA já retirou os impedimentos e as panteras estão a trabalhar para poderem voltar a inscrever jogadores.